Análise – Hellboy

Hellboy não é nenhum novato no que toca a aparecer no grande ecrã. Há alguns anos atrás, a série foi alvo de uma adaptação que foi até relativamente bem recebida, havendo espaço para serem criados dois filmes, Hellboy e Hellboy II: The Golden Army.

Isso decorreu há quase 10 anos atrás e Hellboy está agora de regresso para um novo filme que serve como um recomeçar. Mesmo que seja um filme bastante competente e com bons momentos de sobra, não deixa de ser uma experiência demasiado focada em contar muito mais do que devia, sem ter tempo para explorar o tema principal.

Começar do zero nunca é fácil para um filme, pois a audiência é muitas vezes arrastada para a sala de cinema sem saber exactamente para o que vai. Como Hellboy é uma série com vários livros e com um conjunto vasto de personagens e inimigos, não é fácil criar algo mais avançado, correndo o risco de ter de mencionar coisas que já aconteceram antes, sem ter tempo suficiente para explicar ao espectador o que se está a passar afinal.

Este Hellboy sofre com isso. A história principal não está mal contada e o ritmo até nem é nada mau, mas parece que há sempre algo que se está a meter pelo caminho que tem muito pouco ou nada a ver com a trama principal. Há momentos que estão lá simplesmente para encher, com personagens que estão lá apenas para aparecer que podiam ter sido resolvidos de outra forma. Isto faz com que o filme se arraste um pouco mais do que é preciso e resolva dar mais tempo de antena a coisas que podiam ser colocadas em outras áreas, como é o caso da ausência de um combate final decente.

A escrita sofre de um misto entre tentar ser sério e ser tentadoramente engraçado, o que resulta bastante melhor quando está a virar para o brincalhão. O David Harbour faz um bom papel e nunca me cansei de o ouvir, felizmente ele é quase sempre o centro do filme. Quanto às personagens adjuvantes, temos Sasha Lane a fazer Alice, uma “vidente” que até não está nada mal no filme e Daniel Dae Kim que faz do típico polícia durão que já enfrentou uns monstros no passado. Nada de especial, mas não é incomodativo. Do outro lado da barricada temos o Gruagach, um porco humanoíde que achei bastante interessante e claro, Mila Jovovich no papel de Nimue, uma interpretação não muito complicada, pois a única coisa que ela precisa de fazer é ser sexy e falar calmamente com ar de má.

Pelo caminho temos algumas personagens interessantes que não chegam a ter o tempo de antena suficiente e outras que aparecem apenas para provar que existem mais coisas no universo de Hellboy, que deviam ter o seu próprio espaço e tempo para brilhar. Se já é complicado escrever algo com apenas meia dúzia de personagens, imaginem meter três vezes mais que isso num filme que tenta ser um reboot. Quem viu o filme comigo admitiu já estar a perder-se entre as referências a dada altura.

Algo que me agradou bastante neste Hellboy é a forma como não se preocuparam em tentar fazer dele um filme para todos. Existe aqui muito mais humor, é bem verdade, mas este vive lado a lado com rios de violência e sangue. Não existe travão nem contenção em mostrar entranhas e outras partes do corpo cortadas em pedaços. Também não existe contenção em deixar a personagem ter os seus momentos de diversão em combate, pois o próprio Hellboy não se acanha em usar todo o seu poder para cortar alguns inimigos às postas.

Falando em acção, também é preciso dar os parabéns à equipa de edição e filmagem, pois os combates são bastante bons e a forma como são colocados os planos dão uma energia e adrenalina própria a cada momento. Menos bons estão os segmentos que envolvem tiroteios ou “humanos”, que tendem sempre a ser mais estáticos e menos espectaculares. Grande parte do filme tem também uma boa banda sonora, com músicas bem conhecidas e alguns originais bastante bem feitos.

Quando Hellboy está mais preocupado em dar atenção à história e ao seu personagem principal, as coisas correm bastante bem e o filme avança na direcção certa. Depois temos todos os momentos em que alguém achou que seria boa ideia colocar coisas a mais ou desviar a atenção da trama principal, aqui a coisa fica amena ou começa a criar demasiado ruído no que se pretendia, ficando a impressão que o filme se arrasta bem mais do que devia.

Apesar de tudo, estava à espera que este filme fosse bem pior. As minhas expectativas estavam em baixo e acabei por sair do cinema agradado com o que vi. Não é um filme fantástico, não é um filme obrigatório nem uma referência do género, mas não deixa de ser um filme que entretém e que me deixou com vontade de explorar o universo de Hellboy. É um filme mediano, mas puxa mais ao bom do que ao fraco.

Positivo:

  • O Hellboy é uma boa personagem
  • Bons combates
  • Conteúdo do universo
  • Banda sonora

Negativo:

  • História tem vários momentos baixos
  • Conteúdo a mais
  • Pay-off desilude

 

 

Daniel Silvestre
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