Análise – Streets of Rage 4

Vinte e cinco anos é muito tempo. Tempo suficiente para que uma geração inteira possa nunca ter ouvido falar de Streets of Rage. Para mim, a era dos 16 bit estava bastante forte quando nasci e quando chegou a altura de começar a pegar nos comandos, a Mega Drive foi a minha consola. Apesar de na altura não ter tido contacto com Streets of Rage, ao longo da minha vida fui encontrando a série em compilações e Arcades assim como outros jogos da mesma era, entre eles Golden Axe, Knights of the Round, Double Dragon, Dungeons and Dragons Tower of Doom entre muitos outros que lhes perdi o rasto.

O género Beat’em up clássico, ou pelo menos clássico para mim, é o plano 3D limitado a duas direcções, montes de inimigos com estratégias e fé nos botões. Com o tempo passou a ser um género raro mas com algumas pérolas aqui e ali. O último jogo que me deixou fascinado foi Double Dragon Neon, estamos a falar de 2012, apenas para que logo de seguida Double Dragon II Wander of the Dragon coloca-se uma lápide na série.

Streets of Rage 4 tem uma oportunidade única nas mãos, apresentar-se a uma geração que pode nunca ter ouvido falar da série e ainda surpreender os fãs de longa data. Ao contrário de muitas outras séries, os primeiros três jogos da série saíram entre 1991 e 1994 e nunca mais se ouviu falar de Streets of Rage até 2018, altura em que o quarto título da série foi anunciado.

Por um lado estava fascinado com a ideia de ter um novo Streets of Rage, por outro Streets of Rage é algo que encaixa tão bem nos anos 90 que poderá não encaixar no presente; isto é algo que cada jogador terá que avaliar por si. Do meu ponto de vista a essência está toda lá, desde o aspecto à banda sonora. A primeira coisa que aconteceu quando liguei o jogo foi um arrepio, os primeiros acordes musicais fizeram-me uma pessoa mais feliz e colocaram-me na disposição perfeita para jogar Streets of Rage.

A início o que temos disponível é o modo História, que tal como o nome indica, permite jogar a aventura no decorrer dos seus 12 níveis. A história é simples mas segue as pisadas do terceiro jogo, passando-se 10 anos depois do mesmo. A narrativa é contada como uma banda desenhada e funciona bastante bem dentro do universo do jogo. O jogo permite a criação de 3 save slots para este modo, o que quer dizer que podem ter até três aventuras a decorrer em simultâneo em diferentes dificuldades, por exemplo. Depois de terminarem o jogo uma vez, irão desbloquear o Stage Select, que permite jogar os níveis que já completaram anteriormente nas diferentes dificuldades. Desbloqueiam também o modo Boss Rush que é exactamente o que parece.

Existem ainda dois modos adicionais, o modo Arcade e Battle. O modo Arcade é o desafio mais aterrador que o jogo oferece, uma única tentativa para terminar o jogo, se acabarem as vidas é Game Over e terão que recomeçar do início. O modo Battle coloca as diferentes personagens jogáveis de Streets of Rage 4 numa arena e o resto é com os jogadores, é um modo que funciona muito bem e foi uma surpresa, já que funciona tão bem como muitos outros jogos exclusivamente dedicados a combates 1 VS 1.

O combate em Streets of Rage é muito importante, afinal de contas é aquilo que move o jogo. Nos jogos anteriores os movimentos eram fluídos e precisos. Cada personagem é única e tem o seu próprio conjunto de movimentos. Os controlos eram simples e através do posicionamento das personagens, e combinações de acções, tínhamos acesso a um jogo bastante completo. A fasquia para Streets of Rage 4 está muito alta, e mesmo assim surpreende pela positiva. Streets of Rage 4 consegue manter tudo o que funcionava nos anteriores e melhorá-los. Agora é possível executar ainda mais combos, fazer novos movimentos com armas, atacar inimigos directamente atrás de nós entre outros pequenos melhoramentos. Os diversos tipos de inimigos fazem também com que seja necessário aprender a utilizar tudo o que temos à nossa disposição para avançar.

