Análise – Rebuild of Evangelion: 1.11 You Are (Not) Alone / 2.22 You Can (Not) Advance / 3.33 You Can (Not) Redo

Evangelion é um anime que tornou-se bastante popular por diversas razões, sendo que na altura o seu final e história foram algumas das razões do seu sucesso, dando assim direito a um filme que continha o “verdadeiro” final do anime. Quando um remake foi anunciado os fãs ficaram entusiasmados para ver o que estaria para sair desta nova versão de Evangelion, e até ao momento os resultados são mistos.

Talvez a opinião final fique mais clara com o último filme que tem feito os fãs esperar há já vários anos e ainda o irá fazer por mais um pouco, mas por agora esta análise vai focar-se nos primeiros três filmes que já estão disponíveis. Antes disso aconselharia a verem o anime original ou então revê-lo caso já faça algum tempo desde que o tenham visto para refrescar a memória sobre alguns assuntos.

Tal como é indicado, esta série de filmes é um remake do anime original, e devido a isso irão haver diferenças em termos de história, daí ser uma boa ideia terem conhecimento da versão original para poderem comparar e ver o que foi mudado. E também porque os filmes falham ao explicar certas coisas ao assumir que os fãs já tem conhecimento da série, o que deixará alguns novatos confusos em certos momentos.

Mesmo assim vamos fazer um pequeno resumo do que consiste Evangelion. Um enorme desastre aconteceu há alguns anos atrás que destruiu parte da população e agora a Terra está sob a ameaça de ser atacada por criaturas que foram denominadas de Anjos. Para combater estes seres e evitar que um novo desastre aconteça, uma organização chamada NERV está ao encargo de unidades móveis conhecidas como EVA que são pilotadas por adolescentes.

Começando então pelo primeiro filme, 1.11 You Are (Not) Alone, e com isto quero realçar que o que será analisado serão as versões 1.11, 2.22 e 3.33 de cada filme que contem algumas mudanças e cenas adicionais, sendo basicamente a edição definitiva de cada filme.

Rebuild of Evangelion 1.11: You Are (Not) Alone acaba por ser bastante semelhante aos primeiros seis episódios do anime mas com subtis mudanças. Alguns detalhes importantes que eram apenas revelados mais tarde, no anime original, aparecem mais cedo neste filme, enquanto que outros eventos já não acontecem neste filme ou então aparecem de forma diferente, bem como algumas novas adições que não estavam presentes na versão original.

Neste filme damos de caras com Shinji Ikari que é convidado a pilotar um dos EVAs pelo seu pai. Tal como na versão original, a relação entre Shinji e o seu pai, que é o líder da NERV, é praticamente inexistente, com Shinji a tentar estabelecer qualquer tipo de ligação para com o mesmo.

Shinji acaba por ser um pouco infame no anime original devido à sua personalidade. A personagem é colocada em múltiplas situações que são mais do que qualquer adolescente normal conseguiria lidar com, e o mesmo sempre teve problemas em estabelecer relações, sendo que ao longo do anime começa a criar algumas amizades. Mesmo com alguns eventos mudados e outros removidos, o primeiro filme de Rebuild of Evangelion retrata a maneira em como Shinji começa a criar novas amizades, recebendo-as no seu mundo que outrora estava vazio.

Ao contrário do anime o filme faz com que Shinji demonstre interesse em Rei um pouco mais cedo, criando assim uma base para o segundo filme, enquanto que a sua relação com os seus colegas de turma é quase inexistente e parece desenvolver-se fora do ecrã enquanto que no anime havia um ou dois segmentos com os mesmos.

Enquanto que a história é na sua maioria semelhante, a nova qualidade visual não só das personagens mas também dos cenários, EVAs e dos Anjos torna o filme em algo quase completamente novo. Alguns dos designs mantém-se mas recebem novas cores ou detalhes que antigamente não continham, o que os torna muito mais interessantes. Os EVA podem não mostrar muito à primeira vista, mas outros que os fãs irão imediatamente notar serão alguns dos Anjos que têm agora um aspecto muito melhor.

