The Last of Us: Part 2 desperdiçou Alice em prol da estrutura

Este é o momento em que podíamos usar o meme do GTA: San Adreas do “here we go again“. Uma vez mais The Last of Us: Part 2 pode se visto com o maior espectro de expectativas, gostos e opiniões. Hoje vou uma vez mais falar de um bom exemplo em como a história podia ter muito mais impacto de outra forma.

Por isso mesmo, se ainda não jogaram The Last of Us: Part 2, é mais do que óbvio que este artigo vai ter uma data de spoilers sobre a história. Ficam aqui avisados que esta é a altura de ir ler outro dos vários artigos que temos publicado e voltar mais tarde se nunca o terminaram.

Agora que os avisos já foram feitos, está na altura de destacar algo importante. Eu gostei de The Last of Us: Part 2, é uma opinião que partilhei várias vezes em vários momentos de conversa sobre o jogo. Até mesmo na nossa Livestream de opinião sobre a história.

No entanto, também defendo que The Last of Us: Part 2 podia ter feito muitas coisas bastante melhor. Especialmente o formato da narrtiva que limita muitos dos elementos que poderiam fazer da mesma uma história com mais peso e impacto não só sobre as personagens como em especial, sobre o jogador.

O facto do jogo não esconder quase nada do jogador ou contar as duas histórias em separado, não cria grande suspesnse e não somos tão supreendidos ou incentivados a gostar ou odiar certas personagens. Se fosse mostrado perto do final que Abby era a assassina do jogo e tivessemos passado mais tempo com ela sem o saber, aposto que a maioria não ia odiar tanto jogar com ela e conhecer os seus amigos.

Sim, eu defendo que a história de The Last of Us: Part 2 devia ter sido contada de forma intercalada e devíamos estar no escuro em relação a alguns acontecimentos que nos levariam a questionar tudo até aos momentos finais. Afinal o que aconteceu? Porque motivo aconteceu? Eu imagino que em parte, a Naughty Dog pretendia exactamente ver até que ponto os jogadores podiam odiar Abby. Mas só é possível defender Ellie e Joel pelos olhos da amizade e da nostalgia, afinal, Joel é um carrasco que matou muita gente e privou o mundo de uma cura para a doença. No ponto de vista de justiça imparcial e cega, mereceu o que lhe aconteceu.

Isto leva-me ao ponto da questão e o título do artigo. A morte de Alice em The Last of Us: Part 2 foi totalmente desperdiçada em prol da forma como a Naughty Dog resolveu contar a história. Afinal estamos a falar de um momento negro que só nos apercebemos mais tarde do seu impacto, mas que poderia ser nauseante caso as coisas tivessem sido contadas de outra forma.

Eu sou um verdadeiro fã de cães. Adoro cães de quase todos os estilos e feitios (tirando aqueles cães pequenos estilo porta-chaves que mais parecem ratos barulhentos). Mesmo que goste muito de cães, tenho muito pouca resistência a violência aplicada a quase todo o estilo de animais. Não me consigo sentir bem a ver um vídeo sobre maus tratos e violência perante animais, especialmente de companhia.

No caso de Alice, a cadela de companhia de Abby e dos seus amigos, somos forçados a matá-la num momento importante, mas sem qualquer conhecimento sobre a personagem em si. Nesse momento, Alice é apenas um de vários cães de ataque que encontramos ao longo da história e existe por esta fase já alguma dormência em relação ao acto de matar Alice. Afinal, é só mais um cão que ataca Ellie e a poderá matar.

Já na altura, falei da situação de Alice com algumas pessoas, mas faz mais sentido agora do que nunca. Se a história tivesse sido contada de forma intercalada, a morte de Alice teria sido das coisas mais sofríveis que qualquer jogador ia ter de passar por este jogo que já é altamente sofrível em si.

Imaginem ir vendo cada episódio do jogo à vez e conhecer Alice, passar pelos vários momentos em que estão com ela, em que podem brincar com ela e interagem com ela. Imaginem saber que a Alice é muito meiga, amiga das crianças, tem uma caminha para ela e um peluche que é o seu brinquedo preferido.

Quando matamos Alice como Ellie, não sabemos nada disto, é tudo igual. Só mais um cão agressivo. Mas se houvesse hipótese de conhecer o lado de Abby mais cedo e a história fosse contada ao mesmo tempo, o momento em que temos de matar Alice seria capaz de me fazer parar de jogar The Last of Us: Part 2. Eu ia saber que ao chegar à porta daquela sala que a Alice era o único cão no edifício e quando ela aparecesse, que o meu coração ia despedaçar em mil bocados. Teria de matar Alice para progredir, mas ia saber que a Alice é uma cadela “muito meiga, amiga das crianças, tem uma caminha para ela e um peluche que é o seu brinquedo preferido.”

Como é óbvio nem quero avançar além desta situação, pois íamos saber de ante-mão que Ellie estava prestes a encontrar uma mulher grávida que estava disposta a matar, o que é extremamente negro. Mas recuando uns passos e pensando no corpo de Alice ainda quente no chão, era algo que me ia deixar mal e mexer comigo. Só um monstro não ia sentir algo nesse momento, de como um animal morreu a tentar proteger os seus donos, sendo vítima de uma espiral de vingança da qual ela nada percebe. Eu sei bem que ia morrer várias vezes neste momento a tentar descobrir alguma forma de não matar Alice ou a simplesmente não querer fazer-lhe mal. Algo inevitável que iria ser ainda mais destruidor.

A situação mais caricata no meio de tudo isto é que por muito que não concorde com o formato em que a história é contada, eu defendo totalmente a Naughty Dog por o fazer e também as escolhas que foram tomadas. É a história deles e deve ser contada exactamente como eles a criaram e decidiram que seria.

Por outro lado, não consigo deixa de ver várias oportunidades perdidas onde a história e as nossas acções acabariam por ter muito mais impacto. Alice é um desses casos, mas um dos mais importantes para mim, pois a morte dela é quase desprezada e só sentimos a onda de impacto mais tarde, onde já não há muito a pensar além de nos sentirmos um pouco mal. É diferente pôr um fim a uma personagem que conhecemos bem do que a algo que nos é apenas mais uma ameaça.

A Alice é uma “good girl” e uma vítima da história. É uma das minhas personagens favoritas e uma das mais inocentes na verdade. Se tivesse o peso de a matar só depois de todas as situações que passamos com ela, seria dos momentos mais desoladores que teria jogado até agora num videojogo. Se o sacríci tinha de ser feito, ao menos que tivesse sido feito com todo o impacto e culpa que a situação merecia.

Podem ler a nossa análise de The Last of Us: Part 2 aqui:
Análise – The Last of Us: Part 2

Daniel Silvestre
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