Review – Visions of Mana

Enquanto uns se dedicavam a jogos de RPG por turnos (como eu), outros andavam a experimentar outras séries japonesas que ofereciam mais liberdade de movimento. A saga Mana é um dos claros exemplos de como a Squaresoft conseguia criar vários JRPG mais dedicados à acção, embora com muitos elementos que se podiam encontrar em Final Fantasy ou Dragon Quest. A verdade é que Secret of Mana foi um grande sucesso que originou algumas sequelas e spin-offs, mas nunca acabou por se tornar uma franquia importante e central.

Curiosamente, Visions of Mana marca o regresso da série, embora não tenha sido desenvolvido internamente (o pequeno estúdio que o criou até foi estranhamente dissolvido), mas pelo menos é bom ver e jogar Visions of Mana para ver que foi feito com bastante empenho e respeito pela série, tendo um bom resultado para quem nunca jogou a saga, mas uma prestação ainda melhor para quem tem nostalgia pelo clássico.

Para começar, Visions of Mana tem algo que eu gosto bastante. É um jogo que tenta primar pela simplicidade (pelo menos incialmente), sem colocar histórias extremamente complexas ou personagens demasiado negras. No geral, embora exista algum fatalismo associado à história (a qual até faz lembrar um pouco Final Fantasy X), o ambiente é bastante alegre no geral, tal como o seu mundo com os cenários bastante vivos e carregados de cor. As próprias personagens são maioritariamente positivas e alegres, deixando algum do negrume da segunda parte da história serem mais facilmente digeridos.

Mesmo que não seja um mundo aberto, os cenários de Visions of Mana são bastante amplos, mesmo que sejam interligados por corredores quando o jogo precisa de levar o jogador a novas áreas. Felizmente, foram adicionados aos cenários vários elementos que nos incentivam a explorar, como pequenos segredos ou baús para pilhar. Além disso, existem também NPC com quem falar e missões para receber. A maioria delas são demasiado básicas, mas uma ou outra ainda são uma boa surpresa que oferece items ou mais experiência.

O combate continua a ser aquilo que a série Mana sempre fez bem. No geral, estamos perante um JRPG de acção com bastante foco em combos e ataques especiais. Tal como os jogadores, os inimigos também se movem livremente e o posicionamento da personagem é importante para evitar sofrer ataques de área ou outros que podem atacar mais que um alvo. O sistema de combate funciona bem e é divertido o suficiente para se tornar uma das melhores coisas que o jogo apresenta.

Para ajudar a dar ainda mais profundidade ao combate, temos uma série de classes que alteram bastante os tipos de ataques e habilidades que podemos usar. Na maioria dos casos, os ataques de cada classe são aprendidos pela personagem e podem ser usados enquanto temos outra classe diferente, permitindo misturar inúmeras combinações de ataques. Como é natural, cada uma das personagens têm classes que mais se adaptam a elas, mas com a presença de inimigos que utilizam padrões de ataque ou defesa diferentes, é bom explorar cada uma das classes para descobrir as suas vantagens.

O sistema de evolução e experiência parece básico a início, mas não tarda até que as árvores de talentos e habilidades comecem a ficar cada vez maiores. Se levarem a aventura com calma e alguma paciência para experimentar, vão ver que estes sistemas ficam bastante mais apelativos de usar e os resultados dão bastantes frutos.

Já o tinha referido anteriormente, mas há mesmo que destacar o visual de Visions of Mana. Embora não seja técnicamente detalhado e existam alguns problemas com a framerate, especialmente nas cinemáticas com várias personagens, a direção artística é fantástica e a forma como usa cores fortes e garridas, fazem com que pareça um conto de fadas e este estilo de visual é sempre uma lufada de ar fresco tendo em conta a grande quantidade de jogos mais realistas que andam por aí.

Na parte sonora, podem contar com uma banda sonora bastante boa com muitas composições orquestrais fortes e viradas para o espírito da aventura. O rol de actores recrutados para as personagens também fazem um bom trabalho no geral. Talvez o ponto menos positivo é a recorrência de algumas frases que são repetidas durante os combates, mas não é tão criminoso como em outros jogos que analisei ao longo dos anos.

Quem acompanha o mundo dos videojogos sabe que a série Mana foi fazendo umas visitas ocasionais nos útlimos anos, mas nenhum projeto teve o trabalho e envergadura que Visions of Mana demonstra. Estamos perante um jogo feito com bastante apreço e vontade e é uma pena que o estúdio que o criou tenha sido desfeito com tanta velocidade. Sabemos sempre que as expectativas para este tipo de jogos é grande, mas mesmo que não tenha cumprido vendas ou o impacto que se previa, suspeito que Visions of Mana vai acabar por se juntar aquela lista de clássicos de culto que vão ser muito mais valorizados daqui a uns anos.

Positivo:

  • Visual muito apelativo
  • Sistema de combate
  • Simplicidade inicial
  • Banda sonora
  • Combinações entre classes

Negativo:

  • Alguns problemas de framerate
  • É preciso ter paciência para aprender tudo

Daniel Silvestre
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