Faz 45 anos desde que Star Wars marcou o mundo do cinema

Praticamente todos os anos se celebra uma data importante para inúmeras obras que marcaram o cinema. Em 2022, para além dos 50 anos de The Godfather de Francis Ford Coppola, é o primeiro episódio lançado da vasta saga de Star Wars que celebra o seu quadragésimo quinto aniversário. Muito já foi escrito e dito acerca do que fez este filme uma das obras mais influentes da ficção. Pessoalmente nutro uma enorme estima por este conjunto de filmes, séries, livros, personagens, por toda esta enorme franquia de ficção científica.

Portanto dedico este artigo não apenas ao aniversário de A New Hope, mas à saga como um todo, a mais um ano de Star Wars. Graças ao clima de mudança da época, toda uma geração de realizadores saídos da faculdade, vieram à tona.  A década de 1970s foi pois marcada pela ascensão do cinema autoral independente. Fruto disto nasceu Taxi Driver (Martin Scorsese),  Jaws (Steven Spielberg) e é claro, Guerra das Estrelas (como foi aqui apelidado em Portugal) no dia 25 de Maio de 1977.

Ao contrário do que se pensa, não foi no dia 4 de Maio que estreou o primeiro episódio cinematográfico, esta data não oficial é apenas celebrada como uma espécie de trocadilho usado pelos fãs com o facto de ‘May the Force be with you‘ se assemelhar a ‘May the Fourth be with you‘. Voltando um pouco atrás, nada levava a crer que tal filme causasse tamanha repercussão na indústria do cinema e na cultura do entretenimento como um todo.

O seu criador, George Lucas, à época havia dado os primeiros passos na ficção científica através de THX 1138, e já ambicionava criar um grande épico espacial, só que com as personagens de Flash Gordon. Sorte do destino que os direitos para tal adaptação haviam sido recusados pelo cineasta italiano De Laurentiis.

Inspirado pelo filme japonês The Hidden Fortress  de Akira Kurosawa e pela obra literária mitológica The Hero with a Thousand Faces de Joseph Campbell, o jovem cineasta americano tinha o pano de fundo ideal para desenvolver o seu universo.

Depois dos muitos rascunhos escritos e rasgados, Lucas conseguiu chegar a algo conciso. Foi um virar de página, de uma era de fazer e pensar a sétima arte. Daí até aos dias de hoje, que as técnicas de produção e os efeitos especiais utilizados definiram uma abordagem completamente nova, que o próprio Lucas não tinha plena consciência. Mas o facto é que tinha criado o primeiro grande blockbuster de Hollywood, o primeiro de muitos outros.

Conseguiu balancear uma história como um conto de fadas tradicional, com uma princesa para resgatar, uma espada de luz etérea, um cavaleiro negro imponente, juntamente com naves espaciais, localizações e batalhas fantásticas, à luz das longa-metragens de aviação da Segunda Guerra Mundial e dos Westerns que George Lucas admirava.

Não apenas agradando um público mais adulto, mas sobretudo, um mais juvenil para quem esta saga tinha como alvo, e que levou uma geração inteira a crescer e mostrar a sua paixão por ela até ao novo século. Quem assistiu o filme na época, apenas o conheceu como Star Wars, uma vez que a numeração ou sequer o subtítulo A New Hope foram apenas acrescentados posteriormente nas versões relançadas nos anos 80s nos cinemas americanos.

Após os créditos iniciais que abrem o filme, somos colocados diretamente na ação, com um Star Destroyer a roubar todo o espaço do ecrã, acompanhado por uma música orquestral bombástica tal como as composições de música clássica de Wagner.

Enquanto que no fundo uma pequena nave, Tantive IV, tenta escapar da mira do Império Galáctico.  Esta sequência separa praticamente tudo aquilo que se tinha visto no cinema norte americano de ficção científica, sendo que o próprio Lucas admitiu querer com isto fazer a sua versão ligeira de 2001: A Space Odyssey do mestre Kubrick. Tudo o que se segue a partir daí, está bem presente no imaginário de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Seja o jovem Luke Skywalker a contemplar os dois sóis de Tatoonie, sentido a grandeza de um universo muito maior à sua espera. Quer o pedido holográfico de socorro de Leia, que trazia a última esperança para uma rebelião de combatentes. Seja o duelo de lightsabers entre um velho mestre Jedi e um dos grandes vilões do cinema. Ou até do jovem jedi num momento crucial interiorizando as sábias palavras de ‘use the force, Luke‘.

Lucas soube agarrar num elenco variado. Pegou nos veteranos do cinema britânico, como Alec Guiness, eterno Obi-Wan, e em Peter Cushing, imponente General Tarkin, para dar credibilidade na fase de produção. Juntando a um elenco pouco experiente, sendo um deles uma das estrelas no seu filme American Graffiti, o novato Harrison Ford, que dava vida ao maior charlatão (ao lado de Lando) da galáxia. E ainda da incomparável Carrie Fisher, como a princesa que não necessita de introduções. E é claro do protagonista, Mark Hamill enquanto Luke Skywalker.

