Dizem que é o futuro. Só não dizem quão lá para a frente é que vai ser. Eu cá acho que tudo o que queiram vender agora é o futuro, ou seja, quanto mais cedo, melhor. Porque se acharmos que será assim daqui por uns tempos, então adaptamo-nos mais facilmente ao presente, mesmo que não tenha… futuro. São uns malandros.
Jogos “Freemium”. São gratuitos, mas pagam-se… “Perdão, como disse?” Sim, caro leitor, é mais ou menos isso. Pode descarregar um jogo sem pagar nada. Pode jogá-lo e não lhe cobram um cêntimo. Mas pode crer que vai sofrer a fazê-lo… Este conceito é muito familiar nas aplicações de aparelhos móveis, como smartphones, tablets, mas também muito presentes nas redes sociais, que, no geral, têm conteúdos mais virados para o imediato, isto é, aplicações ou jogos que nos entretenham por pouco tempo de cada vez que jogamos, mas que sejam viciantes ao ponto de “investirmos” nelas. Investir, entre aspas, porque é precisamente o contrário de investir. Esbanjar é mais correcto. Estivesse aqui o Tio Patinhas e dava-me logo com a bengala por ter dito a palavra cujo nome não pode ser pronunciado.
Esta máquina de fazer chover dinheiro vai dar jeito para uns jogos gratuitos que quero.
É que há por aí jogos em que se gasta uma pequena fortuna à medida que se joga, não porque é obrigatório, mas porque nos sentimos na obrigação de pagar. O jogo castiga-nos de tal modo se não o fizermos que o mais certo é desistir passado pouco tempo. Muito mais cedo do que gostaríamos. Se fossem logo pagos, por defeito, nem que fosse apenas €1, não duvido que pensaríamos duas vezes antes de gastar mais qualquer coisa nele. Ou são grátis ou não são grátis. Não há meio-termo. Mas afinal há.
Há, porque “só paga quem quer”, que é sempre um argumento engraçado e que costuma acabar com qualquer discussão que se tenha. Só paga quem quer, sim, mas isso não se faz. E se isso me incomoda, então que me mude (outro bom argumento, mais uma vez), porque se não é comigo que vão ganhar, então outros pagarão por mim. Para oito pessoas que optam por não gastar nada num jogo “gratuito”, haverá outras duas que gastam. E, para que isso compense, o que acontece é que esses jogos acabam por ficar várias vezes mais caros do que se tivessem um preço base, sem qualquer custo extra, como eram quase todos os jogos até então.
Mais ou menos, vá. Porque começámos a ver jogos que eram vendidos a um preço normal (já elevado) e que, passado pouco tempo, lá era preciso pagar mais, para ter a experiência completa: o conhecido DLC, ou “Correcção X”, caso se lembrem do meu segundo artigo. Mas isso não foi o suficiente. Todos gostam muito das palavras “gourmet”, “premium” e outras manias, portanto há que lhes dar mais ênfase. O que vai acontecendo é algo como: “obrigado, caro cliente, por ter gasto meia pipa de massa no nosso produto. Contudo, se nos der a outra meia pipa, garantimos-lhe um serviço exclusivo e personalizado, tudo para nos encher os bols.. para o satisfazer em pleno” (com ou sem tisanas… er… ok, esqueçam o que disse).
Não acredito que seja “o” futuro mas, dado o sucesso das redes sociais e a aposta que se faz nestas, é bem possível que vá fazer parte dele, convivendo com os outros métodos já nossos conhecidos. Pelo menos até os jogadores se fartarem (ou até as crianças deixarem de conseguir entrar nos telemóveis dos pais e usar os seus cartões de crédito).
Ele: “UAU! O papá tem €5.000 para gastar.” Ela: “Póneis com desconto!”
O mercado livre de produção de jogos, chamemos-lhe assim, que vemos nos telemóveis e tablets é quase todo povoado por esses jogos “freemium”, e os jogos que têm este método são, na sua grande maioria, produzido por empresas pouco conhecidas, o que não nos dá muita sensação de segurança, se estivermos a pensar gastar alguma coisa. Mas têm mesmo que ser gratuitos, caso contrário não nos interessávamos por eles, mas sim por algo mais familiar, que nos desse garantias de que era bom. Um dos problemas desse vasto mercado é ser muito difícil separar o trigo do joio, por isso surge um conceito novo, mas mascarado: o “low cost”.
Entre um jogo que custe €3 e outro que se apresente como gratuito, embora não pareça tão bom, o mais provável é irmos para o que nos custa menos. O chamado “value for money” (em português, “valeu por mona”). Tomamos essa decisão todos os dias, em tudo o que seja compra, principalmente nestes tempos de contenção. A mentalidade acaba por mudar, mesmo quando podemos gastar dinheiro em coisas inúteis. Já agora, que se gaste o menos possível. Só que, como disse atrás, os jogos “low cost” estão mascarados, pois são, na verdade, os tais “freemium”.
Jogos completamente gratuitos há poucos e o Fox diz que se é para se pagar por algo gratuito, então mais vale não haver nenhum. Ou então actualiza-se o dicionário.
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