Depois da grande onda de hype que se gerou em volta de Undertale, era impossível escapar a este título indie. Concebido e criado por Toby Fox, este jogo inovador prima por oferecer opções bastante diferentes de um típico RPG, como tem sido muito publicitado, a capacidade de poupar inimigos em combate, portanto vamos ver como se porta Undertale. Vou tentar evitar o máximo de spoilers nesta review.
Neste jogo vamos conhecer a história de um mundo onde seres humanos e monstros coexistiam entre si até ao início de uma grande guerra entre eles. Como resultado, os monstros foram selados para sempre e com poucas chances de se libertarem. O nosso protagonista é uma criança que acaba por cair no covil onde os monstros estão selados e acaba por descobrir que estes possuem muita personalidade e sentimentos como os seres humanos.
O jogo coloca-nos na pele desta criança em busca de uma saída mas acaba por precisar de interagir com grande parte dos monstros. Apesar de haver uma certa exploração pelos cenários, o jogo segue um caminho bastante linear durante grande parte. Quando não estamos a combater, estamos a resolver puzzles ou a navegar para a próxima fase desta aventura.
Um dos pontos mais inovadores é o sistema de combate, e que oferece uma alternativa ao jogador que se baseia em poupar o inimigo. Esta poupança parte em descobrir o que cada um dos monstros sente e tenta fazê-los sentir melhor sobre o seu problema, e só aí é que poderemos poupá-los com a opção Mercy. É engraçado descobrir que cada um deles tem uma certa personalidade pelo que nem sempre é fácil convencê-los a parar de lutar. Se quisermos, podemos evoluir a nossa personagem e matar os inimigos, mas preparem-se para as consequências no final do jogo…
Entre cada uma das nossas acções temos um mini-jogo específico para cada inimigo que grande parte das vezes baseia-se em evitar obstáculos e que funcionam como ataques normais. Ao pouparmos inimigos não ganhamos qualquer tipo de experiência, mas dada à dificuldade uniforme do jogo, isso não irá de qualquer forma afectar a nossa capacidade de derrotar o que quer que seja durante o jogo.
A interacção que temos com as personagens está excelentemente trabalhada. O jogo tem uma grande capacidade de nos lembrar constantemente das nossas acções e escolhas ao longo do nosso percurso. Pequenos aspectos como salvar o jogo, falar com alguém e não só serão notadas e de uma maneira mais ou menos directa comunicadas ao protagonista.
A maneira como interagimos com os inimigos é um aspecto fundamental no jogo e que irá afectar de uma maneira muito forte o jogo. Esta escolha na nossa abordagem irá alterar o jogo em várias maneiras e até a nossa própria perspectiva será modificada, pelo que se decidirmos andar a matar inimigos sem qualquer misericórdia, ficamos sempre com a sensação de que estamos mais num survival-horror do que propriamente num RPG. Este aspecto faz também com que o jogador volte mais vezes ao jogo para experimentar ao máximo e tomar decisões diferentes.
Undertale é um jogo com personagens e acontecimentos memoráveis, onde apesar de haver muitos momentos “wtf” em certos momentos do jogo, acabamos por partilhar grandes experiências com as várias personalidades que estão inseridas. Dificilmente iremos esquecer os bons momentos passados com Papyrus e o seu irmão Sans, e até a temível Undyne ficará sempre na nossa cabeça. Até mesmo os vilões são bastante únicos e engraçados como é o caso do robot Mettaton que nos tenta matar em situações altamente estranhas.
Se Earthbound era um jogo com um sentido de humor muito apurado, Toby Fox aprimorou essa abordagem para Undertale de uma maneira ainda mais refinada. Este é um jogo que nos consegue deixar a rir vezes e vezes sem conta graças às suas piadas muito bem encaixadas e às situações caricatas que iremos encontrar. Referências a outros jogos – como Final Fantasy 6 – e até brincadeiras com estereótipos dos RPG farão as delícias de muitos.
Se existe algum problema com este jogo, simplesmente centra-se nalguma confusão que irá surgir na nossa progressão. Por vezes parece um jogo sem foco e com o aparecimento e desaparecimento de personagens que nos parecem um pouco deslocadas de toda a história. Este aspecto poderá confundir por vezes o jogador se estará no caminho certo.
A apresentação retro é sem dúvida um entrave para os que não suportam ver um jogo sem alguma exuberância gráfica, mas eu acho que este não seja um ponto que desfavorece o jogo visto haver uma grande preocupação no detalhe dos aspectos visuais. A banda sonora está fantástica! Com uma mistura entre temas mais chiptune e outros com instrumentos mais modernos, o jogo tem uma colecção de músicas memoráveis e muito bem trabalhadas.
Undertale é um jogo muito especial e a minha maior surpresa deste ano. Torci um pouco o nariz ao ver tanto em volta do jogo mas acabei por ficar convencido. É um jogo bastante eclético e que consegue reflectir de uma maneira perfeita as decisões do jogador para o jogo. É também portador de um sistema de combate simples de se usar e que oferece uma escolha bastante interessante, poupar os jogadores.
Undertale é sem dúvida um dos meus jogos favoritos deste ano. É uma experiência emocionalmente forte e uma grande estreia de Toby Fox. Todos os olhos estarão virados neste produtor para os próximos anos. Alguns dos puzzles inseridos no jogo poderão estar um pouco aquém e até alguns puristas de RPGs poderão inicialmente desapontados com a maneira simplista como este jogo se demonstra, mas isso não afecta em nada a carga emocional que este jogo consegue transmitir caso queiram investir nele.
Positivo:
- Um sistema de escolha/consequência excelente
- Personagens memoráveis
- Sistema de combate inovador
- Emocionalmente forte
- Banda sonora
- Humor bem conseguido
- Inúmeros finais
Negativo:
- Puzzles fracos
- Um pouco repetitivo
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