Análise – Sei Lá

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Olá Cinema Português, como é que vai? Que bom vê-lo por aqui! Cada vez é mais difícil botar-lhe as vistas em cima. Não peço uma Aldeia da Roupa Branca em 3D, mas é com uma lágrima no canto do olho que não vejo mais projectos na Língua de Camões no grande ecrã. E com cortes nos subsídios para a cultura, parece que será ainda mais difícil num futuro próximo. Estamos completamente dependentes da boa-vontade da ZON.

Curiosamente, a nova leva do Cinema Português, apesar de escassa, merece reflexão, com receitas suficientes para pagar o investimento (onde já se viu isso em Portugal?). Sei Lá enquadra-se na lógica de filme para o grande público, adaptando para cinema uma obra literária de Margarida Rebelo Pinto, uma autora portuguesa que está fora do meu circuito de leitura, mas que frequentemente atinge o tops das livrarias nacionais.

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Sei Lá narra a aventura romântica de Madalena (interpretada pro Leonor Seixas), uma mulher que padece das inquietações, segundo o filme, normais nas mulheres, nomeadamente: amor, rede social e profissão. Após o abandono de Ricardo (interpretado por David Mora), Madalena encontra conforto e ajuda junto das amigas Catarina (Gabriela Barros), Luísa (Ana Rita Clara) e Mariana (Patrícia Bull), até recuperar a vontade de dar uma nova oportunidade a outro homem.

O elenco conta ainda com António Pedro CerdeiraRenato GodinhoPedro GrangerRita Pereira e Rui Unas.

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Realizar em Portugal não é fácil. Os Irmãos Wachowski estalam os dedos e têm uma grua com parafusos em ouro. Na nossa realidade, a preocupação é narrar a história e conjugar a intenção da cena com a imagem de forma eficiente. Fiz referência durante a análise da Quarta Divisão, e faço-o novamente, Joaquim Leitão está no topo da hierarquia dos realizadores portugueses. Sei Lá aplica uma linguagem cinematográfica fluída e consciente, com enquadramentos seguros e movimentos de câmera orgânicos. No superlativo de bom está a decisão de aplicar slow motion durante a voz off.

Nos restantes domínios técnicos, acho que a equipa de direcção de fotografia merecia uma sessão de autógrafos para prestigiar o seu trabalho, o tratamento da imagem está fantástico, onde se destaca a iluminação nos interiores (imensos detalhes e contrastes) e as cenas à noite. Outro ponto a favor é a banda-sonora, com músicas portuguesas que vão da Lena d´Água aos BAN. O único senão é a edição (texto e imagem), que poderia ter eliminado algumas gorduras.

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Sei Lá tem problemas chatos. Os protagonistas não têm qualquer química, a maioria dos personagens secundários funcionam enquanto comic relief, a história é pequenina e é recorrente a tentativa de construir a ideia de que aquele grupo de mulheres espelha o género feminino. Durante o filme, reconheci algumas influências de outros projectos, nomeadamente, (500) Dias de Summer e Sexo e a Cidade – o que funciona em abono de Sei Lá, afinal, são excelentes fontes de inspiração -, o grupo das amigas, apesar de estereotipadas, recupera os arquétipos da narrativa clássica (razão, emoção e mentor), a protagonista descreve o arco do personagem e descobre/resolve a dúvida em relação ao objecto de desejo (o protagonista de Her, o filme que recebeu o Óscar de Melhor Argumento Original, não atingiu esta epifania), e o clímax, apesar de mal ilustrado (ao nível do final de Man of Steel), é recompensador e obriga a alguma reflexão.

Não tenho opinião formada sobre a autora, por isso, é muito mais fácil avaliar Sei Lá enquanto obra cinematográfica. Sei Lá é uma história moderna, bastante verosímil, que se enquadra no estilo narrativo de uma telenovela (plot principal e sub-plots), um género que atraí público português ao cinema, mas intelectualmente mais evoluído. A história está bem estruturada, e as pontas soltas atam no terceiro acto. É o melhor filme português, de Portugal, que vi desde o início do projecto PróximoNível.

Positivo

  • Leonor Seixas é a actriz perfeita para desempenhar Madalena
  • Aposto que foi tentador exagerar, mas a Rita Pereira e Ana Rita Clara nunca perderam a mão sobre o personagem
  • Sub-plot de Cristina
  • Vernáculo grosseiro e cenas de sexo orgânicas na narrativa, e com bom gosto

Negativo

  • A decisão de não retorno do personagem principal acontece a meio do filme
  • Personagens estereotipadas
  • Será necessário perder tempo de filme para que um carro faça marcha atrás?

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