007 Artigo Especial 3 – O que faz um filme de James Bond ser único? (Com Rui Pereira)

Introdução

Todos estamos familiarizados com um bom par de franquias do mundo do entretenimento, desde os videojogos ao cinema, cada uma tem algo de especial, de único, que a faz destacar. James Bond não é exceção, por isso, o intuito desta terceira e última parte de artigos especiais, é dedicada a tentar dissecar aquilo que compõe um filme deste ilustre espião da sétima arte.

Tal como aconteceu no anterior, faço-me acompanhar por outro fã da Bondmania, Rui Perreira que irá também dizer de sua justiça, quanto a alguns elementos marcantes, que constituem uma experiência cinematográfica de 007. Cada um de nós irá elaborar três de seis tópicos que consideramos essenciais para entender os ingredientes da fórmula de Bond. Começo por dizer as minhas escolhas:

 

(1) Gadgets

Uma das coisas que torna ação de James Bond tão única, são os utensílios ou gadgets que o famoso agente secreto usa. Desde as mais visionárias, às mais absurdas, há de tudo um pouco. Talvez uma das ou a  mais icónica é a Walther PPK que aparece, logo no Dr. No, sendo quase uma peça essencial do vestuário de 007. Falando em armas, a Golden Gun é outro icónico símbolo da franquia. Em Tomorrow Never Dies, fomos apresentados ao aparelho, possivelmente, mais versátil, o Mobile Phone, que era capaz de fazer praticamente tudo, desde entrar um sistema informático, até servir para controlar um veículo de forma remota.

Há uns que passam completamente desapercebidos, tais como Dagger Shoe, que consiste, tal como o nome indica, num sapato que contém uma lâmina escondida, embora esta seja usada por capangas antagonistas em From Russia With Love. Outros mais óbvios, como um típico  Jetpack, em Thunderball, é ideal para escapar rapidamente num momento mais tenso. Uma pequena camara instalada é ideal, não dando nas vistas e é isso mesmo que acontece m A View To Kill com a Camera Ring.

Até o Sonic Agitator Ring, tão pequeno, mas que consegue emitir uma determinada frequência capaz de partir um vidro à prova de bala. Há medidas dos filmes, em particular na era de Daniel Craig os utensílios foram perdendo a importância, no entanto, em Quantum Of Solace, o Multi-Touch Table Computer foi possível o que mais acertou naquilo viria a ser uma realidade futura, sendo que tal aparelho é já mais do que comercializado, em tamanhos mais pequenos.

O completo oposto, é o Flying Car em The Man With Golden Gun que dificilmente irá ser uma realidade nos próximos 100 anos. Abro uma exceção, neste ponto, ao próprio Aston Martin DB5, que aparece pela primeira vez em Goldfinger, podendo ser considerado um gadget ou acessório, de grande dimensão, ao arsenal de Bond. Pois não se engane, quem pensa que se trata apenas de um veículo veloz, pois é exponencialmente letal, sendo utilizado em combate.

 

(2) Música Tema

Todos conhecemos a famosa música tema da personagem de 007. Ainda assim poucos sabem que a cada filme, uma música específica é criada para tal efeito, utilizando o título como mote para a letra da canção. Aqui, as melhores músicas são subjetivas, ficando ao gosto de cada um. São acompanhadas por várias cenas psicadélicas, que por vezes, têm pouco significado com a música ou sequer com o filme. Seja como for, a música Goldfinger por parte de Shirley Bassey, no filme de mesmo nome, marcou um padrão que foi seguido daí então, sendo GoldenEye por parte de Tina Turner, um grande sucessor dessa marca artística.

Casos como Live And Let Die são uma prova dos vários artistas de renome que já passaram pela série, desde Paul McCartney (ex-Beatle), Louis Armstrong, Carly Simon, A-ha, Duran Duran, Alicia Keys, Sam Smith, entre tantos outros. A mais infame, e a qual considero a pior entre todas, é a Die Another Day por Madonna, que embora se tente “enquadrar” no estilo musical da época, fica muito aquém do nível de impacto das restantes.

