De facto, o dinheiro é uma óptima ferramenta para estimular a imaginação e a qualidade. Saving Mr. Banks vai ao encontro da sensação de que a Disney pode tudo nesta altura do campeonato, nomeadamente, convencer qualquer actor, “mexer” nas histórias sagradas da empresa e almejar aos Óscares. A Academia não vai em qualquer conversa, de todo o modo, Saving Mr. Banks tinha a bussola apontada aos candidatos a Melhor Filme do Ano.
O enquadramento de Saving Mr. Banks é interessante: a história nos bastidores do filme Mary Poppins, um dos clássicos maiores do cinema infantil. O projecto surge na linha de uma série de filmes que tentam desvendar as histórias secretas em redor dos clássicos. No ano passado, tivemos a oportunidade de ver Hitchcock (protagonizado por Anthony Hopkins), que narrava a jornada que nos trouxe Psycho. Embora a interessante temática, o filme realizado por Sacha Gervasi ficou aquém das expectativas. Afinal, a vida real mão é tão fascinante como a ficção.
Saving Mr. Banks narra o complicado acordo entre a autora da icónica Mary Poppins, P.L. Travers (interpretada por Emma Thompson), e Walt Disney (interpretado por Tom Hanks), que necessitaram de um processo de entendimento, acerca da adaptação cinematográfica da obra. A rigor, foi um “parto difícil”, na medida em que P.L. Travers pretendia defender a integridade de Poppins do império criado por Walt Disney, construído para multiplicar dólares.
Saving Mr. Banks conta ainda com o elenco perfeito para a história: Annie Rose Buckley, Colin Farrell, Ruth Wilson, Paul Giamatti, Bradley Whitford, B.J. Novak e Jason Schwartzman, que encaixam na dinâmica dos personagens e cumprem os requisitos da produção.
A realização não exigia muito de John Lee Hancock, bastava estar “certinho” e respeitar os tempos dos actores. Pêra-doce para um realizador rotulado ao estilo dramático (The Blind Side), consciente da dimensão emotiva dos personagens e do enredo.
Do ponto de vista dos restantes domínios técnicos, a direcção fotográfica está muito clean (em tons quentes e alaranjados), a edição poderia e deveria ser mais rápida, a banda-sonora segura o dramatismo quando os actores trabalham no silêncio. A estrela da companhia é a produção, “não se acanhem com as despesas” – deve ter sido a palavra de ordem, porque a visita à realidade da Disney nos anos 60 é de deixar o queixo caído.
Saving Mr. Banks é um dos filmes “fofinhos” da época cinematográfica, relacionando a crueldade e a tristeza da vida real com a origem de um dos arautos da gentileza. A história é emotiva q.b., com interpretações seguras de Emma Thompson (poderia ter explorado mais a personagem) e Tom Hanks. Contudo, tendo em conta o legado de Poppins, Saving Mr. Banks fica aquém do potencial real da história: O personagem de Colin Farrell é desnecessariamente politicamente correcto (pedia-se mais garra e uma evolução mais gráfica); os momentos mais importantes são verbalizados (enquadramento e clímax); e a personagem principal não é tão empática quanto isso.
Implicaria contrariar a política da empresa, mas, se a Disney tivesse ido mais longe na dimensão emocional de P.L. Travers, integrando a imaginação da autora, a nova realidade e o passado (ao invés de demonstrar a mais do que batida inadaptação cultural e dividir a narrativa em duas linhas temporais), seguramente que Saving Mr. Banks tinha conquistado um lugar entre os melhores do ano, acrescentado pozinhos de perlimpimpim a Mary Poppins.
Positivo
- “This is what we storytellers do. We restore order with imagination. We instill hope again, and again, and again. Let me prove it to you.” — Walt Disney
- A história na origem de Mary Poppins
- Jason Schwartzman e Paul Giamatti entenderam muito bem os personagens
- Produção e Banda-Sonora
- Contraponto entre Walt Disney e P.L. Travers
Negativo
- Colin Farrell não entrega a carga dramática exigida pelo personagem
- Epilogo chochinho
- Agora quero ir à Disneylândia
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