Análise – Parasyte

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  • Episódios: 24
  • Data de exibição: 9/10/2014 até 26/03/2015
  • Géneros: Acção, Drama, Horror, Psicológico, Ficção científica, Seinen

Parasyte é a adaptação para anime de uma das mangas mais influentes de sempre. Tendo sido publicada em 1988, a manga de Parasyte, inspirou muitos. Reza a lenda que até influenciou Resident Evil. Agora que revi o anime, vou definitivamente ler as origens. O mais espantoso é a maneira como transformaram e trouxeram uma versão da história de há 27 anos atrás para a actualidade, acrescentando tecnologias e ultrapassando outros obstáculos para modernizar tudo, sem que escape nenhum detalhe que deixe vestígios indesejados.

Numa noite, aliens em forma de minhoca denominados “parasytes“, invadiram não só o planeta Terra, como também os cérebros dos humanos. Ampliando este acontecimento, vemos um destes “parasitas” a tentar entrar pela orelha de Shinichi, enquanto este dormia de fones (valha-nos os adolescentes e as suas modas!), depois desta tentativa falhada por parte do alien, este entra pelo braço do humano, que acorda e luta para não perder o controlo do seu cérebro. Sendo assim, o parasita fica-se pela mão do protagonista, que por sua vez ficou com o cérebro intacto.

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No começo do anime, Parasyte mostra ser bastante estranho e acredito que para certos espectadores seja complicado conter o “mas que raio?!” em alguns momentos, mas a história flui tão bem e os personagens aceitam  aquelas “condições” em que se encontram de forma tão natural, que, por não conseguirmos vencer isso, teremos de nos juntar a eles. O resto é espontâneo, não se preocupem, só dói ao inicio, depois vão gostar.

O ponto forte deste anime incide na caracterização das personagens principais e na sua interessante interacção. Os dois acabam por se adaptar um ao outro e o parasita acaba por receber um nome: Migi, que em japonês significa mão direita. Shinichi tem fobia a insectos e é muito emotivo, enquanto que Migi não tem sentimentos e é muito objectivo. Aliás, segundo Shinichi, as emoções são um beneficio para a sobrevivência, mas a sua mão direita, aparentemente adorável, considera-as distracções daquilo que é importante.

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Quanto a algumas personagens secundárias, nomeadamente as personagens femininas, acho que tiveram pouco desenvolvimento, pouca exposição pessoal e foram vítimas de “rótulos”. A Murano e a Kimishima, por exemplo, ambas apaixonadas pelo Shinichi, são super dependentes dele, frágeis e dramáticas. A Murano é mesmo o cúmulo, porque está-se sempre a repetir e poderia ter características mais detalhadas e próprias para o tempo de antena que tem. A única mulher que não é indefesa e sensível não é propriamente mulher, é um parasita, mas esperem até ao fim que logo vêem.

Os outros seres da espécie alien hospedaram-se maioritariamente em corpo de seres humanos, tomando conta dos seus cérebros e camuflando-se na sociedade para se poderem alimentar… de outros humanos. Como é esperado do mundo selvagem, estes parasitas sentem a presença de Migi e Shinichi a coexistirem no mesmo corpo, com dois cérebros funcionais e independentes. Isto significa algo assustador e sem sentido para a espécie invasora, que, por instinto, ataca os dois heróis que se ajudam mutuamente batalha após batalha.

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Gosto do facto de Shinichi ser como é e de não tornar Parasyte num shonen comum. O herói não fica invencível depois de treinar artes marciais, não causa um terramoto com um truque de mil socos dados em dois segundos, não salva os cidadãos apanhando balas antes de os atingir, não os ressuscita, não cospe fogo, nada disso. Shinichi é medricas na maior parte das vezes… Mas é realista e é isso que me faz reconhecer o seu valor, quando consegue enfrentar ou até mesmo engendrar uma estratégia para derrotar os inimigos. Nada contra os animes de tipo shonen, mas não aprecio que só haja uma pessoa “overpowered” e que o resto das personagens sejam inúteis e dependentes. No caso de Parasyte podemo-nos colocar no lugar do protagonista, o que torna as coisas ainda mais interessantes.

Interessante também são as cenas de acção em si… Tão bom… Para começar, cada parasita é único, ou seja, por um lado, bom para nós: surpresas a cada episódio. Por outro, mau para Migi e Shinichi: cada inimigo requer um jogo de mente ou plano totalmente novo e ajustado a um novo nível e tipo de perigo e em terreno de grande pressão, o que requer rapidez e precisão.