Esta junção funcionou na perfeição. Levou ao estrelato o trio de atores principais, que dificilmente se conseguiram separar das suas contrapartes de Star Wars quando se tratava de papéis marcantes nas suas carreiras. Talvez há exceção de Ford que ainda deu vida a Deckard de Blade Runner e a Indiana Jones.

Um facto curioso é o temível Darth Vader foi interpretado fisicamente por David Prowse, mas a sua voz imponente ficou a cargo de James Earl Jones, por muitos conhecido como Mufasa de The Lion King.

Sem esquecer também da outra parte do elenco secundário. O par de droids, C-3PO e R2D2, interpretados por Anthony Daniels e Kenny Baker respetivamente, que passaram por todos os filmes canónicos sem exceção, foram aqui introduzidos como alívios cómicos que fizeram chegar a maior vantagem dos rebeldes contra o Império às mãos certas. E Chewbacca, incorporado por Peter Mayhew, o wookie ou a bola de pêlo copiloto de Solo.

Não há como negar o impacto de John Williams na composição da sonoridade dos mundos e personagens de Star Wars. Foi Spielberg quem fez a ponte entre o maestro Williams e o seu amigo pessoal Lucas após o primeiro ter-lhe assegurado vitória nos Óscares de 1976 de Melhor Banda Sonora. Como apontei anteriormente, Lucas inspirou-se nas composições de Wagner na conceção do som e estilo do universo, queria algo épico e pomposo, tal qual o filme Kings Row que o criador aponta na sua biografia de 2016.

Desde a melodia icónica principal até à música tema da Força, que Williams entregou uma das melhores e mais bem feitas partituras musicais da sétima arte, que só viria a ser expandida com os restantes filmes que acrescentariam a marcha de Vader ou a música tema de Leia, entre tantas outras. Sem mencionar que não teve a tutela de uma orquestra qualquer, mas sim da gratificada London Symphony Orchestra. Ainda dentro da sonoridade, os efeitos sonoros levar-me-ão ao próximo ponto, que são os efeitos gerais práticos.

Nos dias que correm muitos relembram os bons tempos em que as limitações da época permitiam os cineastas criar efeitos práticos que emergiam o espectador na ação, quiçá replicar a mesma. Lucas foi um adepto fervoroso desta abordagem. Mesmo que mais tarde se viesse a contrariar com as prequelas ou até mesmo com as polémicas Special Editions que imbuíam CGI no filme original, a verdade é que a trilogia clássica é um dos melhores exemplos nítidos da perspetiva prática de movie making em Hollywood.

Vão desde as construções de Tatoonie todas feitas em tamanho real na Tunísia até aos sets de corredores e imediações vastas que componham a Death Star. E não termina aqui, pois até as criaturas alienígenas vistas na cantina de Mos Eisley foram todas feitas através de fins e materiais reais, algo que o legado da dupla de Frank Oz e Jim Henson deixaram fortemente enraizado no ramo dos efeitos especiais práticos, mais concretamente na filosofia dos funcionários da Lucasfilm.

A estratégia de marketing de George Lucas funcionou de tal forma bem, que se tornou uma tendência e/ou prática mais do que aceite e usada na indústria nos dias que correm. Começou por ir a convenções de cultura pop para promover o filme com storyboards, e acabou a lucrar milhares de milhões de dólares com a venda de merchandising. Pode parecer estranho, mas nessa época, as pessoas iam ver um filme, e ficava por aí.

Lucas criou a necessidade na mente dos espetadores de ter uma lembrança, um objeto, que fosse associado ao seu filme, desde as clássicas figuras de ação, a canecas, roupa, porta-chaves até a livros e bandas desenhadas.  Foram todos estes ingredientes no lugar e hora certa, que permitiram o sucesso estrondoso de Star Wars, que iria despoletar a criação de mais duas sequelas no decorrer da década de 80s, mais duas trilogias e um monte de séries, livros e videojogos que não pararam de crescer, ainda para mais desde a aquisição da Lucasfilm em 2012 por parte da Disney.

Já ouvi várias pessoas a demonstrar o seu desagrado com o facto de A New Hope ser um filme antigo e que por isso têm dificuldade de começar a ver a saga Star Wars. Mas como dizia alguém, “primeiro estranha-se, depois entranha-se”, e esta máxima bem se aplica aqui. Basta passar a primeira impressão de que se trata de facto de um filme produzido e realizado no final da década de 70s que facilmente qualquer pessoa fica presa nas personagens e situações idealizadas por Lucas.

Dificilmente se encontrará alguém que acabe de ver o primeiro e não sinta a mínima curiosidade de ver os restantes. Aquilo que o espectador recebe de volta é demasiado gratificante e memorável para que alguém não se torne num fã. Um que irá com certeza rever muitas mais vezes esta franquia inesquecível do cinema. Se não o fizeram ainda, aproveitem este dia 4 de Maio para o fazer.

João Luzio
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