Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV

Depois de vários anos e vários jogos, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é o culminar da saga de Zemuria, que começa em Trails in the Sky com as aventuras de Estelle e leva à guerra aberta neste lançamento final onde decidimos o destino do mundo com a Classe VII e respectivos aliados.

Se acompanham o PróximoNível com alguma regularidade, então sabem perfeitamente que temos aqui grandes fãs desta série. Em especial, tanto eu como Mathias somos dois dos grandes “evangelistas” da saga, tentando convencer amigos e família a experimentar estes jogos. Afinal, se existe série que merecia muito mais destaque, é a série Legend of Heroes.

Mas passemos então a The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV. Tal como aconteceu entre o primeiro Trails of Cold Steel e o segundo, também o terceiro jogo deixa tudo em suspenso com um cliffhanger final onde ainda fica muito por explicar. Como já devem saber, as minhas análises não costumam ter spoilers, mas tenham em conta que poderei ter de mencionar levemente algo dos anteriores.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é, tal como prometido, o final da saga e como já se previa, as personagens do universo Trails, tanto antigas como recentes, acabam por ser absorvidas pelo conflito que Erebonia está a criar contra a república de Calvard, o que vai conduzir à guerra. Por isso mesmo, quem tiver jogado todos os jogos ou conheça a narrativa, vai apreciar muito mais este desfecho.

Em termos técnicos e no que toca à jogabilidade, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV não muda muito do que foi feito no terceiro jogo. O combate continua a ser feito por turnos com foco no posicionamento das personagens e nas resistências dos inimigos que podem abrir caminho para situações de vantagem. Algumas coisas foram aprimoradas, como o aumento dos pontos BP e da possibilidade de melhorar as Ordens dadas em combate e o regresso dos baús destinados a ser vencidos com certas personagens ou equipas.

O jogo continua a incluir um modo Turbo (High Speed) que aumenta a velocidade da jogabilidade e que permite cortar em alguma lentidão da aventura. De facto é interessante pensar como a Falcom ainda não pensou em aumentar um pouco a velocidade original tendo em conta que alguns sistemas são mesmo muito mais lentos do que deviam ser. Pode ser que com a próxima geração isso mude.

A história e a interacção com as personagens continua a ser um dos principais focos da série e como tal, preparem-se para várias horas de conversa entre personagens principais e muitas mais ainda se quiserem interagir com todos os NPC que habitam o mundo. Caso não saibam, o mundo de Zemuria segue uma linha de narrativa e cada NPC terá quase sempre algo novo para vos contar quando a história avança, o que continua a ser um trabalho de louvar.

Embora tenha vários níveis de dificuldade, notei que o jogo em si está mais desafiante. Os três jogos anteriores eram mais acessíveis em Normal, mas reparei que existem mais estratégias para cada inimigo e alguns deles usam habilidades com efeitos secundários muito mais vezes. Em especial, no início do jogo, estive às portas de morrer várias vezes com cocktails corrosivos de monstros com veneno, petrificação, paralisia, entre outros. Atenção que ainda continua a ser possível explorar combinações que nos fazem quase invencíveis, mas isso depende de cada jogador.

Como sempre, o sistema de evolução tem um retrocesso e temos de começar praticamente do início no que toca à personalização das personagens. Os quartz que conferem magia ou mais poder vão ter de ser apanhados ou criados todos novamente. Aos estilo dos jogos da série Sky, também existem agora slots para abrir e colocar Quartz mais fortes e todos podem partilhar os Master Quartz na posição secundária, o que abre portas para várias combinações de habilidades e muito mais liberdade na abordagem ao combate, o que é bastante positivo.

Algo que pode ser um bocado frustrante nestes jogos é a constante necessidade de revisitar sítios antigos novamente. A primeira parte do jogo tem poucas localizações novas e só quando o jogo começa a ganhar velocidade é que temos direito a muito mais conteúdo fresco. Isto é compensado em certa parte com reunião ou encontros com outras personagens mais antigas da série que vemos agora mais velhas e dedicadas às suas obrigações. São momentos bastante altos para quem acompanhou todos os jogos e que mexem com bastante nostalgia.

