Análise – Tales of Xillia

No ocidente, sagas como a de Final Fantasy, Dragon Quest, Persona e até Star Ocean são bastante conhecidas e seguidas por muitos milhares de fãs de RPG. Apesar destes nomes, a série Tales nunca conseguiu marcar o seu espaço no ocidente, mesmo sendo considerada a terceira saga mais importante de RPG no Japão.

Numa era em que os JRPG ainda estão altamente estigmatizados na Europa, e mesmo depois de Ni No Kuni e Persona 4 Golden terem demostrado que o género está vivo e recomenda-se, a Namco Bandai teve finalmente coragem de lançar na Europa Tales of Xillia.

Já passaram dois anos desde que Tales of Xillia foi lançado no Japão e já passou mais tempo desde que começou o seu desenvolvimento original. Será que este tempo de espera faz com que este projecto não consiga criar o impacto que promete. Preparem-se para ficar surpreendidos.

Tal como a maioria dos jogos de Tales, Tales of Xillia conta uma nova história com um lote de novas personagens e um novo mundo para explorar. Ao contrário dos jogos anteriores, aqui podem jogar a campanha em duas perspectivas, a de Jude e a de Milla e embora a história e o caminho das personagens seja quase sempre o mesmo, em alguns momentos a equipa é separada e vão viver experiências e combates diferentes, o que aumenta a longevidade do jogo para quem queira ver a história completa, já que precisam de escolher um dos dois antes de iniciar a campanha.

A história de Tales of Xillia cruza os caminhos de Jude, um estudante de medicina e Milla, um espirito em formato humano que tem como missão proteger os humanos. Após uma série de eventos, Jude e Milla são dados como criminosos, tendo de fugir da cidade de Fenmmont. Este é o mote para uma epopeia épica com mais de 50 horas, com boas personagens e algumas reviravoltas inesperadas.

Entre o elenco principal, podem contar com uma série de personagens estereotipadas dentro do estilo Anime/JRPG. Felizmente, quase todas as personagens incluídas, tem mais para oferecer do que dá para ver a início e é impossível não simpatizar com a equipa toda, mesmo que uma ou outra personagens seja algo irritante por vezes (Estou a olhar para ti Teepo).

Apesar de não existir um mundo aberto para explorar ao estilo dos RPG da geração anterior, Tales of Xillia está bem longe dos corredores directos de Final Fantasy XIII. Embora tenham uma história e viagem para seguir, existe quase sempre uma sequência entre a visita a uma cidade e exploração da próxima área do mapa mundo, onde podem encontrar monstros e recolher items espalhados pelo cenário. O melhor é que podem quase sempre demorar aqui o tempo que quiserem, visitando zonas alternativas e descobrindo todos os baús de tesouro, ou fazer missões secundárias.

Tenho a dizer que esta sequência de acontecimentos encaixa que nem uma luva ao progresso do jogo pois oferece o balanço ideal entre combate e angariação de itens nas zonas selvagens do mundo, com a passagem recorrente pela próxima aldeia para comprar novas armas, equipamento ou refeições, e claro, continuar a história.

O combate de Tales of Xillia continua a ser bastante similar ao dos jogos anteriores, embora com uma ou outra alteração que o tornam mais desafiante e estratégico. Como os inimigos estão visíveis no cenário o combate começa quando entram em contacto com os mesmos, seja de forma directa (frente a frente) ou com vantagem, tocando nas suas costas, o que leva as personagens da equipa para um combate numa arena própria à parte.

O combate é feito em tempo real, com o número de ataques (CC) a responder a um número de limitado de acções disponíveis para a vossa personagem. Este número corresponde tanto a ataques básicos como Artes, as habilidades/magias do jogo. Entre todas as personagens da equipa, podem controlar uma de cada vez, mudando em tempo real sempre que necessário, deixando todos os outros ao controlo do computador.

Para este jogo, o combate está mais fluido e dinâmico que nunca, existindo a possibilidade de criar links entre as personagens e usar estes links para criar ataques Cross Arts que dão ainda mais dano e colocam a equipa em Overdrive. Estes sistemas de combate funcionam bem e dão bastante variedade e estratégia ao combate. À medida que exploram este sistema e percebem cada uma das nuances, o combate corre de forma fluida e espectacular.

