Quando Metaphor Re: Fantazio foi originalmente anunciado como um JRPG que iria desafiar as convenções do que é um RPG de fantasia, pouco liguei ao que a Atlus tinha para dizer. Para mim, qualquer projeto vindo dos estúdios de Persona e Shin Megami Tensei não precisariam de fazer ou dizer muito para já estar completamente a bordo. Foram precisos alguns anos, mas Metaphor Re: Fantazio chegou e sem dúvida que consegue dar um novo tom à fantasia, fazendo muito para ser um dos melhores jogos deste ano.
Como seria de esperar deste estúdio, este é um jogo se destaca pela sua abordagem única ao mundo de fantasia, explorando temas de identidade, desejos, a forma como vemos o racismo e as consequências de nossas escolhas. Metaphor Re: Fantazio escreve um universo rico e diversificado, onde mitologia e a modernidade se entrelaçam e isto é bastante visível ao longo da aventura, havendo ligações entre a fantasia e a realidade. Para isso foram concebidos vários elementos de suporte, sendo o mais gritante a direção artística que está presente em todo o lado. Seja nos cenários, nas personagens, nos retratos e até no combate, a equipa de Persona voltou a expandir a sua criatividade para dar vida a este mundo.
O design artístico é vibrante, com cenários que vão de cidades bastante vivas a paisagens surreais, refletindo os estados emocional do próprio mundo. Essa dualidade é um elemento central na narrativa, pois os ambientes não apenas servem como palco, mas também como reflexos dos conflitos internos dos protagonistas e aquilo que prende a narrativa ao grande objetivo do jogo. Os personagens são um dos pontos altos do jogo, pois cada um deles possui um desenvolvimento mais alargado do que pode parecer à primeira vista, com histórias pessoais que se entrelaçam à narrativa principal. O protagonista é moldado pelas suas interações e decisões, e o também aqui temos um sistema de relação com os NPCs que abre várias camadas de personalização. Os arcos dos personagens exploram temas como traição, amizade e redenção, proporcionando uma experiência bastante forte. Não é raro termos de tomar decisões em nome do protagonista que podem influênciar o decorrer do jogo.
As semelhanças com Persona vão estar sempre presentes, pois existem mais elementos que cruzam os dois universos. A sequência de jogo é uma delas, sendo que existe um padrão que se desenrola entre visitar cidades, fazer uma masmorra e interagir com os colegas e NPC consoante gerimos os dias de jogo que servem de limite para certos acontecimentos. Embora não seja tão penalizador como Persona, Metaphor Re: Fantazio ainda consegue ser punitivo, por isso quem perceber as mecânicas e combate logo a início, vai tirar melhor partido da sequência de jogo.
A jogabilidade combina elementos tradicionais de RPG com algumas inovações muito próprias. Existem dois modos de combate, um de acção e um de combates por turnos, mas o primeiro surge (felizmente), feito mais a pensar em grinding e despachar inimigos mais fracos. O centro do combate passa exactamente pelos combates por turnos e aqui, quem já jogou Persona ou SMT, vai sentir-se em casa. Existe um sistema de turnos que pode aumentar ou diminuir caso explorem as fraquezas dos inimigos e a possibilidade de combinar habilidades das personagens para criar ataques ou defesas ainda mais poderosas.
A suportar este sistema de combate está um sistema de classes que funciona de forma gloriosa. Gostei imenso da possibilidade de levar qualquer personagem na direcção que me apetecesse, mudando as classes e aproveitando habilidades já aprendidas para estar mais preparado para combate. Quem explorar este sistema e aproveitar as classes como deve ser, vai ter mais facilidade em ultrapassar certos inimigos e alguns dos bosses mais complicados. Como cada um dos aliados ajuda a melhorar estas classes à medida que a amizade cresce, outros bónus também vão aparecendo. Outro elemento bem pensado foi a introdução de experiência do limite de níveis por classe, o qual dá um item para evoluir outra classe, caso queiramos continuar a usar a mesma além do seu limite. Isto faz com que não seja preciso subir o nível de cada Archetype à força e é sem dúvida muito bem-vindo.
É verdade que Metaphor Re: Fantazio é um jogo com uma apresentação e visual incrível e há que dar novamente os parabéns à Atlus por isso, mas, pela primeira vez senti que alguns dos elementos já entram em demasiada confusão. Todas as linhas, particulas no ecrã, menus em movimento, câmara a balançar e caixas de texto constantemente a mexer, faz com que o jogo pareça muitas vezes demasiado “busy” ou seja, confuso e distrativo. Acabei até por ir ao menu desligar o movimento de câmara que faz com que a imagem pareça um barco em alto mar quando não se passa nada no ecrã. Pode parecer um pouco estranho falar mal destes elementos quando já referi que o visual e arte são fantásticos, mas isto vai além de design e bom interface.
Agora é a altura de abordar a parte sonora e há aqui coisas boas a falar. Começando pelas vozes, neste caso da versão em inglês (a que joguei), existem muito boas vozes no geral, mas alguns deixaram um pouco a desejar. Um exemplo disso é a nossa fada de companhia que parece que está sempre a querer falar em segredo e muitas das vezes sem muito entusiasmo (ao contrário da versão japonesa). No entanto, personagens como Strohl ou Hulkenberg compensam com a sua força e presença, assim como tantos outros que chegam mais tarde. Depois disso, temos a banda sonora, a qual é composta por várias músicas espetaculares bem ao estilo de um JRPG de fantasia e outras tantas que custam a ouvir pela primeira vez, mas que se tornam viciantes com o avançar do jogo. Sim, estou a falar exactamente das músicas com os cânticos de monge. Ao início fiquei algo reticente, mas a energia delas e sonoridade ficam no ouvido e passam de estranhas para viciantes. Resumindo, mais um bom trabalho na parte sonora.
Embora tenha várias reviravoltas e coisas que fazem com que a história e ambiente vão mundando, Metaphor Re: Fantazio por vezes parece estender-se um pouco demais. Em termos de história, podem contar com cerca de 60 horas, mas há quase mais do dobro com tudo o que existe para fazer.
Metaphor Re: Fantazio é um grande jogo que combina uma estética deslumbrante, personagens bem desenvolvidos e uma narrativa profunda que vai tendo vários momentos altos. O jogo não apenas oferece uma experiência de RPG tradicional, mas também desafia o jogador a associar alguns dos momentos do jogo com coisas do mundo real, onde existem ligações óbvias com o mundo em que vivemos. De qualquer forma, não há sombra de dúvidas que valeu a pena esperar por Metaphor Re: Fantazio e mesmo que tenha muitos elementos retirados de Persona, a mesma equipa consegue criar um jogo familiar e diferente ao mesmo tempo. Vale todo o vosso tempo e tem todos os elementos para vir a ser um dos jogos do ano.
Positivo:
Negativo:
- Motor de Persona precisa de evoluir
- Elementos visuais demasiado ativos
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