Primeiras impressões – Digimon Adventure: Episódio 1

A tão esperada nova série de Digimon finalmente chegou, e como já suspeitava está a mudar por completo a percepção do que estes seres realmente são, uma ideia que os criadores já tinham há alguns anos e que começaram a implementar com o jogo Digimon Survive que já devia ter visto a luz do dia no ano passado mas foi adiado para este ano.

Digimon são criaturas digitais que vivem na rede (internet), é a ideia de uma nova origem que a Bandai Namco e a Toei Animation querem dar com a série daqui para a frente. Será que isso é mau? Pessoalmente prefiro mais a ideia original, embora a série anteriormente tenha-se chegado perto deste conceito com Digimon Tamers, mas não é algo que me faz afastar do reboot pois pelo menos consigo diferenciar uma coisa da outra. Posso não ser o maior fã deste conceito mas a série original ainda é a minha favorita e não é estragada por isto, por isso continuarei a observar o que este reboot tem para oferecer, e até teve alguns pontos interessantes, bem como outros menos interessantes no seu primeiro episódio.

Não planeio fazer isto para todos os episódios da série, pelo menos por agora isto é apenas um caso isolado. Simplesmente enquanto via o primeiro episódio o meu lado fanboy não deixou de ficar inspirado ao fazer comparações e observações e então achei que seria um desperdício não transmitir os meus pensamentos para o resto do mundo já que normalmente até fico satisfeito com esses resultados.

Obviamente que vai haver spoilers para o primeiro episódio e a série original de Digimon Adventure.

Tenho a dizer que não gostei muito da voz de Taichi. A actriz que está a dar a voz ao mesmo (Yuuko Sanpei) ainda é nova, estando nos seus 30 e poucos, mas torna-se óbvio que não é uma criança que está a falar (normalmente no Japão são as mulheres que dão a voz a personagens masculinas que ainda não estão desenvolvidas). Uma segunda reclamação minha é sobre a música que não foi nada especial, obviamente que Butterfly não seria o tema de abertura mas este novo tema irá demorar imenso para ganhar fãs (vá eu apreciei a referência), e durante todo o episódio apenas ouviu-se o mesmo tipo de BGM a tocar, mesmo quando Agumon evoluiu para Greymon (sem nenhum tipo de música nem que fosse para imitar Brave Heart) e quando ele começou a lutar segundos mais tarde se não tivesse havido uma pausa pelo meio eu nem iria reparar que a música havia mudado pois esta utiliza os mesmos instrumentos e o mesmo ritmo. A música do anime original continha mais variedade neste campo.

Estes foram os principais problemas que tive com o reboot, embora tenha encontrado outras coisas que não gostei mas isso tem a haver com a história e a maneira em como o episódio dirigido num todo. O sentimento de aventura que está presente no título não esteve realmente presente neste episódio, e ao ver o mesmo não pude deixar de pensar no quão cliché este esteve quando comparado com o primeiro episódio do original, algo que realmente espero que seja corrigido no futuro pois se continuar desta forma por um bom par de episódio irá estragar a magia que o original tinha pois pelo episódio 14 já estes estavam a partir para um novo continente, e aqui ficaria impressionado se o grupo todo já estivesse junto por essa altura.

Tenho pelo menos de admitir o quanto apreciou o facto de eles terem mantido o design original das personagens (com nova roupa) ao invés de terem feito um total reboot às mesmas (embora não reclamaria se o fizessem em Digimon 02).

Esta nova versão do anime começa de uma maneira diferente do original. Enquanto que no original a história era iniciada com uma narração de que o mundo tem visto mais desastres naturais a acontecer, aqui somos antes introduzidos à “rede” (internet). Logo de imediato vemos Taichi (Tai) a preparar a sua mochila para o acampamento de Verão, enquanto que na versão original ele já lá estava.

O anime também decide introduzir uma personagem mais cedo (que até está na abertura), sendo essa personagem Hikari (Kari), com Tai a contactar a mesma e a sua mãe que estavam a meio de trocar de comboios para chegar até à sua destinação. Hikari já aparecia no poster promocional que foi utilizado por isso até que era óbvio que isto iria acontecer, com a única questão a ser quando é que a personagem irá tornar-se relevante para a história já que na versão original do anime esta apenas tornou-se numa peça central a meio do mesmo.

Tendo em conta que esta nova versão da história tem lugar em 2020 em vez de 1999 é normal ver as personagens com smartphones e semelhantes, algo um pouco estranho já que na versão original nenhuma tinha telefone e por vezes isso até tornou-se relevante. Como por conveniência Tai começa a ver notícias sobre problemas que estão a ter lugar em Tóquio quando alguém bate à porta, e eis que Izzy (Koushiro) aparece, sendo uma pessoa que acabou de mudar-se com os seus pais e como é costume Japonês anda a visitar os vizinhos para introduzir-se.