O primeiro filme de Rebuild of Evangelion termina com a ideia definitiva de que as coisas serão mais do que um simples remake, e de que a história seguirá um caminho diferente, o que é comprovado com o segundo filme, Rebuild of Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, que distancia-se da história do anime original.

Rebuild of Evangelion 2.22 (You Can Not) Advance pode distanciar-se do foco do anime original mas ao mesmo tempo ainda faz uso de algumas das suas ideias, apenas de uma maneira bastante reciclada. O segundo filme pega nos restantes episódios do anime e decide usar algumas ideias enquanto muda a direcção da sua história.

Alguns acontecimentos do anime não aparecem neste filme, enquanto que outros tal como já foi dito aparecem mas bastante alterados. A “Fourth Child” desta vez é uma nova personagem, embora infelizmente esta não receba muita atenção tanto neste filme como no terceiro. Uma nova personagem é um dos pontos de interesse neste remake, mas o facto de até agora nenhum dos filmes ter dado a devida atenção a Mari Makinami, apenas faz com que esta personagem seja mais ar do que propriamente conteúdo novo.

No entanto em termos de personalidade Mari acaba por ser um pouco semelhante a Asuka. Ambas ficam entusiasmadas para ficar a comando de um EVA, mas Mari consegue absorver melhor a informação à sua volta e ficar calma, uma vez que esta possui mais conhecimento sobre a NERV e outras facções.

Ryouji Kaji é provavelmente a personagem mais afectada neste remake, não tendo nenhuma semelhança em termos de papel com o anime. A personagem continua a ter o seu histórico, mas a relação que esta tem com as outras muda drasticamente, com a maior mudança a ser o facto de Kaiji e Asuka não se conhecerem. Esta é uma boa mudança já que no anime original a paixoneta que Asuka tinha por Kaiji nunca ofereceu nada de útil à história.

Falando em Asuka, esta também actua de uma forma um pouco diferente. A sua personalidade continua igual mas não possui um nariz tão empinado como anteriormente e também está um pouco mais aberta para com as outras personagens, apesar de continuar a agir de uma forma “tsundere”. Asuka também não apresenta tantos problemas pessoais como no anime original, o que lhe permite rapidamente ultrapassar os seus problemas e assim dá oportunidade ao filme para focar-se noutros assuntos.

A maneira como o filme avança a sua história é um misto de ideias novas que criam cenas originais e também uma reutilização de ideias do anime original. Enquanto que o primeiro filme era basicamente um remake dos primeiros seis episódios do anime, este segundo filme pega em situações dos restantes vinte episódios e readapta-as numa nova situação, apresentando conteúdo que é fresco e que muitos nem irão lembrar-se que já viram antes.

Este segundo filme oferece uma grande quantidade de novo conteúdo misturado com algumas ideias recicladas, apresentando o que é até agora o melhor filme desta nova série de Evangelion, já para não falar que começar a focar-se nas suas personagens principais e nas mudanças que estas estão a sofrer, com Rei a ser o maior destaque.

O terceiro filme, e aquele que mais dividiu os fãs, Rebuild of Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo é completamente original, não tendo qualquer semelhança com a história do anime. Este não é o problema que os fãs tem com filme mas sim certas decisões tomadas com a sua história. Por um lado o “twist” apresentado no início do filme não me incomodou muito mas dava a ideia de ter saltado algum capítulo ou de haver alguma inconsistência com a maneira em como o segundo filme terminou.

Neste terceiro filme pode-se dizer que a maioria do que aconteceu até ao momento acaba por ser ignorado para dar lugar… a nada. Nada realmente acontece neste filme até aos seus momentos finais onde a história começa a ganhar interesse apenas para rapidamente ser encerrada.

