Guillermo del Toro é um caso especial do cinema contemporâneo. Existe um lote restrito de realizadores, com características únicas, que proporcionam cinemáticas originais e ambientes visuais vanguardistas, praticamente inimitáveis (Ex: David Fincher, Quentin Tarantino, Tim Burton e Edgar Wright). Um lote no qual se pode incluir Guillermo del Toro, um realizador capaz de invocar o fanboy dentro de nós e elaborar um universo artístico transversal a gerações e géneros, num registo cinematográfico detalhado, que denota várias influências das correntes artísticas clássicas.
Da mente de Guillermo del Toro surgiram alguns dos projectos mais vanguardistas da actualidade (Kung-Fu Panda, Pan’s Labyrinth e Hellboy), para além da colaboração na adaptação do guião cinematográfico da obra The Hobbit (realizado por Peter Jackson). Guillermo del Toro é um player importante em Hollywood, com prestígio suficiente para convencer qualquer produtora a investir dinheiro nos projectos elaborados.
Pacific Rim é a última obra do realizador de origem mexicana, que atinge as salas de cinema com a premissa: robots gigantes contra monstros de proporções épicas. Para os fanboys é mais do que isso, afinal, são identificáveis influências de Neon Genesis Evangelion, Shadow of the Colossus, Alien, Portal, Godzilla, Halo, Transfromers, Rambo, District 9 e Power Rangers (e mais alguns). Será que falar ao coração de um fanboy/gick é suficiente para fazer um bom filme?
Pacific Rim conta a história de Raleigh Becket (interpretado por Charlie Hunnam), o piloto de um Jaeger (o dito robot gigante), construído para enfrentar uma ameaça alienígena (Kaiju), proveniente de uma falha cósmica e espacial no fundo do Oceano Pacífico. Após a morte do irmão, Raleigh decide abandonar o ofício de piloto e dedicar-se a uma vida banal. No entanto, a crescente a meaça dos Kaiju (podem tratá-los por Godzilla que eles não se ralam), obriga Raleigh a regressar ao activo, e ao comando de um dos Jaegers.
Guillermo del Toro, mais uma vez, optou por actores promissores com poucos tiques de vedetismo, além de Charlie Hunnam, o elenco conta com Diego Klattenhoff, Idris Elba, Rinko Kikuchi, Charlie Day, Burn Gorman, Max Martini, Robert Kazinsky, Clifton Collins Jr. e Ron Perlman (Hellboy). Apesar do subdesenvolvimento dos personagens, a qualidade dos actores consegue evidenciar-se e incutir valor acrescido às cenas, sobretudo nas dinâmicas entre Raleigh/Stacker Pentecost e Newton/Hannibal Chau.
Guillermo del Toro é um realizador notável, com as mesmas fantasias de uma geração habituada a cinema, televisão, banda-desenhada, anime e videojogos. As cenas de combate entre Jaegers e Kaiju são fantásticas, repletas de detalhes e momentos de pura fantasia. Guillermo del Toro reuniu-se com uma boa equipa de iluminação, sensível à mudança da tonalidade de imagem e consciente das circunstâncias dramáticas, e uma equipa de sonorização competente, intuitiva a descortinar “como soa um alienígena de várias toneladas em fúria”.
Se a história e a tridimensionalidade dos personagens tivessem a mesma qualidade das cenas de combate, Pacific Rim seria um dos melhores filmes do ano… mas não é. Os personagens são tábuas rasas, movidos por objectivos explorados mil milhões de vezes, o protagonista não atinge uma epifania com a aprendizagem construída ao longo do filme e as forças de antagonismo não transcendem a ameaça física.
As batalhas em Pacific Rim são o descontrolo hormonal que um fanboy precisa, mas a história inconsequente, os maus diálogos (Guillermo del Toro não sabe explorar personagens femininas), os clichés na construção narrativa e a backstory descartável engonhada dos personagens, atrapalham e adiam o ponto alto do filme. Guillermo del Toro confessou nunca ter visto Neon Genesis Evangelion, mas devia, assim teria entendido que a célebre série de animação japonesa explora a Dúvida Metafísica, o Complexo de Édipo, a ética da clonagem e a natureza das relações humana… e por acaso, há cenas de combate com robots gigantes. No futuro, Guillermo del Toro poderá apenas gabar-se de ter criado uma versão cool dos Power Rangers, quando podia ter construído um filme de culto para gerações futuras.
Positivo
Negativo
- Subdesenvolvimento dos personagens
- História de amor
- Backstory de Mako
- Sequências sem batalhas
- A batalha final não é tão épica quanto as batalhas anteriores
- Recuperando uma frase do Daniel depois do filme: “A Humanidade resolve os problemas colocando uma bomba atómica à porta do inimigo”
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