A maior mudança está no sistema de risco e recompensa do ataque especial. Outrora cada utilização retirava uma parte da nossa vida, agora é possível recuperar o dano num sistema que faz lembrar Bloodborne. A vida que foi utilizada no ataque especial aparece a verde e se causarem dano suficiente aos inimigos com ataques normais, sem serem atingidos, irão recuperar a vida utilizada. Esta pequena mudança faz com que os combos tenham uma presença mais activa nesta sequela.

Como já referi, cada personagem é único. Existem 4 personagens base no jogo com um outro para desbloquear e ainda versões dos personagens dos anteriores jogos da série com os seus sprites originais.

As personagens dos jogos antigos são desbloqueadas de forma contínua conforme jogam. Quando terminam um nível a pontuação é adicionada à pontuação de jogo geral e a cada meta desbloqueiam um novo personagem. É uma boa forma de manter os jogadores investidos e a experimentar com tudo aquilo que o jogo oferece e as várias vertentes de Streets of Rage 4.

Os cenários que vamos explorar em Streets of Rage 4 seguem o formato clássico. Cada nível gira em torno de um tema e apresenta mecânicas que por vezes são únicas a esses mesmos níveis, normalmente através de itens. Cada nível é composto por meia dúzia de salas ou corredores e parecem ser demasiado curtos. Muitos dos níveis parecem terminar num instante e apesar de desafiantes deixam a desejar por mais.

Os Boss presentes no jogo não são os mais icónicos mas fazem um excelente trabalho em termos de mecânicas. Cada um apresenta um padrão e característica distinta, mesmo a meio da aventura, quando o jogo decide puxar dos cordelinhos dos clássicos do género, continua a ser desafiante nas suas variantes de Boss e inimigos. Aliás todo o jogo está desenhado para ser jogado várias vezes e ir aperfeiçoando a nossa técnica, é notório o registo Arcade.

Os níveis têm um aspecto moderno e clássico em simultâneo. São claramente utilizadas técnicas para simular os cenários dos originais, como múltiplas camadas para criar um fundo que se move com a personagem mas estão agora muito mais detalhados. O desenho é o elemento mais alienígena do jogo, dado a era onde a trilogia original surgiu, é estranho ver algo que não sejam os sprites. Se por acaso não se adaptarem ao visual podem sempre ligar os filtros e podem optar por colocar tudo com um visual mais retro. Se mesmo assim não estiverem satisfeitos podem ainda ligar o filtro CRT e ter uma experiência bastante próxima dos originais.

Em termos de som, o meu primeiro impacto foi muito forte, e o ritmo continuou em alta. A nova banda sonora vai claramente beber à fonte e com a excepção de um ou dois momentos, diria que assenta como um luva. Mais uma vez se não estiverem satisfeitos, podem recorrer aos filtros e utilizar uma banda sonora retro.

O jogo tem uma performance estável na PS4, onde foi analisado, e é um regalo para a vista. Não espanta, mas o que faz, faz muito bem. Para os jogadores que não tenham tido contacto com os originais poderá parecer que existem algumas animações um pouco estranhas, com pequenos saltos entre poses. Falta ainda referir que todo o conteúdo do jogo pode ser desfrutado a 2, quer através da Internet ou localmente. Jogar em formato cooperativo torna a aventura muito mais fácil e divertida, uma vez que os ataques podem afectar os nossos parceiros quando os esmurramos por “engano”. O único senão é mesmo o facto dos ranks online não estarem disponíveis para os modos de dois jogadores, só contam as pontuações a solo.

Streets of Rage 4 é tudo aquilo que se poderia esperar de uma sequela. Não reinventa a roda, pois não é necessário, e entrega uma nova aventura com melhoramentos claros, respeitando o legado dos originais.

Positivo

  • Combate melhorado
  • Atmosfera bem conseguida
  • Várias opções de personalização
  • Personagens distintas
  • Muito para desbloquear
  • Incentiva a jogar novamente
  • Banda sonora

Negativo

  • Alguns níveis sabem a pouco
  • Personagens dos jogos anteriores não foram actualizadas em tudo

Alexandre Barbosa
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