Fica complicado falar dos aspectos positivos sem fazer spoilers, por isso abordando a coisa de uma outra forma pode-se dizer que de certa maneira Rebuild of Evangelion 3.33: You Can (Not) Redo é o equivalente de The End of Evangelion, no sentido de ser completamente diferente do que se esperava, de demorar a entregar aquilo que os fãs querem e também de no fim deixar mais perguntas que respostas.

Como disse anteriormente, a nova personagem Mari Makinami continua a não receber grande destaque e desenvolvimento, enquanto que por outro lado este filme decide focar-se um pouco mais em Kaworu Nagisa, uma personagem que apareceu nos últimos episódios do anime original e que não teve grande destaque.

O problema é que continua-se a não saber muito sobre a personagem, e o tempo que Kaworu passa com Shinji não é o suficiente para estabelecer uma relação de amizade ou os momentos quase homossexuais que existem. Kaworu sempre foi uma personagem que apareceu do nada no anime original e os filmes davam a ideia que desta vez iriam tratar este assunto de uma maneira melhor excepto que não o fizeram, fazendo com que Kaworu continue a ser uma personagem que apenas existe para mover com a história quando for conveniente.

Em termos de relações, as coisas também mudam entre Shinji, Asuka e Rei com uma espécie de reset entre os três, mas na sua maioria está apenas a preparar o terreno para melhor explorar no quarto filme. Entre Asuka e Shinji não existe muito a acontecer, com o filme mais uma vez a focar-se no duo de Rei e Shinji que é explorado de uma forma bastante interessante e que não chegou a ser totalmente feita no anime original.

Provavelmente o maior problema de Rebuild of Evangelion 3.33: You Can (Not) Redo é o facto de este ter vindo logo de seguida ao segundo filme, que é uma das melhores entradas de Evangelion e de todos os fãs estarem à espera de algo ao mesmo nível. No entanto, este filme decide fazer as coisas de outra maneira e preocupa-se mais em focar-se em certas situações por demasiado tempo ao invés de avançar com a história num pacing normal e que mantenha os espectadores interessados enquanto oferece respostas para o que está a acontecer.

Olhando para tudo e todos que rodeiam Shinji é fácil de entender o que este filme queria fazer, mas esta não foi a melhor forma de o fazer, uma vez que o sentimento não é realmente entregue. Toda a resolução e desespero que Shinji acaba por demonstrar não é sentida e os momentos finais, apesar de serem a melhor parte do filme, não oferecem muita emoção ao contrário do pretendido. Como disse inicialmente, Rebuild of Evangelion 3.33: You Can (Not) Redo de certa forma pode ser comparado com The End of Evangelion em vários aspectos e ambos certamente deram que falar e contam com várias interpretações.

Até ao momento esta reinterpretação de Evangelion tem contado com os seus pontos altos e baixos. O facto do primeiro filme ser um remake completo dos primeiros seis episódios do anime pode enganar os fãs a pensar que os próximos serão iguais apenas para depararem-se com algo completamente diferente. No entanto a forma em como o segundo filme consegue reutilizar conteúdo velho e ao mesmo tempo apresentá-lo numa nova história é algo que merece ser reconhecido. Já o terceiro filme acaba por sofrer ainda mais devido ao facto do último filme da série ainda não ter sido lançado, em especial tendo em conta que faz quase uma década que os fãs estão à espera do mesmo. Talvez com a imagem completa este possa ter uma melhor recepção, mas neste momento irá caber à interpretação de cada pessoa sobre aquilo que a série Evangelion é.

Positivo:

  • Primeiro filme é um bom remake do anime original
  • Segundo filme faz uma óptima junção entre o conteúdo velho e o novo
  • História tem momentos interessantes
  • Temas de encerramento por Utada Hikaru

Negativo:

  • Terceiro filme tomou algumas decisões estranhas
  • Primeiro filme é bastante semelhante ao anime original
  • Algumas personagens não têm muito destaque
  • Pode ser confuso para quem não viu o anime original

Mathias Marques
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