Outro ponto onde The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV não evoluiu também foi no visual. Este é o mesmo motor de jogo que foi usado para o terceiro episódio e continua a ser bastante básico, mesmo dentro do seu género. Felizmente as personagens destacam-se entre os cenários mais pobres e vazios. Ainda existem muitos NPC clonados espalhados pelo mundo, mas por outro lado temos um elenco de uma boa centena de personagens que se destacam bem.

A fluidez do jogo é bastante constante, tirando em alguns momentos onde maior actividade dita pequenos abrandamentos. Curiosamente isso não se sente quando estamos no modo “Turbo”. Encontrei alguns bugs bastante básicos e raros de detecção de colisão nos festejos das personagens e algumas pequenas gralhas na escrita. Como joguei parte do jogo ainda antes do lançamento, é provável que estas questões já estejam corrigidas por agora com algum patch.

Sonoramente, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV está ao nível do segundo jogo, sendo que tem mais música e como alguma dela é suposto ser mais épica, dá muito mais vida a este lançamento. Algumas das novas músicas são brilhantes, embora não seja tão fã da música de abertura (gostei mais da do terceiro jogo).
Por outro lado, está na altura de falar das vozes e aqui tenho muita coisa positiva a dizer, embora manchada por certos elementos. Primeiro, tenho jogado os jogos em inglês e a qualidade é bastante boa no geral, não quer isso dizer que não existam personagens com prestações vocais duvidosas. Depois temos a questão das vozes limitadas que já acontecia no terceiro jogo. Temos vários momentos onde personagens falam com voz e outras respondem em texto e momentos de conversa importante que são totalmente por texto. Tendo em conta a importância e grandiosidade do que foi feito aqui, não deixa de ser um pouco decepccionante.

Caso queiram ser mais puristas e queiram jogar com as vozes em japonês, essa opção está disponível, mas do que consegui perceber, essas mesmas limitações estão também na versão japonesa, o que indica que o produto em bruto já vinha assim do Japão e que a NISA não quis (ou não podia) ir mais além. (Talvez na versão PC/Nintendo Switch?).

Apesar de ser o último jogo da série e tenha de atar muitos nós da história, The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV ainda é dos que se consegue concluir mais depressa, andando na casa das 50 horas caso queiram fazer as coisas regulares. Quem quiser jogar Vantage Masters (o mini-jogo de cartas coleccionáveis), ir ao casino, apanhar e ler todos os livros e coleccionar tudo, então pode contar com mais do dobro do tempo de jogo.

Apesar de ser um estúdio com recursos mais limitados, é impressionante ver o que a Falcom conseguiu fazer com toda a saga Trails e como esse universo consegue ser tão vasto ao ponto de poder rivalizar com clássicos como Star Wars ou Senhor dos Anéis. A quantidade de intriga, personagens e fios narrativos dão ao mundo de Zemuria uma vida bem diferente do que estamos habituados a ver num RPG convencional. Sentimos que estamos a explorar um mundo que existe e a sua profundidade é avassaladora.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV é o culminar da saga (embora exista mais um jogo que serve como passagem de testemunho) e mesmo com algumas limitações, clichés e uma ou outra linha de narrativa menos bem conseguida, este jogo consegue reafirmar a saga Trails como uma das melhores do mundo dos videojogos. The Legend of Heroes merece muito mais atenção e destaque. Comecem por Trails in the Sky ou por Trails of Cold Steel, se gostam de RPG e de grandes narrativas, então precisam de jogar The Legend of Heroes.

Podem ler as nossas análises dos jogos anteriores aqui:
Análise – The Legend of Heroes Trails of Cold Steel
Análise – The Legend of Heroes Trails of Cold Steel II
Análise – The Legend of Heroes Trails of Cold Steel III

Opinião extra por: Mathias Marques

Catorze anos, foi o quanto esta saga durou (no seu país de origem) com um total de nove jogos, que ainda nem contou metade do que o continente de Zemuria tem para oferecer. The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV, tendo o subtítulo de “The End of Saga” no Japão, vem terminar a história do Império de Erebonia que tem vindo a ser um dos vilões desde o primeiro jogo da série, The Legend of Heroes: Trails in the Sky.

