Caso não tenham reparado, a Marvel elaborou um plano diabólico para conquistar o mundo. Por detrás deste engenho maquiavélico está Kevin Feige, o presidente da Marvel Studios, que delineou uma estratégia sinergética entre franchises, explorando uma lógica em universo expansivo e integrado.
A Fase 1 já lá vai (apresentação dos personagens, culminada com Vingadores) e a Fase 2 está em marcha (mais uma vez, o clímax será Avengers: Age of Ultron), mas a estratégia de Kevin Feige não passa apenas por fazer “miminhos” aos fãs, a máquina Marvel (sustentada pela Disney) está construída para multiplicar dinheiro. Além das bandas-desenhas, merchandising e programas de televisão, o cinema revela-se como o pilar mestre deste plano – a receita de Iron Man 3 superou mil milhões de dólares, suficiente para pagar o investimento da Fase 2 – conjugando personagens tridimensionais com o cinema de acção, consolidando o fenómeno dos super-heróis numa realidade incontornável do cinema moderno. Agora, a conta bancária da Disney tem tantas moedas de ouro como a Caixa-Forte do Tio Patinhas.
Recuando até 2011, Thor fazia a estreia cinematográfica pelas mãos do realizador Kenneth Branagh, um filme que trabalhava sobretudo o arco do personagem (Thor), um Deus vaidoso e irresponsável, que é banido para o Planeta Terra para aprender os valores da humildade, responsabilidade e solidariedade. Curiosamente, o filme reuniu consenso entre crítica e fãs, considerado como mediano e facilmente esquecível. Confesso que criou-me alguma impressão o arco do personagem principal durar apenas um fim-de-semana e Anthony Hopkins (interpretou Dr. Hannibal Lecter) verter uma lágrima a dada altura.
Thor: The Dark World mereceu uma abordagem diferente do antecessor, Alan Taylor (Game of Thrones) foi o escolhido para realizar o segundo filme, recuperando os pontos fortes do primeiro filme (elenco), mas alargando horizontes. A história remonta a Asgard, onde Thor (Chris Hemsworth) faz “coisas” próprias de um Deus (combates bárbaros interplanetários). Contudo, a vida do Deus do Trovão está incompleta, o coração bate forte por Jane Foster (Natalie Portman), mas a distância e a clivagem social (Deus do Trovão e humana) são problemáticos. Para além disso, a paz dos mundos ficará em risco quando Malekith (Christopher Eccleston) regressar de um estágio de suspensão e aterrorizar Asgard, procurando um artefacto capaz de transcender o poder de Odin.
O trabalho de Alan Taylor dá a entender que a Marvel acertou em cheio no realizador. Taylor é um craque na concepção do fantástico, conjugando na perfeição o universo da feitiçaria e da exploração espacial (fica a sensação de mistura entre Star Trek e Senhor dos Anéis). Curiosamente, e provavelmente, este universo mágico e espacial é o maior trunfo de Thor: The Dark World. Do ponto de vista técnico, há poucos elementos que abafam os efeitos especiais. A realização está certinha, a acção é interessante (se bem que por vezes seja complicado distinguir os soldados de Asgard e os restantes), a direcção de fotografia é colorida e o guarda-roupa consegue esquivar-se do absurdo.
Thor: O Mundo das Trevas supera claramente o antecessor, imprimindo o ritmo de entretenimento imposto em Avengers. O filme está longe de estar perfeito (coincidências que dispensam uma resolução mais complexa por parte do argumentista), contudo, a acção e a verosimilhança disfarçam as denominadas falhas (se Jane Foster tivesse lido a análise de Gravity no PróximoNível saberia que os seres-humanos não conseguem respirar no espaço).
Para não variar, Loki (Tom Hiddleston) reúne tempo de antena e atenção em cena. Claramente uma exigência imposta pela popularidade do personagem, embora seja pouco influente no desenrolar da história. Desta vez o vilão é Malekith, um personagem intimidante mas pouco carismático. Há vários problemas com Malekith, apesar da descrição, silêncio e subtileza (denotam o antagonista como perigoso), os diálogos em idioma alienígena distraem o espectador, arrefecendo a possibilidade de construção de empatia/antipatia com o personagem (aparentemente só dois terços dos alienígenas falam inglês).
Thor: O Mundo das Trevas está na linha de Iron Man 3. A qualidade dos filmes da Marvel segue em linha ascendente e entusiasma fãs e espectadores para as estreias de Captain America: The Winter Soldier e Guardians of The Galaxy.
Positivo
- Efeitos Especiais
- Dinâmica da narrativa
- Cameos
- Tom Hiddleston
- Lógica do Universo Expansivo da Marvel
- O universo de Thor tornou-se verosímil
- Epílogo
Negativo
- Vilão com motivações genéricas
- Stellan Skarsgård desaproveitado para comédia
- Desenvolvimento dos personagens pouco significativo
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