Ao contrário, a minha favorita, sem qualquer dúvidas, é a Skyfall de Adele. Não consigo exatamente dizer o porquê de o ser, apenas que me surpreendeu logo na primeira vez que a ouvi durante o filme, conseguindo ser um espelho daquilo que se estava a passar em cena, de forma bastante adequada. Lado a lado, fica também a Licence To Kill de Gladys Knight que consegue ser igualmente poderosa e explosiva como GoldenEye. Até porque a sua versão em instrumental é outra das minhas prediletas.

 

(3) Vilões

Quando You Only Live Twice, estreou nas salas de cinema, os produtores de James Bond não tinham noção do impacto da personalidade caricaturada de Blofeld. A qual deu origem a um dos estereótipos mais balados da indústria do entretenimento. O típico vilão misterioso, de grande sabedoria, com uma panóplia de recursos e meios, quase infinitos, sempre com um plano ultra extravagante de proporções inimagináveis debaixo da manga.  Casos como Dr. Claw (Inspector Gadget), Dr. Cortex (Crash Bandicoot),  Lex Luthor (Superman), Cobra (G. I. Joe), Bison (Street Fighter), Dr. Evil (Austin Powers) e Giovanni (Pokémon) são alguns exemplos dessa influência criativa, em vários tipos de obra no meio do entretenimento.

Em 007, além deste, foram vários os que marcaram pela positiva a franquia, muitos dos quais carregavam lado a lado o filme com o protagonismo de Bond. É um papel conhecido por ser interpretado por atores de renome como é o caso de Christopher Lee (Francisco Scaramanga), Javier Bardem (Raoul), Christopher Walken (Max Zorin) e até Mads Mikkelsen (Le Chiffre). Cada fã de Bond tem o seu favorito, para mim é Sean Bean em GoldenEye que leva o troféu de melhor interpretação. A personagem de Alex conseguiu deixar-me um forte impacto, foi uma excelente atuação, sendo dos poucos vilões que tinha realmente uma ligação íntima com Bond.

 

Passo agora a palavra ao Rui Pereira para dizer as suas escolhas:

 

(4) Cenas de Ação

Nenhum filme de 007 está completo sem uma épica cena de ação. Além de ser a oportunidade para Bond utilizar os novos gadgets criados por Q, a particularidade dos filmes 007 é que sempre aproveitaram para transportar o espectador para cenários exóticos e dificilmente alcançáveis pela maioria do público. São exemplo claro disso as perseguições de ski introduzidas em On Her Majesty’s Secret Service em que Bond assalta o Piz Gloria para resgatar Tracy do seu arquirrival, Blofeld.

As cenas ski retornariam em The Spy Who Loved Me, For Your Eyes Only, A View to a Kill, The Living Daylights, The World is Not Enough e Spectre, garantindo que todos os Bonds cumpririam a tradição e tinham a sua versão da perseguição na neve. Apesar de não ter os melhores filmes, Roger Moore tem indiscutivelmente das melhores cenas de ação/perseguição com especial destaque para The Man With The Golden Gun que atinge o seu auge na pirueta de 360º de carro por cima de um rio, infelizmente arruinada pelo cómico assobio.

Live and Let Die tem também um dos mais arriscados stunts de toda a saga, em que Bond arrisca fugir saltando nas costas de quatro crocodilos, seguindo-se uma das melhores cenas de perseguição de barco de toda a saga 007. Ao falar de cenas de ação é obrigatório mencionar From Russia With Love que introduz a cena icónica na cabina do comboio da noite em que Bond tenta proteger Tatiana Romanova numa rara situação de combate corpo a corpo e em que a única possível fuga parece ser obter a superioridade física.

Esta cena é mais tarde replicada em The Spy Who Loved Me e mais recentemente em Spectre. Indispensável é deixar uma menção honrosa para Thunderball que apesar de ter talvez a cena de ação mais lenta da história da saga, é também umas das mais épicas, a batalha subaquática, que é até hoje um dos grandes feitos de produção cinemática.

 

(5) Bond Girls

Introduzidas logo no primeiro filme com a deslumbrante Honey Ryder, interpretada pela Ursula Andress, é dado desde o início o mote do que se tornaria uma das maiores atrações dos filmes 007, as Bond Girls. São mulheres de beleza excecional, vulneráveis, de personalidade simples e que funcionam como pura atração, com pouca influência nas missões de Bond. Honey Ryder dá o mote saindo do mar no seu bikini branco, numa das cenas mais características e recordadas da saga 007, que certamente gastou muitas VHS no obrigatório “puxa para trás“.

