Análise – The Suicide Squad (2021)

Foi precisamente há cinco anos que estreou a primeira aparição cinematográfica do Suicide Squad (2016), que apesar de promissora, revelou ser um desastre completo, tanto por parte do público, com uma receção mista, como por parte da crítica especializada. Agora, pelas mãos do aclamado James Gunn, director da duologia de Guardians Of The Galaxy (2014-2017), chega finalmente uma versão digna destas personagens tão infames da DC Comics, a partir de The Suicide Squad (2021).

A meu ver, apesar de ter alguns pontos de continuidade com o seu antecessor, considero-o um soft reboot, ao invés de uma sequela direta. Antes de entrar em mais detalhes, é preciso ter em conta que o ‘pequeno grande’ detalhe desta produção, é que foi dada praticamente total liberdade criativa ao director para construir e desenvolver uma experiência à sua visão.

Ao contrário da concorrência que tende a seguir uma fórmula «by the book» muito própria, pouco flexível, com um conjunto de executivos por trás a ter controlo na obra. Aqui, felizmente a Warner Bros teve a sensatez de deixar Gunn fazer à sua maneira, até porque caso tivesse acontecido o contrário, como no filme de 2016, seria outro tiro no pé do estúdio e do DC Extended Universe (DCEU).

Posto isto, devo confessar que por me ter abstido de assistir a trailers e afins, acabei por ter muito pouco da minha experiência estragada, até porque há várias reviravoltas ao virar da esquina, assim tendo desfrutado muito mais daquilo que Gunn tinha para entregar. A direção faz um ótimo serviço em apresentar de forma sucinta, apenas nos primeiros minutos, o tom e ambientação de toda a experiência.

Mesmo para quem desconhece as personagens e o tipo de filme, rapidamente ficará familiarizado. Com isto em mente, Gunn pode dar-se ao luxo de mover a história como bem entender, sem prejuízo de não ter um primeiro acto bem consolidado. Quanto à história, não poderia ser o mais direto ao ponto.

Onde Amanda Waller (Viola Davis) chefia da Task Force X, composto vários super-vilões da vasta galeria da DC, organiza uma operação em Corto Maltese, com o intuito de destruir e limpar qualquer vestígio de um antigo laboratório nazi, de nome Jotunheim, que alberga um projecto confidencial e muito peculiar, mas já lá iremos.

Para isso compõe uma equipa, que se encontram Rick Flag (Joel Kinnaman), braço direito da mandatária, Harley Quinn (Margot Robbie), que não precisa de apresentações, Bloodsport (Idris Elba), um mercenário altamente treinado capaz de utilizar qualquer objeto como arma e Peacemaker (John Cena), semelhante ao anterior, mas com um grande senso de justiça, embora questionável.

Juntam-se ainda, King Shark (Sylvester Stallone), um tubarão antropomórfico despromovido de grande inteligência, Captain Boomerang (Jail Courtney), integrante do filme anterior, Polka-Dot Man (David Dastmalchian), criminoso resultado de uma experiência falhada e Ratcatcher 2 (Daniela Melchior), que herdou o manto do pai, com poderes de comunicar e controlar ratos. Adicionalmente, está presente, Savant (Michael Rooker), Blackguard (Pete Davison), T.D.K (Nathan Fillion), Javelin (Flufa Borg) e Weasel (Sean Gunn).

Como se pode ver por este extensivo leque de atores, aqui temos um elenco de luxo, com os mais variados atores, provenientes do mais diversos géneros de filmes. Deixo o grande destaque para a presença portuguesa através de Melchior, que é o coração do filme. O que é sempre bom de ver, o talento português no seu melhor, ainda para mais numa produção de grande orçamento e relevância na indústria. Quanto ao restante elenco, todos, e reforço todos, têm pelo menos uma cena marcante, onde podem brilhar e dar o melhor do carisma das suas personagens.

Claro que determinadas personagens acabam por ter um pouco mais de exposição que outras, mas no geral, fico feliz que mesmo numeroso, Gunn consegue equilibrar tempo de tela de forma repartida por todos. Não obstante, considero o maior defeito de The Suicide Squad (2021), a leviandade da profundidade dada individualmente a certos integrantes da equipa, que até têm importância na narrativa. Até porque Harley Quinn, que por sinal aqui tem a sua melhor participação cinematográfica, e Ratcatcher 2 acabam por roubar a cena em um bom par de situações.