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A acompanhar toda esta teoria de manipulação de cenários e derramamento de sangue abismal (gore) vem a ilustração certa. Os parasitas desfiguram a cara “humanóide” para uma cabeça aberta com lâminas nas extremidades de tentáculos, o que significa que vão atacar. Ataque este que se baseia em movimentos aleatórios e incrivelmente rápidos, que abrangem uma grande área e parecem descontrolados. Tudo isto está muito bem animado, com a pulsação ao ritmo aceleradamente certo.

Na parte da animação, vem também o lado misterioso de Parasyte. Os aliens hospedados nos corpos dos humanos distinguem-se (quase sempre) de forma inequívoca das pessoas normais. Os parasitas são portadores de um olhar congelado, expressões arrepiantes e contorções discretas de certos músculos, que nos transmitem muito bem a mensagem do quão satisfatoriamente “messed up” é esta série. Os terráqueos tradicionais têm também as expressões muito bem trabalhadas e, vejam bem isto, os personagens parecem mesmo ter a idade que têm! O que é de louvar numa era em que a maioria dos animes põe protagonistas com dezasseis anos, até quando já têm pêlos no peito.

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Como já referi anteriormente, embora Shinichi tenha uns ataques de coragem, é na maior parte das vezes um adolescente com umas doses extra de sensibilidade, pelo que chora e grita muito, especialmente ao inicio. O trabalho de voz aqui associado está muito natural e bem encaixado. No caso do Migi, (uma das minhas vozes preferidas de anime todos os tempos) ir-me-á ficar para sempre marcada a forma de ele dizer “Shinichi“. Era engraçado como isso tanto se poderia seguir de perigo iminente ou de uma pergunta tonta em relação ao comportamento reprodutor dos humanos.

Quanto à banda sonora… não é só constituída por músicas de fundo que passem despercebidas. Os temas de Parasyte vão desde um mix de DubstepRock até a um piano recorrente e suave. Ou seja, preparem-se para ficar “pumped-up” quando começar a música electrónica hardcore, pois isso significa que vem aí uma batalha das boas. E podem contar também com umas fraquezas estranhas, aka pontadas cintilantes no coração, mas não se preocupem, é normal, são causadas pelo teclado.

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Evitando falar do final da história, mas não conseguindo evitar criticar um facto importante: a moral que o anime quer transmitir parece um pouco forçada por estar praticamente toda concentrada nos últimos episódios. Criticar a humanidade é o que Parasyte pretende. E apesar de eu pensar que reúne todas as condições necessárias para o fazer, não consegue aproveitá-las totalmente e acaba por mencionar muito pouco no início dos 24 episódios. Apenas por algumas vezes é feita referência a que os humanos são o animal que mais mata e destrói, ao invés dos parasitas, que só matam uma espécie, e por sobrevivência. No final, surge uma grande lixeira e só se fala na poluição e blá blá blá, sendo que até dão um papel importante a um pedaço de ferro tóxico *cof cof*. O anime não me tocou dessa forma, não foi o responsável por me sensibilizar para esses factores. A minha opinião acerca da humanidade (ainda que vá ao encontro do que a história menciona) já estava formada, nada foi acrescentado. Mesmo assim, somos induzidos a questionar-mo-nos sobre diversas temáticas ao longo da acção, relativamente a outros assuntos.

Esta história é, de facto, muito controversa, principalmente na década de 80. Monstros que se apoderam de humanos e desatam a matar pessoas para comer não seria um tema propriamente consensual nas bancas, há cerca de 30 anos. Também é verdade que agora pode parecer um tema muito banal no mundo dos animes e filmes, mas Parasyte ganha, na medida em que os parasitas apareceram do nada, num mundo tão normal como o nosso. Não há, desde o início, feiticeiros, robôs ou raparigas de cabelos às cores e peitos gigantescos. Os parasitas invadem o planeta, totalmente normal e realista, de forma brusca e sem avisar. E é isto que torna a situação muito mais plausível e intrigante, sendo justificável partilhar um pouco do pânico das personagens, visto que o mundo representado no anime não estava preparado para lidar, nem se defender de invasores, tal como o nosso não está.

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pn-recomendado-anaPositivo

  • Personagens principais divertidas e respectiva interacção muito bem construída
  • Animação e som: a segunda dupla mais forte deste anime
  • Cenas de luta intensas com inimigos únicos e cada vez mais fortes
  • Especialmente entusiasmante para quem gosta de gore

Negativo 

  • Pouco desenvolvimento das personagens femininas
  • Moral da história um pouco forçada

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Catarina Perez
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