“A nova geração está corrompida, nunca será como a anterior”. Uma consideração com mais de três mil anos.
Spring Breakers – o novo filme de Harmony Korine (Kids e Trash Humpers) – retrata uma franja da nova geração, acusada de imoralidade sexual, que valoriza a diversão em detrimento da responsabilidade, com o estigma do Peter Pan, gulosa por drogas e com propensão pra a violência. Ou seja, uma fornada na linha da geração de Maio de 68.
Spring Breakers conta a história de Faith (Selena Gomez), Candy (Vanessa Hudgens), Brit (Ashley Benson) e Cotty (Rachel Korine), quarto jovens amigas que decidem aproveitar o Spring Break (pausa escolar para os estudantes americanos) porque, aparentemente, é uma desgraça social não seguir em rebanho. O filme descreve o ambiente e as experiências durante a época, com a aventura a assumir contornos dramáticos. Tudo começa quando as jovens conhecem Alien (James Franco), um gangster que gaba-se de ter cometido todas as ilegalidades do mundo. Necessariamente, as jovens serão arrastadas para um submundo perigoso, que mistura o luxo e criminalidade.
A realização de Harmony Korine prometia bastante. Realmente Spring Breakers tem o mérito de trazer algo diferente: a iluminação proporciona contrastes invulgares de cores e os enquadramentos são imprevisíveis. A banda-sonora é um acréscimo de qualidade, escolhida e aprimorada por Skrillex.
Analisando de forma rigorosa, Spring Breakers exemplifica que uma temática interessante não é sinonimo de uma boa história. Para mal dos pecados do projecto, esta noção emerge logo no início do filme. Spring Breakers padece de problemas gravíssimos na estrutura da história e desenvolvimento das personagens, os acontecimentos sucedem-se de forma aleatória e a originalidade da realização esgota-se em si própria.
Os erros em Spring Breakers são “fortes e feios”, portanto, fica o aviso da referência a situações que podem arruinar a experiência de quem pretende ver o filme.
Spring Breakers é um dos piores filmes do ano. É imperdoável o deficiente desenvolvimento das personagens. A regra que defende: “personagens e história são igualmente importantes” não é axiomática, desde que o filme mantenha a originalidade e a surpresa (ex: Cloud Atlas ou Monty Python: O Cálice Sagrado) a experiência cinematográfica fica salvaguardada. Agora, é sempre mau sinal quando as protagonistas do filme não são dotadas de personalidade, remontam para uma construção simplista, sem o sumo indispensável para estabelecer uma relação empática..
As personagens principais são diminuídas a massas amorfas, vazias de vontade própria. Até podemos esforçar-nos para distingui-las, mas não conseguem descolar da personalidade das actrizes (ex: Selena Gomez faz de Selena Gomez), ou dos estereótipos que representam. O único actor que aparenta estar a experimentar o personagem é – James Franco. Talvez pela maior experiência, tenta encontrar no texto algo mais do que o burlesco e o exagero. A story-line já foi referida – quatro jovens raparigas aproveitam o Spring Break (altura de excessos), mas a aventura ganha contornos desesperantes.
Desesperante é a forma como os acontecimentos desenrolam. Alien entra na vida das jovens “porque sim”, as jovens acompanham-no porque “ya”, Selena Gomez – a personagem com o mínimo desenvolvimento e potencial para criar conflito – sai a meio do filme por obra e graça do Espirito Santo (se calhar não havia orçamento para a actriz), a miúda do cabelo rosa – queria associar um nome à personagem, mas é impossível – imita Selena antes do climáx, ficando a responsabilidade do desfecho da (não) história do filme nas mãos das “duas loiras malucas”. O clímax não é mais do que uma vingança de Alien contra o ex-melhor amigo (um personagem que vemos duas vezes no filme), que envolve troca de tiros e assassinatos. O sub-plot, alheio às protagonistas e exclusivo de Alien, fica rapidamente órfão do personagem interessado (Alien morre imediatamente no início da cena), deixando o clímax vazio de significado e pertinência.
Harmony Korine prometia um bom trabalho no trailer, pelo menos do ponto de vista visual, afinal, há influências evidentes: A Laranja Mecânica, Scarface e O Padrinho. O resultado final é um tremendo amargo de boca. Korine é vítima do tique inconsciente de realizar cada evento como um videoclip, para agonizar ainda mais a realização, insiste em criar uma dicotomia entre o visual e a banda sonora (com imagens agressivas acompanhadas de música melodiosa, e música agressiva acompanhada com imagens pacatas). A técnica é aplicada demasiadas vezes e a mensagem gasta-se e o impacto esvazia. Se quiserem ver uma dicotomia bem construída, recomendo a recta final do primeiro filme do O Padrinho.
Balanço final: Spring Breakers é estupido. Pedir às meninas da Disney para dizerem palavrões não é chocante. As boas ideias não são bem executadas e as tentativas de provocação acertam em cheio no absurdo. Na realidade não seria muito complicado aproveitar a temática, bastava fazer um copy/paste de Thelma & Louise (1991). Personagens com inquietações, em processo evolutivo, que entram na estrada de não retorno.
Positivo
- Heather Morris
- Alguns momentos da realização
- Direcção de Fotografia
- Banda Sonora
- Temáticas na génese da história
Negativo
- Narrativa
- Exagero nas opções da realização
- Insipiência dos personagens
- Temática da imoralidade sexual como pretexto para cenas de sexo
- James Franco a fazer um flacio ao cano de uma arma
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