Bound By Flame é uma mistura de elementos de vários RPG’s existentes mas sem a profundidade que um RPG merece, tal como comer um bolo brigadeiro seco e sem creme, sabe a chocolate mas a desilusão é inevitável.
Vamos começar por falar das bases da história. Vindos do norte, os mortos vivos comandados pelos senhores do gelo têm vindo a atacar a população desde há 300 anos. Hoje em dia, restam apenas pequenos grupos que tentam sobreviver a estes ataques.
O nosso personagem é um mercenário chamado Vulcan, e podemos criar uma personagem segundo algumas escolhas pré-feitas, como atribuir um penteado a uma cara. Logo no início, somos possuídos por um demónio que se revela bastante ofendido por ter sido aprisionado no nosso interior, no entanto se nós morrermos, também ele.
Para que tal não aconteça o nosso novo melhor amigo dá-nos o poder de controlar chamas. Estas chamas tomam forma em 4 tipos de ataque mágico, uma clássica bola de chamas, uma pequena explosão, pequenas bolinhas de fogo que orbitam sobre nós e reduzem o dano e finalmente podemos usar as chamas nas nossas armas para aumentar o seu ataque.
O sistema de evolução é satisfatório incluindo duas componentes. Por cada nível ganhamos dois pontos para gastar entre 3 árvores distintas, uma para cada pose e outra para a magia. Ganhamos ainda um ponto adicional para habilidades extra que vão desde gastar menos recursos para a criação de items até ao dano que podemos causar, estas vão ficando disponíveis conforme formos completando certas acções.
O combate é um excelente exemplo do que não se deve fazer, sendo uma mistura entre as mecânicas de Dark Souls e The Witcher, vamos encontrar-nos não a fazer uso da nossa cabeça para criar estratégias, mas sim como abusar das falhas dos inimigos.
Existem duas poses de combate, a de guerreiro onde usamos uma espada um martelo ou um machado, e usamos pontapés para derrubar inimigos com escudos, e a do ranger, um par de adagas, movimentos extremamente rápidos e a habilidade de esquivar e ripostar.
Para criar alguma mistura existe uma terceira pose, a de pyromancer ou seja misturar os feitiços de fogo nestes dois tipos de combate. Na teoria isto resultaria muito bem, no entanto usando a pose de ranger, e estando a esquiva e o ripostar num único botão, é possível passar todo o jogo com a seguinte técnica: atacar, atacar, esquivar e repetir.
Os inimigos são um osso duro de roer, perdi a conta às vezes em que morri contra inimigos de baixo nível, uma distracção em combate é tudo o que é necessário para perdermos a vida. O que nos leva ao abuso das nossas técnicas.
No entanto e apesar de podermos abusar da técnica descrita acima, os inimigos continuam a ser um problema em que pensar quando estão em grupos. Mas calma também temos armadilhas que se montam em 2 segundos e uma besta com flechas pronta a disparar. As armadilhas são um conceito engraçado mas que na maioria das vezes se revela ineficaz já que é necessário planear o exacto sitio onde os inimigos vão pisar.
Após os combates e em alguns pontos dos níveis, podemos recolher vários ingredientes para criar poções; podemos ainda criar armadilhas e flechas. Neste menu podemos também adicionar elementos extra às nossas armas e armaduras, tendo um leque bastante extenso de opções.
Podemos levar uma outra personagem connosco para os níveis, estas personagens estão construídas de modo a terem as suas ideias, pontos fortes e fraquezas. Algumas delas vão dar-nos missões secundárias e podem mesmo ser alvo do nosso charme demoníaco.
O problema é que os níveis são extremamente pequenos tendo em conta o conceito de RPG, até Final Fantasy 13 tem mais exploração. As missões secundárias vão levar-nos de volta ao mesmo mapa vezes sem conta. Há missões que só podem ser feitas a uma determinada hora do dia, é um sistema que não está bem aproveitado pois tirando o estar de noite e visibilidade reduzida a 3 metros, ou de dia e ver uma parede a 3 metros não é muito diferente.
Um ajudante que rapidamente se tornou o meu favorito é um morto-vivo sarcástico que dá pelo nome Marthras, após 6.000 anos de vida e muitos corpos é a personagem que mais risos me arranca. Para dizer a verdade foi uma lufada de ar fresco ver um zombie deste género.
Um grande ponto positivo deste jogo são os diálogos que bem ao género de Mass Effect fazem com que as personagens reajam de forma diferente ao nosso protagonista. Estes diálogos estão bem trabalhados e não devem ser levados muito a sério. O jogo tenta contar uma história num tom sério, mas o abuso de palavrões e certas expressões tornam o diálogo em algo esquisito.
Dada a existência de um demónio dentro de Vulcan, é inevitável certos diálogos com este personagem, e num dado momento do jogo somos levados a escolher entre usar o poder deste demónio ou agarrarmo-nos à nossa humanidade. Esta escolha muda todo o jogo pois daqui para a frente sempre que existe uma escolha deste género, ela é feita automaticamente tendo em conta a nossa resposta neste momento. As únicas escolhas em que realmente temos influência são os nossos companheiros de equipa, entre ajudar e não ajudar, concordar e discordar, vamos ver alguns desenvolvimentos corajosos para este tipo de jogo.
Dada a nossa escolha o nosso personagem irá sofrer alterações físicas e vocais, tendendo a parecer-se cada vez mais com o demónio que o possui caso escolhamos os seus poderes.
A nossa aventura pode durar entre 12 a 30 horas dependendo do número de missões secundárias que fizermos.
Graficamente o jogo não deslumbra, mas o ambiente é bastante rico, assim como as suas animações. A direcção artística é complementada com música ambiente, sendo que apenas em pontos chave se revela soberba, nomeadamente no fim.
Bound By Flame é um jogo que acaba por ser feito numa Bimby misturando o melhor que já foi feito anteriormente em vários RPG’s, sem inovar. Para minha surpresa não encontrei nenhum bug durante o jogo algo que é bastante comum acontecer neste género; a minha experiência foi bastante divertida e pretendo regressar à luta contra os Ice Lords para explorar os aspectos alternativos do jogo.
Positivo:
- Impacto das nossas escolhas nas personagens secundárias
- Mathras, o morto-vivo
- Sistema de criação de items
- Customização de armas e armaduras
- A maioria das opções tem consequências…
Negativo:
- …mas nem sempre têm impacto
- Cenários pequenos e sem exploração
- Combate entediante.
- Falta de personalidade na vasta maioria das personagens
- Vozes genéricas
- Muitas ideias com má implementação
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