Após Tatiana Romanova, numa interpretação cheia de emoção que considero ser a primeira mulher que desenvolve sentimentos em Bond, surge Pussy Galore que vem quebrar o molde da característica bond girl. Pussy é uma bond girl com personalidade forte, que é agente ativa na missão de Bond. No entanto, a marca do tempo volta a sentir-se quando Bond a converte para o seu lado através do poder da sedução.

Menção especial para Tracy Draco, a única mulher que Bond verdadeiramente amou. Foi também a mulher que, inadvertidamente, partiu definitivamente o seu coração quando após casarem morre tragicamente em estradas portuguesas. A partir daí Bond nunca se permite voltar a amar, recordando Tracy todas as vezes que lhe perguntam porque não assenta e casa.

A partir de Tracy todas as bond girls são meros casos de ocasião para Bond. Em Casino Royale, Vesper volta a abrir o seu coração, mas se considerarmos que a era de Daniel Craig é um reboot, Vesper abre o coração de um Bond que ainda não sofreu. Tragicamente, a sua maldição é novamente cumprida não o deixando voltar a amar.

 

(6) Cena de Abertura

Se há momento que mesmo os piores filmes de 007 não costumam desiludir são as cenas de abertura pré-créditos. Pequenas cenas de menos de dez minutos que introduzem o enredo que vai ocupar James Bond pelas próximas duas horas, ao mesmo tempo que reintroduzem o público à saga 007 e estabelecem o nível seriedade do filme. Introduzidas no segundo filme, From Russia With Love, uma das melhores cenas de abertura vem no quarto filme da saga, Thunderball. Esta cena tem tudo o que se pode esperar de um filme Bond.

Um cenário apenas acessível à alta aristocracia britânica; James Bond a agredir inesperadamente o que o publico acredita ser uma viúva idosa que acabou de enterrar o seu marido; uma fuga de jetpack e para terminar o icónico DB5 no auge da sua glória com todos os gadgets incluídos. Se alguma vez quiserem mostrar a alguém o que é James Bond em menos de cinco minutos, é esta cena a mostrar. Indispensável em qualquer cena de abertura é o grande stunt que apenas o nosso agente secreto favorito poderia realizar.

E é isso mesmo que Roger Moore entrega em The Spy Who Loved Me quando, após uma fuga em ski pelos alpes, atira-se de um penhasco gigantesco, retira os skis no ar e abre o característico para-quedas com a Union Jack ao som de “The Name’s Bond… James Bond“.  Anos mais tarde, GoldenEye inverte as expectativas realizando o grande stunt, desta vez feito um salto de bungee jump da barragem de Contra (Suiça), no início do filme.

O cenário é na verdade uma fábrica de armas químicas soviética e, após uma das cenas mais tensas da saga em que a vida de Bond corre claramente perigo, Pierce Brosnan volta a surpreender quando na, tentativa de fuga, o avião que era a sua única escapatória cai de um penhasco. Naturalmente, Bond não se esmorece e atira-se também para entrar no avião em queda e corrigir a trajetória antes do momento fatal. A cena de abertura é também o cartão de visita de cada filme e tem especial importância quando é introduzido um novo Bond.

The Living Daylights é talvez o filme que melhor introduz um novo Bond, ao tirar definitivamente o agente secreto da Guerra Fria, deixando para trás um desgastado Moore, e trazendo a saga para um cenário atual em que as ações de espionagem internacionais são realizadas em coordenação com a NATO. Ao mesmo tempo afirma-se como o mesmo Bond de sempre, terminando a cena com um grande stunt de paraquedas e aterrando num iate onde descansava uma bond girl que Dalton não perde tempo em seduzir.

 

Podem ver aqui a primeira edição dedicada aos atores que interpretaram a personagem, clicando aqui. E também a segunda edição com foco, em escolhas pessoais, dos melhores filmes da franquia, clicando aqui. Com o fim desta maratona de artigos especiais, aguardem uma análise de 007: No Time To Die em breve.

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