Análise – The Falcon And The Winter Soldier

Em Janeiro deste ano, a Marvel já nos tinha presenteado com Wandavision, que apesar de estar par-a-par em termos de qualidade com o ramo cinematográfico, deixou a desejar aquando do seu final. Agora chegou a vez de deixar de parte este lado mais “místico” do universo, para focar numa vertente ligada à espionagem, e sobretudo, na ação.

Tal como na anterior, esta mini-série afasta-se de uma premissa macro tão marcada nos filmes, dando um olhar particular na vida das personagens de Bucky Barnes e Sam Wilson, através de The Falcon And The Winter Soldier. Esta escolha transporta, uma vez mais, o espectador para o mesmo clima, de outras produções do Marvel Cinematic Universe (MCU), como Captain America: The Winter Soldier (2014) e Captain America: Civil War (2016), onde a sua influência é facilmente perceptível.

Malcolm Spellman, director a cargo desta série, optou por iniciar a história seis meses após os acontecimentos de Avengers: Endgame (2019), onde no epílogo, Captain America passa o seu manto heróico para Sam Wilson (Anthony Mackie). Contudo, devido ao peso que esta passagem de testemunho acarreta, Wilson decide entregar, o escudo que lhe foi dado, ao governo americano.

O que o mesmo não esperava, é que o governo já tinha outros planos em mente, que se tornam óbvios, quando apresentam publicamente um novo Captain America, na pele de John Walker (Wyatt Russell). Por seu turno, Bucky Barnes (Sebastian Stan) que havia sido perdoado pelos seus crimes, enquanto Winter Soldier, ainda é atormentado pelo seu passado conturbado, tendo uma espécie de PTSD,  ao ponto de ser encaminhado para terapia psicológica.

Como se os seus problemas individuais não fossem que chegue, surge um novo conflito mundial, provocado pela insurgência de um grupo extremista mascarado, denominado de Flag Smashers. Os quais acreditam que a sua vida era melhor, durante o Blip, período onde metade da população mundial havia desaparecido, à custa do ataque de Thanos ao planeta Terra no final de Avengers: Infinity War (2018). Assim, algo de maior vai sendo construído enquanto pano de fundo, motivo este que leva, então, ao reencontro e união dos protagonistas da série. Há outras personagens, outrora introduzidas nos dois filmes que mencionei anteriormente, que voltam a ganhar mais tempo de antena, como Sharon Carter e Zemo.

Devo dizer que a presença de Zemo (Daniel Bruhl), apesar de ao início parecer forçada, rapidamente se torna um dos pontos altos da série, não só porque a sua personagem se destoa da dinâmica do duo principal, o que resulta em cenas bastantes interessantes, como também, só a sua presença consegue roubar atenção do que está acontecer em redor. De qualquer forma, embora sendo apenas um antagonista secundário à história, é deixado em aberto, um potencial retorno do mesmo em futuras produções do MCU.

Quanto a Sharon Carter (Emily VanCamp) a situação inverte-se, pois de início parece ser uma escolha acertada na premissa que a série aborda e por ser uma personagem relevante do universo do Captain America, contudo, é aqui mesmo onde reside o problema. Pois agora com este último fora de cena, a sua personagem fica perdida e dispersa no meio de toda esta história, servindo mais como uma conveniência narrativa, quando os protagonistas têm algum contratempo, do que realmente acrescentar algo de significativo.

De outro ponto de vista, são introduzidas novas caras a um mundo já tão rico em personagens, sendo o mais destacado John Walker, o novo herói americano, sendo quase um paralelo a Homelander da série The Boys. Pois, como seria de esperado, nem tudo é o que parece, e Walker tem muito mais que se lhe diga e que vai sendo mostrado ao longo da série.

Aliás a forma como Spellman quis retratar Walker, não só favorece um dilema pessoal bastante interessante que vai muito ao encontro daquilo que a série pretende retratar, como constroí uma personagem muito intrigante, e não tão “preto no branco”, como a Marvel costuma fazer. O desfecho dado a este último é bastante sólido, o que inclui algumas cenas que com certeza surpreenderão positivamente os fãs, embora saiba que a Marvel é perita em deixar pontas soltas, criando expectativas para outras produções a longo prazo.

