Análise – Godfall

Apesar de ter sido revelado como um dos grandes exclusivos da PS5 e como uma verdadeira potência gráfica que iria representar o que a nova geração consegue fazer, Godfall não conquistou as expectativas de muitos daqueles que o viram pela primeira vez através das apresentações da Playstation 5 e não só.

Não há como negar, Godfall é um jogo bonito e com uma apresentação bastante forte. Esse é um dos elementos que salta de imediato à vista e que é igualmente um dos grandes porta estandartes deste jogo que gosta de se apresentar como um dos primeiros Slasher-looter a sério.

Godfall não começa nada mal. Temos uma guerra épica a decorrer entre personagens com aspecto verdadeiramente badass, mas isto acaba depressa. A personagem principal apesar de ter ser um guerreiro com presença, depressa se mostra ser tão vazio como a sua armadura e a maioria das personagens com quem interagimos são muito parecidas. Existem poucas coisas que fazem com que este jogo não pareça demasiado mecanizado e ausente de vida, o que é muito estranho quando algumas das suas inspirações são Borderlands e Destiny.

Godfall usa um hub central como base e podemos visitar outras zonas do mundo através de um portal. Cada uma destas zonas é inspirada num elemento e estão construídas num formato de mundo aberto falso ligado por corredores e zonas mais abertas que servem como salas. Estas zonas costumam estar repletas de inimigos base, caixas e alguns caminhos escondidos. Estes cenários até que são interessantes de visitar e explorar, mas apenas das primeiras vezes. Como o jogo requer que os visitem vezes sem conta para realizar missões principais e alternativas, perdem parte do seu interesse muito depressa.

O combate é uma mistura jogos como God of War e até Dark Souls, sendo que a evolução é claramente inspirada nos exemplos referidos em cima. Cada personagem que pudemos usar tem o seu estilo de habilidades e isto pode ser combinado com vários tipos de armas mais lentas ou mais rápidas. Existem adagas, espadas, martelos, entre outras opções. A personagem utiliza ainda um escudo que permite defender ou arremesar à distância. Os combates são bastante rápidos mas um pouco desajeitados, especialmente porque a personagem tem a câmara fixa nas suas costas e a sua movimentação é bastante lenta em movimentos mais pequenos, aliás, até existe um botão para virar de costas, por isso os criadores já tinham percebido que isto iria ser um problema. Muitos dos ataques acabam por ser feitos nas nossas costas e gerir grupos de inimigos com feiticeiros é uma dor de cabeça.

Para tornar o combate em momentos mais interessantes, é possível usar várias habilidades desruptivas que podem colocar o inimigo num estado debilitado, ou em outros casos (um dos meus favoritos), dar dano suficiente para destruir a barra de vida do inimigo com golpes fracos, para acabar com um golpe forte final destruidor. Se unirem isto a sinergias feitas com as armas e as próprias armaduras, conseguem criar sequências de ataque bastante fortes e carregadas de vantagens como veneno e afins.

Falando então nas armas e afins, um dos pontos de alta importância de Godfall é a quantidade de loot que podem apanhar, que vai das mais variadas armas até artefactos e anéis e coisas do género. Cada um deles está agarrado a um estilo de raridade e nível. Eu sou um grande fã de sistemas destes e ver a minha personagem melhorar com cada coisa que equipa é sempre tentador. Tenho pena que o menu seja tão desnecessáriamente repartido e chato de navegar, mas não me posso queixar da quantidade de coisas que podemos apanhar e até o seu aspecto fenomenal.

Godfall foi feito a pensar num modelo de contínuidade como Destiny, por isso não podia faltar a oportunidade de recrutar outras pessoas para jogar connosco. Como seria de esperar, pelo menos na PS5, precisam de ter PS Plus para o fazer. O matchmaking do online é bastante simples, mas sofre um pouco com lag nas ligações. Não é raro ver os nossos colegas de equipa com quebras de fluídez nos seus avatares. Jogar online é divertido, mas faz com que o jogo seja muito mais fácil. Na maioria dos casos, os inimigos são vencidos com toda a gente a bater ao mesmo tempo o mais depressa possível.

Já que falamos em “quebras” e afins, há que dizer que tive diversos problemas com o jogo que vão de bugs onde as personagens ficam presas fora do cenário ou estruturas/paredes invisíveis onde ficava preso. O pior é quando isto acontece a meio de uma missão, o que nos obriga a reiniciar o cenário e perder todo o progresso. Outro ponto baixo é a forma como o modo de maior resolução se arrasta de tal forma que só vale a pena jogar Godfall em modo Performance com os seus 60fps.

Falta então falar do som e aqui sim é possível dizer que não existem grandes defeitos a apontar. As vozes dos actores são boas e só sofrem pela falta de experessividade natural das personagens. O som ambiente está muito bem feito e adaptado aos ambientes do jogo. Grande destaque também para a banda sonora que tem uma qualidade bem acima do que é normal neste género. O estilo é verdadeiramente épico e consegue dar alguma vida à repetitividade do jogo.

Infelizmente os gráficos mais bonitos e os efeitos de luz mais “perfeitos” não são tudo aquilo que um jogo precisa para ser um sucesso. Para além do visual bonito, Godfall é um jogo de acção bastante repetitivo, despido de inovação ou de carisma, o que é se revela ser mesmo uma oportunidade perdida. Como fã de RPG e de jogos com imenso loot, sentir que não estou a fazer nada de interessante ou recompensador é bastante estranho. Godfall é um jogo tão desprovido de carisma como as suas personagens vestidas com armaduras que não passam qualquer emoção. Aquilo que faz é ser exactamente o looter slasher que cumpre os requisitos mínimos, o que o coloca a literalmente a meio da tabela.

Vejam também um pouco de jogabilidade captada durante as nossas sessões de jogabilidade:

Positivo:

  • Visual impressionante
  • Muito loot para apanhar
  • Boa banda sonora
  • Direcção artística

Negativo:

  • Repetitivo
  • Pouca personalidade
  • Mundo parece artificial
  • Vários bugs e glitches graves

Daniel Silvestre
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