The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV não é o fim da série Trails mas sim da uma história que há muito tem estado perto do seu climax, fazendo regressar não só a velha e a nova Class VII como também os protagonistas e personagens principais dos jogos anteriores e não só. Sou uma das pessoas que passou imenso tempo a explora cada jogo e interagir com todos os NPCs, levando cada um a durar mais de 100 horas, e devido a isso fiquei bastante familiarizado com boa parte das personagens secundárias da série.

Tendo em conta que passou algum tempo entre o segundo e terceiro Trails of Cold Steel, estas personagens seguiram com a sua vida após se terem graduado da Academia Militar de Thors, e sendo este o último jogo das suas histórias, fiquei extremamente contente em ver que a Falcom decidiu dar uma voz a todos os velhos colegas de escola de Rean e também dos novos estudantes. Mesmo que por vezes o jogo salte entre diálogo e apenas texto, o facto de estas personagens terem recebido um carinho extra foi algo que deixou-me feliz.

Falando em explorar cada canto, a série Trails é conhecida por expandir os seus vários NPCs ao oferecer linhas de diálogo que vão mudando à medida que o jogo vai avançando no seu dia-a-dia. The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV ajuda um pouco nesse departamento ao agora informar a partir do mapa quais os locais que possuem novo diálogo, evitando assim que o jogador tenha de voltar a cada local e falar com todos para ver se algo mudou.

No entanto, ao contrário dos jogos anteriores, alguns destes locais por vezes acabam por não ter novo diálogo mesmo que os dias avancem, o que deixou-me um pouco desiludido pois dá a impressão de estarem todos parados no tempo mesmo tendo em conta a situação que está a ter lugar.

Mesmo que esta seja a conclusão da história de Erebonia isso não quer dizer que não haja tempo para passar o tempo livremente, e The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV adiciona uns quantos minijogos novos. Infelizmente Blade não regressa mas Vantage Masters continua presente e com novas cartas, o que aumenta a quantidade de combinações que podem fazer. Mas o meu minijogo favorito que foi introduzido neste jogo e que ainda gastei umas quantas horas foi Pom Pom Party, que é basicamente uma versão de Puyo Puyo mas com o famoso monstro Pom da série. Fico à espera que este minijogo esteja de volta no próximo lançamento da série, caso contrário irei ver-me forçado a iniciar The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV apenas para o jogar.

Sabem que tenho falado muito sobre a série, chegando até a destacar os temas dos menus iniciais de cada jogo e o significado que cada um possui. The Legendo of Heroes: Trails of Cold Steel IV não vai fugir a esse destino, mas por agora tenho apenas a dizer que a música e o seu nome “Bonds – Relations” é um dos temas de história deste jogo.

Fazendo a transição desta menção, quero por fim referir as “Bonding Events” do jogo, que desta vez simplificam a coisa ao jogador ao destacar quais eventos irão prosseguir a relação entre Rean e a personagem em questão para o passo seguinte. Outra coisa que tenho a dizer sobre estes eventos é que alguns acabam por ter muito mais importância quando comparado com os jogos anteriores, pois exploram momentos e terminam histórias de personagens que não deram para ser encaixadas na história principal.

The Legendo of Heroes: Trails of Cold Steel IV não foge ao que a série tem feito até agora, acrescentando algumas novidades e qualidades de vida ao jogo, enquanto continua a história das personagens. O terceiro jogo conseguiu vender-me não só na nova Class VII mas também todos os outros estudantes que fazem parte da escola secundária de Thors. Acompanhar o crescimento destas personagens numa altura de guerra e preocupações, incluindo a maneira em como se uném para resolver o problema é um bom final para esta história.

Positivo:

  • Narrativa épica e viva
  • Melhorias no Combate
  • Modo “High Speed”
  • Regresso de personagens de outras sagas
  • Um bom último capítulo
  • Elenco de voz regressa na maioria

Negativo:

  • Motor de jogo já mostra idade
  • Muitas conversas importantes sem voz
  • Muita utilização de cenários antigos

Daniel Silvestre
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