Isto está a par com a versão original onde Izzy havia mudado para perto de Tai e os dois já se conheciam, fazendo até parte do mesmo grupo de futebol que incluía também Sora. Aqui estamos a ver ambos a conhecerem-se pela primeira vez (embora Tai aparentemente já tinha conhecimento do novo rapaz que acabou de mudar-se) e dá para ver que nesta versão Izzy é um pouco reservado enquanto que na original ele possuía problemas em comunicar com outras pessoas, embora a sua curiosidade ganha a batalha quando este ouve as notícias que estavam a ser transmitidas pelo smartphone do Tai.

Não tenho a certeza quanto a esta “nova versão” de Izzy. Quando olho para o anime original e penso nas vezes em que este chegava ao ponto de ignorar e ser um “imbecil” para os outros (em especial Mimi) apenas porque estava ocupado e mais interessado em satisfazer a sua curiosidade, não vejo este novo Izzy que é reservado a cometar as mesmas acções e isso a meu ver é um problema pois a sua personalidade original era interessante e um problema que este tinha de reconhecer a resolver para crescer enquanto pessoa, algo que Tentomon apontava vezes sem conta.

Mas volto a repetir que aprecio o facto de estarmos a ver a amizade entre Izzy e Tai a formar-se, com Tai a referir que é mau com electrónicos (algo natural em 1999 e não em 2020, em especial quando este estava ver notícias no seu smartphone, mas quem se lembra das vezes em que Tai arranjou o portátil de Izzy à pancada?) e de Izzy ficar contente por alguém tomar interesse no seu hobby. A este ponto ainda não é certo qual é a história de Izzy neste reboot, se será a mesma de adopção ou outra diferente, o que havia causado o seu distanciamento e problemas sociais originalmente, mas talvez seja algo semelhante que tenha levado este a interessar-se ainda mais em computador e ficar impressionado quando outra pessoa da sua idade oferece-lhe um elogio por isso.

E com isto já foram cinco minutos do anime e no original há muito que estávamos no mundo digital. Mas é agora que a história começa a ganhar terreno e a introduzir o problema que irá levar ao encontro entre Tai e Agumon. Algo está a acontecer com o centro de controlo dos comboios de Tóquio e obviamente Tai fica preocupado com a sua mãe e irmã, e ambos decidem ir até à estação para ver o que está a acontecer.

Chegando à estação ninguém sabe o que fazer e é nessa altura que Tai decide fazer o que tem a fazer, ganhando a coragem de saltar as barreiras e seguir em frente, algo que é representado pela personagem a colocar os seus famosos óculos de protecção na cabeça. Como se não bastasse também temos um vislumbre da insígnia de coragem, que é o que representa Tai e uma peça importante no anime original, dando a ideia de que cada personagem deve demonstrar uma acção que representa a sua insígnia para poder aceder ao mundo Digital pois Tai é transportado para o mesmo (ao estilo de Digimon Frontier) deixando apenas o seu smartphone para trás.

Enquanto Tai está a ser transportado para o mundo Digital o mundo real é afectado por várias interferências nos seus electrónicos, com o alfabeto do mundo digital a aparecer e muito mais, mas uma pequena coisa que quero destacar é as portas electrónicas que deixam as pessoas passar para a estação. Tai saltou por cima delas para poder entrar na estação, mas quando temos um breve vislumbre das mesmas estas estão abertas pois Tai está neste momento a entrar no mundo digital e depois fecham-se pois por agora mais ninguém tem o direito de o fazer. Isto também é uma pequena referência ao anime original pois este terminou com as personagem a irem-se embora num trólei e com a narração de que “um dias as portas voltarão a abrir-se” (e assim o fizeram nas sequelas). Mas é um bom toque para os velhos fãs e explica o facto de a equipa de produção ter seleccionado a estação como o primeiro ponto de entrada para o mundo digital nesta nova aventura.

Digo também que até que gostei do tema que estava tocar durante este momento, ao contrário do resto do episódio.

Tai entra então no mundo digital e vê Koromon que precisa de ajuda, decidindo resgatar o mesmo, e ao fazê-lo algo acontece, criando uma luz que chama a atenção das outras (futuras) crianças escolhidas. Nesta versão Koromon continua a ter conhecimento sobre Tai e isto estava relacionado com os eventos do primeiro filme que levou Tai e os outros a serem nomeados como as próximas crianças escolhidas, sendo que os Digimon das mesmas apenas sabiam que deviam esperar por uma certa pessoa que chegaria num certo dia. Aqui não foi explicado como Koromon tem conhecimento de Tai mas pergunto-me se a luz que acontece é suposto substituir os eventos do primeiro filme ou se é apenas uma desculpa para fazer um teaser às outras personagens.

Durante este momento Izzy demonstra interesse em descobrir o que está a acontecer, resultando na sua vez de despertar o seu destino como uma das crianças eleitas, embora este não vá parar ao mundo Digital. Este contacta Tai e então começa a cair a exposição que na versão original apenas começou a chegar a partir do segundo episódio.