Como seria de esperar num filme com esta temática, obviamente que ter apego a certas personagens poderá não ser o mais indicado. Porque devido à imprevisibilidade do argumento, cada situação de perigo transformar-se num momento de tensão de será ou não que X personagem irá morrer? Dando a origem a grandes reviravoltas na história que a enriquecem.

Um aparte, na sessão em que fui, e ao contrário do que costuma acontecer em Portugal (temos tendência a ser mais reservados), tive um público que reagia ativamente àquilo que acontecia, quer rindo ou demonstrando o seu desagrado, o que contribuiu para tornar a minha experiência ainda melhor.

Com efeito, por falar em rir, as cenas de humor estão também bem colocadas. Não são exageradas, nem tão pouco levianas, são acertadas. Quer vindas de personagens que são claramente o alívio cómico do filme, quer de situações simplesmente nonsense que resultam numa reação bem humorada. Devo admitir que não esperava algo tão bom, mas até neste ponto conseguiu agradar-me.

Como falei do tom antes, tenho de dizer que o filme não é para qualquer um, pois Gunn não tem problemas em exibir cenas explícitas de violência, tortura ou simplesmente massacres em tela! Daí que quem for fã deste tipo de abordagem, saíra mais do que satisfeito. Há assim espaço para um pouco de tudo, desde humor, momentos dramáticos e emocionais, até outros tantos com maior adrenalina e choque visual.

As cenas de ação são um bom exemplo disso, onde denotam o estilo de realização de Gunn, misturando tudo de forma tão adequada, que me deu vontade de querer rever determinadas cenas, dando ainda espaço para as personagens brilharem e interagirem entre si.

Falando nas questões técnicas, em específico, nas visuais. Mais uma vez, outro aspecto que me agradou foi a fotografia, com cenas marcantes, e visualmente deslumbrantes. Para a banda sonora, Gunn foi buscar uma figura assídua nos seus trabalhos anteriores, Tyler Bates, onde existem várias semelhantes com Guardians Of The Galaxy. Havendo também espaço para clássicos do rock, assim como faixas mainstream, ao longo do filme.

Por fim, deixei de parte a ameaça/vilão do filme. O principal antagonista que é nada mais nada menos do que Starro, um alienígena azul em forma de estrela, capaz de se multiplicar e controlar quem ele possuí, foi uma jogada de mestre. Para o tipo de equipa que é o Suicide Squad e para um filme dirigido por James Gunn, nada melhor que buscar uma personagem tão esdrúxula das comics para aqui, funcionando muito bem na execução.

Ainda que a sua presença se faça sentir visualmente, ao invés de exposição via diálogos. Há também espaço para outros antagonistas, patentes numa narrativa secundária, os quais funcionam como uma forma mais explicita de crítica política/social que Gunn faz a um certo país do sul americano. Posto isto, diria que no geral, ambos acabam por cumprir o seu propósito naquilo que é a narrativa.

The Suicide Squad (2021) é um sucesso a vários níveis. Por parte de James Gunn que finalmente tem total liberdade para pegar e mexer à sua maneira num projeto ambicioso. Para a Warner Bros que parece finalmente entender, que copiar a abordagem da concorrência, não tem dado frutos. E para os fãs que após estes anos todos, têm uma versão definitiva e justa do Suicide Squad.

Um filme bem humorado e divertido, mas que se leva a sério quando é necessário, tendo todos os ingredientes essenciais para ser o ponto alto do ano, ao nível dos grandes blockbusters. Em suma, The Suicide Squad (2021) é um filme que recomendo vivamente a qualquer fã deste subgénero, mas sobretudo, para todos os fãs da DC, que têm em mãos um filme obrigatório, que por sinal é o melhor filme do DCEU à data!. Este é para vocês.

Positivo:

  • Elenco;
  • Humor acertado;
  • Fotografia sublime;
  • Cenas de ação extraordinárias;
  • Supera de longe a versão de 2016;
  • Uso de cenas chocantes e violentas, sem pudor;
  • Todas as personagens são interessantes e têm um momento para brilhar…

Negativo:

  • …mas faltou um tanto de profundidade individual para algumas delas;

 

João Luzio
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