Análise: How I Met Your Mother – Foi Assim Que Aconteceu

HOW I MET YOUR MOTHER

A comédia é um dos estilos preferidos da televisão. Desengane-se quem pensa que se trata de uma arte exclusivamente espontânea, porque o processo criativo resulta de uma receita tão simples como a gelatina: ponto, contraponto, punch-line anti-climática. Exemplo: É azul. É amarelo. Como é que sabes? Era de noite! (Fiz-me entender?). O segredo do sucesso está na frescura como a comédia é apresentada. Ao contrário do cinema (vamos desmistificar o motivo pelo qual Adam Sandler faz sempre o mesmo personagem), a série permite que os personagens ganhem vida ao longo do tempo e ofereçam bagagem emocional para que o leque de opções do autor seja maior.

Uma dos pilares da comédia é o conhecimento do personagem que o espectador possui, ou seja, para construir determinados eventos cómicos, os personagens têm de estar estabelecidos e consolidados de forma inequívoca para o público. Assim, punch-lines anti-climáticas podem resultar abdicando de preparação prévia e/ou adquirir duplo-significado, que são as melhores piadas. Para desfrutar completamente de Sheldon, em A Teoria do Big Bang, é necessário conhecer a série, caso contrário, o único efeito que a comédia provoca é a estranheza. O mesmo se aplica na banda-desenhada Calvin & Hobbes, recuperando as palavras de Bill Watterson: “só explorei algumas temáticas após Calvin atingir determinada popularidade junto do público”.

foi-assim-que-aconteceu-ana-pn-img7

Na mesma medida em que Os Sopranos influenciaram a nova vaga da ficção dramática, a popularidade de Friends, no ar durante 10 anos, inaugurou uma temática nas sitcoms: jovens cosmopolitas na casa dos 20/30 anos, cujos comportamentos estão intimamente influenciados pela vida amorosa.

Numa realidade televisiva em que (algumas) comédias orbitam para o personagem que fala para a câmera (misto de documentário e stand-up comedy), How I Met Your Mother tornou-se um caso especial. Inspirado na técnica narrativa do filme Memento, na qual a ordem cronológica é desmontada, os criadores Carter Bays e Craig Thomas inovaram a sitcom, explorando tiques cartoonescosfreeze frames e piadas com a quarta parede.

foi-assim-que-aconteceu-ana-pn-img5

HIMYM narra a história de Ted (interpretado por Josh Radnor) que contextualiza aos filhos (interpretados por Lyndsy Fonseca e David Henrie) o momento em que conheceu a Mãe (interpretada por Cristin Milioti).

A premissa é muito boa, balizando a série de onde vem e para onde vai, estabelecendo o espaço cronológico da história e incutindo o gancho que prenderia as audiências durante 9 anos. Pelo meio: sub-plots, amores, desamores e alguns personagens icônicos da história recente da televisão, nomeadamente, o lendário Barney Stinson (interpretado por Neil Patrick Harris). HIMYM permitiu igualmente o lançamento da carreira de Jason Segel (Marshall) e Cobie Smulders (Robin), e um ocupação para a consagrada Alyson Hannigan (Lily).

Neil Patrick Harris

Talvez o maior impacto infligido por HIMYM  na televisão moderna seja a forma como a narrativa é contada. Saltos cronológicos, flashbacks que “ficcionavam a irrealidade”, hiperbolização dos eventos e uma linha de continuidade ao sabor da surpresa, instalaram uma mecânica que contraria a previsibilidade da comédia clássica.

Além da comédia, HIMYM aplicou um registo emocional e empático com o público que merece reflexão. Embora o estilo noveleiro (paixonetas e romances) apele ao género feminino, os comportamentos assentes nas necessidades do cromossoma Y apelaram ao público masculino, oferecendo um produto para um género estranho nestas andanças.

Coming Back

Melhor Personagem – Barney Stinson deixará saudades e motivos para alarme. Se os homens gostariam de copiar a vida obscena e descarada do maior malandro de Nova Iorque, porque será que as mulheres adoptaram Barney com tanto carinho? Afinal de contas, é um homem que trata as mulheres de forma descartável. Talvez a resposta esteja na personalidade ingénua e infantil de Barney, e a maneira destemida como encara a vida e as aventuras. Se todos os momentos são “legendary”, logo, todos as pessoas que passam por lá são especiais.

Melhor EpisódioCome On. Primeira Temporada. Episódio 26. Uma temporada a torcer por Robin e Ted, e o par romântico fecha a season apaixonado. Além de emocional e memorável, a premissa do episódio é bastante descomplicada: O que estamos dispostos por amor? Ted fez chover.

how-i-met-your-dadnoticias-pn-img

Apesar do prometido final não reunir consenso, a verdade é que estava programado desde 2006. Pode ferir susceptibilidades, mas vai ao encontro do enredo e da história contada ao longo de 208 episódios. Teria sido mais recompensador outro desfecho, mas a resolução torna-se secundária perante o legado deixado pela série.

Não é de estranhar que How I Met Your Dad esteja a caminho. Apesar das últimas temporadas chochinhas de HIMYM, o estilo narrativo não se esgotou, e assenta que nem uma luva no novo modelo de sitcom. Novos personagens e uma nova conjuntura, e temos série para mais uns anos.

 

Positivo

  • Primeira Temporadapn-recomendado-ana
  • Elenco
  • Impacto nas sitcoms
  • Preocupação em evitar estereótipos
  • Bob Saget enquanto narrador
  • O mirabolante Barney Stinson
  • Actores convidados

 

Negativo

  • Última Temporada
  • Resolução da série não é consensual

pn-muitobom-ana

Share

You may also like...

error

Sigam-nos para todas as novidades!

YouTube
Instagram