Pessoalmente não sou fã destes métodos onde logo de imediato uma pessoa sabe tudo o que está a acontecer e transmite a informação ao protagonista, em especial quando parte da razão a qual eu gostava do anime original era a de as personagens não terem muito a noção de onde estavam e do que fazer, andando várias vezes de um lado para o outro a tentar sobreviver ou a explorar qualquer coisa nova que encontrassem.

Algo que também é diferente é que no anime original as personagens foram logo atacadas por Kuwagamon, um Digimon forte para estes novatos que acabaram de iniciar a sua aventura, sendo que então eles não tem a oportunidade de falar e esclarecer o que está a acontecer já que tem de correr pelas suas vidas. Aqui não temos Kuwagamon, havendo antes um monte de Digimon fracos mas que mais tarde evoluem para um mais forte, obrigando Agumon a digivoluir para Greymon algo que inicialmente apenas acontecia no segundo episódio. Basicamente o pacing de toda esta segunda metade foi demasiado rápido e apenas tínhamos duas (três com Agumon) personagens em campo ao contrário das inicias sete (catorze).

Tenho a destacar pelo menos que Tai decide interromper a exposição e Izzy para ir ajudar Agumon que estava a ser atacado, algo que ele totalmente o faria e até fez no anime original, demonstrando que Tai continua a ser a mesma personagem mesmo que isto seja um reboot.

Temos a exposição de Tai estar na rede e de os Digimon estarem a afectar os eventos do mundo real tal como o problema da linha de Tóquio que está a acontecer. Convenientemente o portátil de Izzy ganhou um update e consegue fazer de tudo como analisar Digimon, algo que apenas era possível no original após uma pequena intervenção feita por Gennai por volta do episódio 20. Isto leva-me a perguntar se irá existir um Gennai neste reboot ou não já que muito provavelmente este não teria uma grande função como guiar as personagens já que aparentemente esse papel foi dado a Izzy.

Após isto não há muito a dizer, as personagens trataram de eliminar o resto dos Digimon, um deles digivoluiu o que levou a Agumon a transformar-se em Greymon naquilo que já disse de estar acompanhado de uma má banda sonora. Após isso o problema em Tóquio é resolvido mas Izzy detecta que um novo problema surgiu em América (Mimi?), com o episódio a terminar com Tai a reparar em Yamato (Matt) e Garurumon à distância. Não fico surpreendido por terem ido na direcção de Matt já estar ao nível de Tai mas normalmente este tipo de situação leva ao habitual “não confio em ti eu sei fazer melhor” o que vai demorar até às personagens juntarem forças e nunca oferece nenhuma situação interessante pois este cenário tem sempre uma falta de originalidade.

Agora, tenho a dizer que durante o episódio estes Digimon inimigos faziam-me lembrar um certo Digimon, e isto tornou-se ainda mais óbvio quando um deles digivoluiu. Mas apenas fiquei completamente certo de que era um referência, ou melhor, inspirado em, quando vi a preview para o próximo episódio. “War Game“. Lembram-se do filme “Our War Game” da primeira série Digimon? Lembram-se de Diaboromon (aquele que parece o EVA de Shinji). Lembram-se de nesse filme um Digimon ter causado um erro electrónico que lançou dois mísseis Americanos? Viram o míssil na preview? Já fizeram a ligação com o problema na América a qual Izzy referiu?

A questão é. Será este tipo de Digimon os únicos que vamos ver? A preview pareceu voltar a repetir os mesmos do primeiro episódio e se assim for irei ficar bastante desapontado. Mas mais importante, “Our War Game” foi o evento que ligou a primeira temporada de Digimon com Digimon 02 pois a “segunda geração” de crianças escolhidas (lembrem-se que isso foi alterado em Digimon Tri.) assistiu a esse evento juntamente com todo o mundo. E se isso está a acontecer agora será que continuará ligado a elas? Será sequer que este anime vai durar tanto quanto o original já que parecem estar a saltar umas quantas partes? Com a abertura a focar-se totalmente em Tai e o encerramento em Matt não fico muito confiante na maneira em como as coisas vão continuar.

Num todo este primeiro episódio fez algumas referências que deixaram-me contente e também decidiu explorar outras coisas logo a início. Mas a maneira em como tudo é introduzido não me agradou e honestamente não pude deixar de comprar com outros shows que usam o mesmo formato e que estão totalmente direccionado para crianças. O anime original sempre teve uns temas adultos e pelo menos o sentido de aventura chamava a todos e era original (literalmente o primeiro Isekai), e não se esqueçam que Digimon Tamers foi bastante negro, bem como outros shows da série que não estavam tão direccionados para crianças antes da Toei Animation ter mudado de ideias com a última temporada.

Mathias Marques
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