Desde que me lembro que Pixar, é sinónimo de inovação e qualidade. Durante mais de uma década, desde a sua fundação, que este estúdio tem entregado inúmeras obras , que são não só uma referência para o campo da animação cinematográfica, como também para a indústria do cinema como um todo. Contudo, desde a estreia de Toy Story 3 (2010), que a Pixar tem entregado vários filmes, há exceção de Coco (2017) e Inside Out (2015), que ficam aquém do legado até então construído, tais como Brave (2012) e The Good Dinossaur (2015), sem contar com as várias continuações feitas por parte do estúdio.
Em 2017, aquando do anúncio de Onward, que parecia haver alguma esperança no horizonte para a Pixar. Este filme prometia ser o início de uma nova fase, a qual seria totalmente focada na aposta em animações independentes e inovadoras, deixando para atrás, a tendência de fazer continuações de obras já apresentadas. Portanto, Onward tinha o caminho pronto para relançar a Pixar no spotlight uma vez mais. Contudo, como irei mostrar no decorrer desta análise, o mesmo acaba por ser um novo começo, sem grande projeção e deixando muito a desejar.
Onward parte da premissa tradicional dos moldes da Pixar, do conceito central focado na pergunta. E se os brinquedos tivessem vida? E se as emoções tivessem sentimentos? E se a tecnologia substituísse a magia? É esta a abordagem que o universo de Onward adota. O filme foi produzido por Dan Scanlon, também conhecido por Monsters University (2013), no qual como referi, pretende explorar as implicações de um mundo onde a magia havia sido deixada de lado, em prol da evolução tecnológica, somando a isto, o facto de todos os seres deste mundo, seres eles próprios fantasiosos, como trolls, dragões, entre outros.
Seguindo esta conceção, a história foca na família Lightfoot, mais especificamente em Ian (Tom Holland) e Barley Lightfoot (Chris Pratt), os dois irmãos. No aniversário de Ian, a sua mãe. Laurel (Julia Dreyfus) oferece-lhe uma prenda, pertencente do seu falecido pai, Wilden, um bastão mágico, capaz de conjurar feitiços. Instrumento este, que permitia ressuscitar alguém, por vinte e quatro horas. Cientes disto, ambos os irmãos decidem trazer de volta o seu pai, contudo durante a realização do feitiço, algo corre mal, e acaba por apenas conseguir trazer de volta metade do corpo, de Wilden até à cintura. Por consequência, partem numa aventura, contra o tempo, ao estilo dungeons and dragons, para recuperar o cristal, usado no bastão, que lhes permite ressuscitar Wilden.
Contudo esta aventura não será fácil, pois à semelhança de jornada de D&D, os protagonistas terão de passar por vários obstáculos, que não só serão desafios no seu caminho, como irão fortalecer a ligação de ambos. Por falar nisso, e parcialmente graças ao trabalho de vozes de Tom Holland e Chris Pratt, este desenvolvimento é feito de forma cuidada. Pois ao longo do filme, vemos algumas pistas e dicas que irão ser deixados como ganchos para momentos chaves perto do clímax, que irão amarrar as pontas soltas.
Logo no início do filme, somos expostos à grandiosidade do mundo apresentado. No entanto, a aventura dos dois, não faz jus a esta formulação. Pois acaba por ser significativamente menor em escopo, tanto em termos de proporções, como também no uso das criaturas e do lore do universo. Apenas contando, ao longo da jornada, com a apresentação de uma ou duas espécies/criaturas distintas, que apesar de acrescentarem algum valor, não é suficiente, tendo em ponderação os primeiros minutos do filme. Portanto, há uma má aproveitação da própria mitologia introduzida.
Ainda neste aspecto, apesar de durante a travessia, haver algumas sequelas, nos protagonistas, provocadas pelo seu envolvimento direto. Nada parece ser, mais uma vez, grandioso o suficiente para justificar a expectativa criada momentos antes da sua decisão embarcar na dita “aventura”, pois nada parece ser um verdadeiro risco, sendo resolvido rapidamente. Por outro lado, reside no desenvolvimento das personagens e igualmente na tensão criada pelo factor tempo, de conseguir rever Wilden novamente, que o Onward nos deixa envolvidos, para saber o desfecho, e não propriamente entregar uma sensação de satisfação narrativa de uma jornada concluída, com grande esforço. Ainda assim, Barley e Ian têm uma boa química, e vão aprendendo um com o outro, por vezes ultrapassando até barreiras pessoais e também emocionais no processo.
Na vertente emocional, como não podia deixar de ser, este é um filme da Pixar, por isso há sempre aquele momento mais triste e melancólico. Não obstante, apesar de tocar nos pontos chaves (ou melhor, nos pontos mais sensíveis), não consegue captar toda a carga emocional que poderia ter conseguido almejar. Isto deveu-se muito, ao escopo da narrativa, que como referi parece não trazer grande sacrifício para as personagens, tirando um ou outro elemento. Somando ainda ao facto, de o clímax ser muito corrido e portanto, até certo ponto sendo prematuro na sua execução, em comparação com um primeiro ato, que fora construído sem grandes pressas.
A qualidade da animação é aceitável e mantém-se dentro do padrão das animações criadas a computador, que se tem visto nos anos mais recentes. Não elevando patamares já estabelecidos, por outro lado, não deixa a desejar, neste requisito. No que diz respeito à banda sonora, destaco a música tema, que toca ao longo do filme, em vários momentos, sobre outros tons musicais. As restantes faixas encaixam razoavelmente bem, naquilo que se espera de uma aventura familiar ao estilo D&D, puxando para o lado de alguns clássicos do género de fantasia.
Onward tinha boas bases para conseguir entregar algo de excelência, e até mesmo exceder expectativas. Contudo, parece que não vai a fundo, nas ideias e conceitos que apresenta, ficando apenas na ponto do iceberg. Há alguns pontos positivos, sem dúvida, mas como um todo, deixa bastante a desejar, ainda para mais, se o olharmos em comparação com a galeria de clássicos que a Pixar criou no passado. Por todos estes motivos, para o bem ou para o mal, Onward é um filme aceitável. Mas não tem a chama ardente, de inovação e qualidade, que a Pixar tanto nos habituou. Chegando por vezes, até a parecer um filme produzido por outro estúdio, faltava aquela essência, para além do elemento emocional, que define uma obra da Pixar.
Positivo:
- Ligação e desenvolvimento dos dois irmãos;
- Mensagem emocional transmitida;
- Universo apresentado…
Negativo:
- …mas muito pouco aproveitado;
- Fica aquém da qualidade da Pixar, com pouca revolução e novidade;
- Personagens secundárias, maioritariamente, deixadas de lado;
- Conclusão apressada e prematura;
- Jornada poderia ter mais risco e sacrifício;
- Tom demasiado leviano para um filme da Pixar;