Análise – Os Miseráveis

Chega a Portugal o novo filme de Tom Hooper, realizador Oscarizado pelo trabalho desenvolvido em O Discurso do ReiHooper apresenta uma nova versão de um dos maiores musicais de sempre, inspirado no romance de Victor Hugo: Les Misérables.

A história conta a vida de Jean Valjean (interpretado por Hugh Jackman), escravo libertado, que entrega-se a Deus e assume nova identidade, tornando-se um homem influente e respeitado. Porém Jean Valjean ficou marcado no passado por Javert (Russell Crowe), um militar bastante duro, que encontrará Valjean anos depois e com outro nome. A verdadeira identidade de Valjean, será descoberta quando este a revelar para salvar a vida de um homem, que iria ser executado em nome de Jean Valjean. Mas um acontecimento obriga a personagem de Jackman a manter-se vivo, nomeadamente uma promessa feita a Fantine (personagem de Anne Hathaway), que no leito de morte, pede a Valjean para encontrar e zelar pela filha Cosette.

A história segue por um caminho que percorre o duelo pela sobrevivência entre Javert e Valjean, a relação de pai e filha entre  Valjean e Cosette, e a afirmação dos liberais franceses no século XIX.

A olho nu, o enredo e a organização da trama em Les Misérables não acrescentam nada à Sétima Arte. A rigor, não é mais do que uma história clássica, dividida em 3 actos, na qual a preparação para o inciting incident demora trinta minutos, somados ao desenvolvimento e resolução, atingindo as três horas de pelicula.

Mas como fazer uma história estandardizada, em arte?

Do ponto de vista da realização, Tom Hooper está a escrever o nome nos manuais cinematográficos, o realizador britânico insiste em quebrar a regra dos dois terços nos enquadramentos. Só alguém que não sabe o que está a fazer, poderia optar por este estilo, mas Hooper sabe, e tem um talento e consciência de espaço notáveis. A opção, para além de esteticamente interessante, proporciona um jogo de proximidade com as personagens, alimentando a informação no subtexto e a representação, sem criar qualquer efeito de estranheza na mudança de planos.

A edição sonora, padece de autismo, há uma orquestra afinada e sincronizada com o tempo e a respiração dos actores, mas vêm-se em tremendas dificuldades para sincronizar os efeitos sonoros das passadas de um cavalo com a imagem.

Há a salientar que em Les Misérables, foi tomada a decisão de não utilizar playback durante as gravações. Os actores foram preparados para cantar e representar ao som de um piano, potenciando as pausas e os silêncios dramáticos, ficando o registo vocal daquele momento para o produto final. Só por esta decisão, Les Misérables distancia-se de todos os outros musicais, deixando os demais no registo do videoclip.

Mas será que o musical pode gladiar-se com os outros géneros? Les Misérables, atinge na perfeição o que todos os filmes deviam prosseguir, uma extraordinária explosão de emoções e sentimentos que atinge o espectador em cheio. O filme é uma cascata de comunicação, com o alcance do registo a partir da solidão de uma personagem à revolta de uma multidão. Comunicação que chega através das decisões de realização, das músicas, da representação, até do guarda-roupa. Nada está ao acaso.

A comparação com O Discurso do Rei é inevitável, o vencedor do Óscar de filme do ano de 2010, demarca-se pela incomensurável interpretação de Colin Firth, mas O Discurso do Rei não atinge um elemento que é uma mais-valia numa obra de arte e existe a rodos em Les Misérables: A “tesão”. Em Os Miseraveis, cada segundo é empregue como se fosse o último, as músicas cantadas à desgarrada tiram-nos o folego, cada cena é fechada em apoteose, até a inocência da rivalidade da nacionalidade entre Jackman e Crowe funciona em favor do filme.

A somar a todos estes factores, as músicas são eternas e maravilhosas, quem não conhece, com certeza passará a conhecer.  São orquestradas de forma sublime e sem elas o filme não conquistaria o patamar de excelência.

Provavelmente haverá pessoas que não querem ficar tanto tempo numa sala de cinema, haverá quem não goste de musicais, e com certeza, existirá quem não está minimamente ralado no que o filme tem para oferecer, todavia, Les Misérables, é o melhor musical alguma vez realizado para cinema, por todos os elementos identificados nesta análise, e um dos melhores filmes alguma vez concebidos, que será visto e tido como referência durante gerações.

 

Positivo:

  • Realização
  • Músicas
  • Hugh Jackman
  • A carreira promissora de Samantha Barks
  • O épico empregue na apresentação das personagens
  • A direcção do elenco infantil
  • Dinâmica entre Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen

 

Negativo:

  • Anne Hathaway, a actriz parece estar a divertir-se mais do que o público, e no mundo do espetáculo, está eticamente errado
  • Distrai num plano temos; Wolverine, Catwoman e Maximus
  • Alguns desacertos com os efeitos sonoros

 

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