O problema com o reboot de Digimon Adventure

Há alguns meses atrás fiz um artigo onde dava a minha impressão do primeiro episódio do reboot de Digimon Adventure, aquilo que ele tinha para oferecer, as referências à série original, e também os seus aspectos negativos.

Desde então saíram cá para fora mais episódios e a história tem andado em frente. Existem uns quantos aspectos que me agradaram, mas num todo este reboot não tem sido o melhor que a série podia ter recebido. Neste momento (na altura em que estou a escrever este artigo), contamos com 13 episódios, e então irá haver spoilers sobre esses mesmos episódios neste artigo.

Começando pelos pontos positivos, os primeiros episódios do anime decidiram agradar aos fãs mais velhos com pequenas referências, o que a certo ponto até levou-me a questionar se este reboot não seria uma espécie de sequela. A ideia de um certo grupo de Digimon lendários terem lutado antigamente para proteger o mundo digital, e de estes serem todos as últimas digivoluições de Agumon e companhia é uma grande coincidência.

Como se isso não bastasse, Agumon e companhia acabam por chorar quando vêem estas memórias de um tempo antigo. A pergunta é, “porquê?”. A série há muito que já havia introduzido outras crianças escolhidas, e Digimon Tri até veio expandir nos heróis que foram escolhidos antes de Tai e o resto do grupo, por isso o reboot tinha por onde escolher uma vez que já conta com um bom par de anos de backstory em cima.

A escolha destes Digimon como Digimon lendários deve querer dizer algo e torna a história interessante não só para os mais novos mas também os fãs mais velhos. No quarto episódio as personagens finalmente visitam o mundo digital, e ao contrário da sua versão original onde era possível observar várias construções do nosso dia-dia neste mundo estranho, aqui não temos disso. Ao invés somos apresentados com um mundo cheio de vida e personalidade.

A série original continha um pouco de personalidade mas era sempre isolada. Todos lembram-se da cidade dos brinquedos ou a vila do início (ou lá qual seja o nome). Esses eram locais únicos e isolados, daí a sua personalidade. Neste reboot já temos coisas misturadas e até vários Digimon que andam em conjunto, o que adiciona muito mais ao mundo e de certa forma torna as coisas diferentes e combina com a direcção que a história está a tomar.

O problema acaba mesmo por ser esse, a direcção da história. O anime original tinha um aspecto de aventura enquanto explorava as personagens juntamente com as suas personalidades. A história sempre foi sobre os Digimon serem um complemento para os aspectos negativos da criança escolhida. Mat não era muito de ter amigos enquanto que Gabumon era um dos Digimon mais amigáveis de todos, Joey era demasiado série enquanto Gabumon era descontraído, Izzy acabava por ignorar as pessoas enquanto que Tentomon prestava atenção às mesmas e por aí fora.

Nesta nova versão não só não existe o elemento de exploração e sobrevivência como as personagens já não se complementam muito. Já para não falar que em termos de reboot já fomos introduzidos a umas três ou quatro mega digivoluições, enquanto que no anime original o elenco estava a derrotar Myostismon.

Esta parte da história tanto tem andado demasiado depressa como demasiado devagar. Já faz um bom par de episódios onde as personagens tem de corrigir a actual falta de electricidade no Japão, juntamente com terem de conhecer mais sobre os Digimon lendários que salvaram o mundo Digital há imenso tempo atrás. Por outro lado os Digimon já estão a entrar em novas fazes de evolução, com Agumon a transformar-se já em Metal Greymon, Garurumon em Weregarurumon e muito mais.

No anime original o elenco ainda teve que procurar pelos cartuchos correspondentes às suas “fraquezas”, e também passar uma prova onde demonstravam que afinal isso não era uma fraqueza. Pegando novamente no exemplo de Mat, o seu cartucho era o de amizade, mas este não era muito amigável. No entanto com a ajuda de Gabumon ele acabou por superar essa “fraqueza” e aprendeu o valor da amizade, o que permitiu que Gabumon digivoluice para Weregarurumon.

Neste reboot a coisa é entregue a torto e a direito. As personagens não tem qualquer tipo de desenvolvimento neste aspecto e apenas activam uma nova digivoluição sem mais nem menos, sendo que anteriormente este era um processo que levava alguns episódios que mesmo assim continham um bom pacing.

Assumindo que o anime irá ter o mesmo número de episódios que as restantes séries Digimon (entre 50 a 60 e tal) então pelo episódio 30 já estão todos na sua faze final de WarGreymon e Metal Garurumon e etc (vá, eu sei que existe uma faze ainda mais avançadas, mas estamos a comparar com o anime original).

A série pelo menos tem feito algumas coisas diferentes e até volta a pegar em velhas personagens e situações que os fãs lembram-se e cria algo novo. O problema é que não oferece o impacto que a equipa de produção pensa que irá oferecer. Certas situações acabam mais por basear-se no conhecimento de velhos fãs do que outros.

Afinal de contas todos gostam de ver uma referência a Leomon, e apenas os fãs mais velhos é que irão importar-se com a morte de Ogremon, uma personagem que inicialmente era vilã mas tornou-se boa na série original. Já neste reboot Ogremon não teve o tempo de antena que merecia, e não é uma simples luta à la Dragon Ball que vai fazer com que ele seja uma personagem a recordar pela sua morte.

Podia pegar em mais coisas e falar de outros assuntos mas até agora mantenho aquilo que disse. Este reboot não está a utilizar os 20 anos de existência da série da melhor forma. Tenta fazer coisas diferentes e para um novo público mas está constantemente a pegar na sentimentalidade dos velhos fãs. Já a série original podia ter alguns problemas mas o pacing, a sensação de aventura e a história madura que estava a entregar com as suas personagens foi sempre bem feita.

Mathias Marques
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