Os frutos de combate podem vir em forma de experiência que serve para evoluir a Lithium Orb onde aprendem habilidades e ganham mais estatísticas e em itens de evolução, os quais podem ser vendidos ou utilizados para evoluir a reputação com as lojas, desbloqueando novas armas, equipamentos e ganhando descontos em produtos já disponíveis. Este sistema de evolução de lojas está bem pensado e incentiva a matar mais monstros para evoluir da forma mais rápida possível e aceder aos materiais que realmente interessam e tornam as personagens mais fortes.

Visualmente, Tales of Xillia é realmente bonito e apelativo, mas nem tudo é escondido pelas cores fortes e o visual Anime de qualidade. As personagens têm um desenho e trabalho bastante bons e os cenários, embora pouco recheados de actividade em certos casos, conseguem encher o olho.

Para mim, o maior problema visual de Tales of Xillia passa pela movimentação algo rígida das personagens quando precisam de interagir com o recurso ao motor de jogo. Se uma cinemática em Anime é soberba e as cinemáticas in-game foram bastante trabalhadas para oferecer boa fluidez, quando as personagens falam umas com as outras em pequenos segmentos de história, os seus movimentos são muitas vezes repetidos e a deslocação parece ser feita ao estilo robótico do rodar sobre si próprio para uma direcção e só depois começar a andar. Não é perturbador como em muitos jogos ocidentais, mas não deixa de ser estranho, felizmente este menos é compensado com uma sincronização labial bem feita e pouco vista em jogos japoneses.

Sonoramente, Tales of Xillia engloba uma banda sonora de qualidade com um lote de músicas que encaixam muito bem nas muitas situações do jogo, só tenho pena que uma ou outra música não seja mais forte, o que podia ter levado esta banda sonora a uma das melhores do género. Como está, se a formos comparar com a de Ni No Kuni, acaba por ficar uns furos a baixo.

Quanto às vozes, tenho de admitir que receava o pior, e a voz da Milla era das que tinha mais receio, mas com o passar do tempo, as personagens foram mostrando a sua personalidade e os actores conseguiram captar bem a personalidade da maioria das personagens, o que é um feito para um jogo deste género. Claro que é uma pena termos a ausência de vozes japonesas, mas o que existe não é nada mau, mas mais uma vez, a sincronização labial precisa de ser destacada.

Reflectindo agora sobre a minha experiência a jogar Tales of Xillia, é interessante como a nota foi evoluindo e crescendo à medida que ia jogando. Alguns acontecimentos deixaram-me realmente impressionado e empolgado e durante toda a aventura, consegui torcer por algumas personagens e odiar outras, o que mostra a força deste JRPG e me fez recordar de uma das razões mais importantes que me fez ficar fã deste género quando era bem mais novo, a capacidade de me deixar deslumbrado pela viagem.

Embora muitos continuem a pensar que os JRPG ficaram parados no tempo e não consigam competir com os RPG ocidentais, Tales of Xillia diz que está na altura de voltar a dar atenção a este género.


Carreguem na imagem para ver a nossa vídeo-análise a Tales of Xillia!

Tales of Xillia é divertido, empolgante e viciante, mas acima de tudo, o mais importante é a sua relevância como um dos elementos do género JRPG. Esta é uma excelente demonstração de como é possível ter clichés e personagens estereotipadas, as quais conseguem mesmo assim ter alma e muito para oferecer, tanto à história como aos jogadores. Se são fãs de RPG, especialmente japoneses, então não deixem passar Tales of Xillia.

Positivo:

  • História longa e bem escrita
  • Boas personagens
  • Podem jogar como Jude ou Milla
  • Sistema de combate divertido
  • Direcção artística
  • Banda sonora
  • Tradução para inglês com qualidade

Negativo:

  • Ausência de vozes em japonês
  • Movimentos algo rígidos nos diálogos
  • Vários cenários demasiado estáticos
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