Análise: The Wolverine

X-Men Origins: Wolverine (2009) é deprimente. A prequela da trilogia X-Men, explora o mutante mais popular (Wolverine), mas não vai além de um projecto discordante da continuidade imposta nos filmes anteriores (a história do Dentes de Sabre), com mutantes desconhecidos (Bolt quem?!) e outros (adorados pelo grande público) que podem queixar-se à polícia de maus-tratos (Gambit aparece durante cinco minutos e Deadpool é um vómito do personagem original).

Portanto, The Wolverine, o novo filme do super-herói com esqueleto de Adamantium, só pode ser mais um soco no estomago dos fãs. Certo? Talvez não. O filme é baseado numa minissérie de 1982, elaborada por Frank Miller (autor de 300Sin City e The Dark knight returns) e Chris Claremont, que remete Logan para o ambiente oriental do Japão tradicional. O material original conta uma história de amor, que explora as noções de honra, cultura, controlo da natureza selvagem e duelos até à morte. A película assenta parte do enredo na minissérie, mas adiciona mais qualquer “coisita”.

Wolverine (novamente interpretado por Hugh Jackman) vive isolado nas montanhas do Canadá, a remoer o passado e a combater com alguns fantasmas (a morte de Jean Grey, interpretada por Famke Janssen, ainda não está ultrapassada). Wolverine é interpelado por Yukio (Rila Fukushima), uma enviada especial, mandatada para levar Logan ao Japão. Em Tóquio, à espera de Logan, está Yashida (Hal Yamanouchi), um homem que deve a vida a Logan e que está disposto a retribuir o gesto, oferecendo a Logan a possibilidade de ser mortal.

No novo filme, Hugh Jackman tem a missão de trabalhar com actores inexperientes e de várias nacionalidades (decisão corajosa do realizador James Mangold). A experiência de Jackman, e o profundo conhecimento do personagem, sustentam as cenas e obrigam os restantes actores (pouco habituados às andanças Hollywoodescas) a orbitarem em redor do protagonista. Ainda bem.

A realização de James Mangold é a maior surpresa do filme. O realizador consegue imprimir uma dinâmica invulgar no género dos super-heróis, arriscando com cenas de camara ao ombro, grandes planos, cenários pouco iluminados e um vocabulário agressivo.

A produção em The Wolverine é inteligente, tendo em conta que o orçamento não ultrapassou os 100 milhões de dólares, demonstrando que não é obrigatório despender uma fortuna (ou elaborar CGI) para conceber uma cena de acção. A intensidade está nos personagens e nas etapas da jornada do herói. No domínio técnico, a direcção de fotografia retrata vários registos (variam consoante a intensidade dramática) e a banda-sonora é incrivelmente discreta.

The Wolverine é muito melhor do que o antecessor. Não está recheado com mutantes que atraem público ao cinema, mas a decisão favorece o personagem principal e a narrativa, que explora a dimensão de um anti-herói titubeante entre o poder e o dever.

A cortar do material original, seria o romance entre Wolverine e Marko (Tao Okamoto). Felizmente, dos elementos absorvidos para a adaptação cinematográfica, o romance fica com estatuto de plot secundário.

Efectivamente, a pouco convincente paixão, a rasca recusa do chamamento da aventura (“Wolverine – Não! Yukio – Vá lá. Wolverine – Ok”), as acções verbalizadas (a exposição poderia ser apresentada através da acção) e um Wolverine  convencido que é um tanque (na banda-desenhada, Wolverine opera contra os ninjas nas sombras), são os principais problemas do filme.

Num ano de super-heróis (ThorSuper-Homem e Homem-de-Ferro), The Wolverine é dos melhores (pode perder no box-offcie, mas num mano a mano de superpoderes, a música seria outra). A imaginação e a criatividade, colocadas em prática pelo baixo-orçamento, são uma lufada de ar fresco no género, numa era em que o CGI e os orçamentos multimilionários ditam leis. A riqueza visual e cultural, a organização dos eventos em crescendo e a evolução física/psicológica do protagonista, são meras ferramentas clássicas, mas ainda não inventaram nada melhor.

X-Men: Days of Future Past está lançado (estreia em Maio de 2014). A Fox pode estar tranquila em relação ao projecto, a parada de estrelas, para o mais do que provável último filme da franchise, tem tudo para resultar num dos maiores épicos do cinema contemporâneo.

 

Positivo

  • As coreografias de combate
  • A riqueza dos locais de filmagem
  • Torre de Babel do elenco favorece a descontextualização cultural
  • Hugh Jackman está para Wolverine como Robert Downey Jr. está para Tony Stark
  • Cena no comboio de alta velocidade
  • Referências à BD
  • Realização
  • Epílogo

 

Negativo

  • Não há química entre Jackman e Tao Okamoto
  • Viper é um bocejo
  • Enquadramentos que evitam o rosto dos actores, porque o inglês não é a língua materna

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