Não batam mais no pobre do ceguinho! O novo reboot do Quarteto Fantástico não é a causa das pragas e das doenças no mundo. No entanto, é improvável que a primeira equipa de super-heróis da Marvel tenha uma nova oportunidade no grande ecrã num futuro próximo – o enquadramento no qual o filme foi feito revelou-se letal para uma ideia com algum potencial.
Para quem não sabe, o Quarteto Fantástico narra a história de um grupo de investigadores que adquire superpoderes após o contacto com uma nuvem cósmica. O material original já sofreu adaptações cinematográficas (sofríveis e ridículas), embora os poderes não sejam assim tão espectaculares e o drama dos personagens passe pela rejeição do próprio poder (um paradoxo do encanto dos filmes com super-heróis).
O reboot recupera a história e os personagens desenvolvidos por Stan Lee e Jack Kirby, mas desta vez a causa dos poderes não é uma nuvem cósmica mas uma nova dimensão. O desenvolvimento da história passa por aprender a lidar com os superpoderes, relações entre personagens e a compreensão dos acontecimentos.
O elenco do novo filme do Quarteto Fantástico é mesmo Fantástico, com a escolha de alguns dos melhores actores da nova geração, nomeadamente: Miles Teller (Senhor Fantástico), Michael B. Jordan (Tocha Humana), Jamie Bell (O Coisa) e Kate Mara (Mulher Invisível). O restante elenco conta ainda com as participações de Toby Kebbell, Reg E. Cathey, Tim Blake Nelson, Joshua Montes, Dan Castellaneta e Owen Judge.
O Quarteto Fantástico é uma boa oportunidade para distinguir dois processos distintos de uma produção cinematográfica: a realização e a edição. A realização de Josh Trank desenvolve um estilo cinematográfico cosmopolita, com grandes planos e movimentos de camera de acordo com a direcção dos personagens (menos atenta à própria acção). Para um filme com super-heróis, as cenas de acção são mornas e escassas, procurando o reboot dar mais importância às interações entre personagens.
Efectivamente, a edição é completamente alheia ao material filmado. A edição pode salvar um filme (como são os casos de Star Wars, Casino Royale, Pulp Fiction e Memento), mas não seria necessário Josh Trank lamentar no Twitter que não teve mão na montagem final, porque isso é perceptível a léguas de distância. O ritmo e a ligação entre os actos não são orgânicos e fica no ar um conflito de interesses e ideias que prejudicam o produto final. Do ponto de vista técnico, reconheço que adorei as tonalidades frias da fotografia, com os azuis a recordarem o ambiente tecnológico de Tron. Outro elemento que me agrada é o guarda-roupa, uma nova visão melhor do que o material original.
O Verão de 2015, no que toca a blockbusters, tem sido louco. Age of Ultron levou um banho de Jurassic World no box-office, as primeiras vozes que arrasaram Ant-Man afinal enganaram-se e ainda há Inside Out, uma obra-prima do cinema moderno. No caso de Fantastic Four a falta de confiança e as intrigas nos bastidores do filme revelaram-se mais emotivas do que o próprio filme, afastando os espectadores (atentos à Internet) das salas de cinema. Não obstante, confesso que até tenho simpatia pelo produto final e passo a argumentar de forma objectiva e subjectiva.
Objectivamente, a ideia de ligar o filme à ficção científica é inteligente, tendo em conta o material original; o elenco é formidável; a nova roupagem do Coisa lima as gorduras desinteressantes em torno do personagem; o início do filme estabelece bem os personagens e as respectivas motivações. Subjectivamente, gostei de onde a história veio e para onde foi (assentava bem no Universo Cinemático da Marvel), o problema foi o caminho.
Embora o reboot do Quarteto Fantástico fosse na direcção de algumas boas ideias, as boas ideias ruíram numa tremenda confusão. Se Ant-Man perdeu com a saída de Edgar Wright, ao menos a equipa liderada por Peyton Reed teve liberdade criativa dentro de objectivos balizados por Kevin Feige. Em Fantastic Four nada disso é verdade e são três filmes dentro de um… e acaba por ser nenhum.
Para quem não gostou do filme, é possível que os motivos estejam associados ao aparecimento sem preparação do vilão, com motivações e metodologia espontâneas. O filme também flui em diferentes velocidades – exposição muito respirada comparando com a precipitação do apelo da aventura. Subjectivamente, incomoda-me que os protagonistas não sejam responsáveis pelo desencadear da acção, e em Fantastic Four recorre-se à reacção em detrimento da acção.
Positivo
- Elenco
- Direcção de fotografia
- Nova versão do Coisa
- Se a Fox aprendeu a lição, vamos ter um bom filme do Deadpool
Negativo
- Trapalhadas na intriga
- Novas gravações
- Peruca da Kate Mara
- Disparidade na linguagem e no ritmo da narrativa
- Análise – Star Wars: O Despertar da Força / Star Wars: The Force Awakens - Dezembro 18, 2015
- Análise – SPECTRE - Novembro 6, 2015
- Análise – Quarteto Fantástico / Fantastic Four - Agosto 12, 2015