Análise – Jurassic World Dominion

Quando se trata de amplos filmes que envolvem dinossauros, a franquia Jurassic Park sempre teve a sorte de competir sozinha. Mesmo na ausência de concorrentes à altura, nenhuma das sequelas conseguiu consignar uma experiência digna, sem comprometer vários dos elementos básicos de storytelling. Trata-se mesmo de um caso sem igual, onde a cada tentativa de prolongar as ideias e proposta da obra original, só piora, sem qualquer motivo que o justifique.

Esta última passagem da saga é realizada por Colin Trevorrow, sendo produzido pela Amblin Entertainment e distribuído pela Universal Pictures. Se para muitos Jurassic World: Fallen Kingdom foi o pior dos piores, adianto que Jurassic World Dominion não lhe fica muito atrás. Alguns anos após a erupção que levou ao abandono da Ilha Nublar, o que restou dos predadores do jurássico vagueia agora pela civilização humana ao redor do mundo. Os problemas desta quinta sequela começam logo nesta premissa muito tentadora, mas igualmente infundada.

Se aquilo que esperam de Dominion é ver os dinossauros a invadir e conquistar a selva urbana, isto é apenas uma franja muito reduzida daquilo que vão encontrar (que por sinal todos estes momentos estão nos trailers). De facto, o drama humana ocupa toda a experiência do filme, ficando os momentos de interação com os dinossauros para cenas pontuais de ação e suspense. A maior promessa do antecessor de 2018, não se concretizou.

A única coisa a ter seguimento é a personagem Maisie Lockwood (Isabella Sermon), sob a guarda de Owen (Chris Pratt) e Claire (Bryce Dallas Howard), que vivem escondidos, juntamente com a velociraptor domesticada Blue e a sua cria Beta. Pela força das circunstâncias o grupo é obrigado a insurgir-se contra a nova organização maléfica da vez, BioSyn, que tem vindo a capturar estas criaturas do passado, por motivos duvidosos. E como está na moda em franquias deste tipo, o argumento a cargo do par Derek Connolly e Emily Carmichael, vai mexer no baú da nostalgia.

Neste caso ainda bem que o realizador o fez, pois francamente são o único aspeto realmente positivo nesta salganhada de filme. Contudo, não é como em The Force Awakens, que o enredo tenta encaixar de forma orgânica o velho e o novo, aqui vê-se pela presença  dos atores que o caché falou mais alto. É visível o desconforto e sensação de estar a mais. Por muito que isto seja verdade, não nego novamente, Alan Grant (Sam Neill), Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum) são e mantém-se personagens interessantes, mesmo com tudo o que disse. São a alma e coração de Dominion, mas estão longe de o conseguir salvar.

Assim a campanha de marketing engenhosamente empurrou para a linha da frente os protagonistas da primeira trilogia, sendo eles o chamariz de atração para os fãs antigos e também dos novos que abandonaram o barco após sucessivos fracassos. Só que esta jogada, na prática, não é acompanhada de uma boa coesão narrativa, com a história que se havia desenrolado no passado. Além do argumento ter de conciliar antigos e atuais personagens, ainda adiciona outras tantas secundárias.

Tendo pois um elenco enorme a asfixiar o espaço uns dos outros. Há sucessivos saltos ininterruptos de qual o foco a seguir no primeiro e segundo ato, mas quanto aos dinossauros, mal vê-los. Sim, eles lá aparecem, mas apenas quando é conveniente para colocar as personagens humanas cirurgicamente noutra situação de perigo iminente. O pior é mesmo que tais situações tinham imenso potencial no guião para ir mais além, não obstante, sem grandes surpresas repetem de forma semelhante tudo aquilo que já vimos algures nos outros filmes.

Claire a esconder-se de um Therizinosaurus  a meros metros de distância, enquanto controla a respiração evitando ser vista. Owen e Kayla Watts (DeWanda Wise) são encurralados por Atrociraptors numa perseguição de vida ou morte, carregada de adrenalina e explosões. É esta reciclagem de ideias do passado que pauta o filme todo…

Nem mesmo avaliando dentro do prisma do género de ação, se pode dar algum mérito, é tudo muito aquém até na execução das cenas. Aliás, não existem consequências reais, que nos façam prender à cadeira receando pelo destino das personagens, ao contrário do que fez, recentemente outro blockbuster, Top Gun: Maverick. Para Owen basta esticar o braço e a palma da mão diante do inimigo, que nenhum dinossauro, treinado ou não, cederá a tal gesto (não estou a exagerar). É inacreditável o quão preguiçoso e sem nexo o argumento que rege esta história pode se tornar em poucos minutos.

E vou mais longe, a realização tenta encontrar incessantemente motivos que colem todas estas personagens numa narrativa sólida, mas tem pouquíssimo sucesso a fazê-lo. Já os efeitos especiais não tenho nada de bom, nem de negativo, a apontar. Não se apresentam incompletos como em Jurassic World, o que já não é mau. O CGI é favorecido pelo ambiente e fauna selvagem que o circunda, o que diminui ligeiramente a perceção irrealista de tal efeito.

Agora, quando ocupa toda atenção da câmara, aí a debilidade gráfica é notória. Ainda no olhar técnico, toda a composição e cinematografia é o que se espera de uma habitual produção americana de orçamento milionário, não arriscando inovação em nenhum dos seus constituintes. Até o primeiro desta trilogia trazia novas de ideias, de como trabalhar o som e imagem para e com os dinossauros, pois parece então que tal força se perdeu pelo trilho de mediocridade até 2022.

Não tenho nenhum apego nostálgico para com Jurassic Park, apenas nutro estima pelo primeiro, mas ainda assim tenho comoção para com os fãs que sobrevivem lançamento após lançamento numa rampa vertiginosa de desilusão atrás de desilusão. É com muita pena que vejo esta franquia, que mantinha de pé o conceito de trazer os dinossauros ao grande ecrã, a fechar quase trinta anos de história, desta maneira lamentável.

Trevorrow escavou o buraco em 2015, portanto faz todo o sentido regressar agora para finalizar a sepultura da trilogia que começou. Acaba por ser também uma despedida total dos seis filmes da franquia Jurassic Park, por muito que me seja difícil acreditar que não a irão pegar novamente daqui a alguns anos. Seja como for, apenas posso rematar, que se por acaso gostaram dos anteriores dois filmes da trilogia World, este está algures no mesmo patamar, e talvez só nestas circunstâncias específicas consiga recomendá-lo.

Para todos os outros curiosos, podem deixar esta despedida de lado, e assistir a qualquer outro blockbuster em exibição, ou na melhor das hipóteses rever mais uma vez o clássico parque jurássico no serviço de streaming mais próximo. A meu ver, é mesmo a maior desilusão do ano, no que toca a grandes lançamentos provenientes do cinema norte-americano.

João Luzio
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