Se Wandavision foi uma série que arriscou bastante, sendo sui generis e bastante experimental, no tipo de produções que associamos a uma aventura tradicional de super-heróis, The Falcon And The Winter Soldier é mais terra-a-terra e convencional. Como já referi algumas vezes no decorrer da análise, é impossível não tecer comparações com outros filmes do MCU, e é sem dúvida Winter Soldier, agora indo pelo nome de White Wolf, que mais beneficia desta construção.

No entanto, com isto em mente, Spellman tentou dar um pouco mais do holofote a Sam Wilson, cujos problemas pessoais e familiares, são expostos de forma bastante crua e intima. Algumas destas cenas podem parecer mais monótonas e aborrecidas, se levarmos em conta o clima grandioso e todo o pano de fundo da série, ainda assim consigo perceber a sua importância, pois o que realmente aqui interessa é o destaque pessoal na vida dos protagonistas, portanto diria que a sua presença é bastante bem-vinda.

Um dos pontos que me deixou mais desiludido relaciona-se com os Flag Smashers, em especial, a sua líder, Karli Morgenthau (Erin Kellyman). Apesar de o grupo ter as suas motivações, explicitamente referidas, de querer recriar o soro de supersoldado, na tentativa de edificar um mundo sem fronteiras, sinto que foi a parte mais fraca de The Falcon And The Winter Soldier. Raras foram as ocasiões que me senti, verdadeiramente, investido nestas personagens, o que se refletiu no desdém sentido aquando do clímax da série.

Ainda assim, com a presença de outras plot-lines secundárias que acabam por diversificar o tipo de ameaças e conflitos que o par de protagonistas tem de lidar, acaba por encobrir, parcialmente, o fraco desenvolvimento dado aos ditos vilões. Se bem, que a situação pandémica mundial, atrasou e modificou em parte aquilo viria a ser o resultado final da produção, portanto, também consigo compreender um pouco melhor este lado.

Quantos aos aspectos técnicos, não me vou prolongar muito, pois tudo aquilo que vimos, em termos de qualidade no MCU, está aqui presente, desde os efeitos especiais, dignos de ser vistos no cinema, até ao detalhes de adereços, roupagem e construção de cenários. Há muitas mais cenas de ação, embora o investimento no CGI ser mais utilizado no início da série, muito para captar a atenção das pessoas, sendo que só se torna, novamente, mais presente nos últimos episódios. O clima de guerra também volta em força, bebendo muito na fonte que, os irmãos Russo trouxeram à tona no filme de 2014, tendo uma camada política e de espionagem competente e que se encaixa bem no género da série e naquilo que é deixado nas mãos de Spellman.

The Falcon And The Winter Soldier está longe de ser uma obra-prima no meio televisivo, contudo, se considerarmos esta série como parte de um todo, de um universo compartilhado muito mais extenso e complexo, é mais uma produção competente, em dar um olhar mais intímo em duas personagens outrora secundárias nas produções cinematográficas.

Quem for com este mindset para a série sairá satisfeito, mas caso estejam à espera de algo épico ou estrondoso no que toca à narrativa, poderão ficar desiludidos. Daí que a série é perfeitamente recomendável, a quem como eu, já acompanha o MCU há já tanto tempo. E caso tenham gostado particularmente de The Winter Soldier (2014) e Civil War (2016) então a série torna-se uma obra obrigatória da Marvel.

Positivo:

  • História;
  • Cenas de ação e combate;
  • John Walker é uma personagem proeminente;
  • Bem integrado com o resto do MCU;
  • Olhar íntimo na vida dos protagonistas;
  • Zemo rouba a cena e é uma adição mais que bem-vinda;
  • Sam Wilson e Bucky Barnes funcionam bem como dupla;

Negativo:

  • Flag Smashers deixam muito a desejar em termos de desenvolvimento;
  • Sharon Carter dispersa e sem grande encaixe na história;

 

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