Análise – Elden Ring

Chegou finalmente a altura. Depois de várias semanas a jogar (e não jogar) Elden Ring, estou finalmente pronto para enfrentar este colosso e falar da minha experiência naquele que já é para muitos um dos melhores jogos feitos até hoje. Esta análise parte de um fã acérrimo do estilo Souls, com vitórias suadas em quase todos os jogos do género e até lutador corajoso na nossa série Bloodsouls. Um bom jogo de Souls é sempre bem vindo e acabaram por se transformar em alguns dos meus favoritos.

Elden Ring está mais próximo de Dark Souls do que qualquer outro jogo do estilo feito pela From Software, algo interessante tendo em conta que o último grande sucesso foi Sekiro, o qual fez um caminho diferente. Elden Ring é o que acontece quando se agarra em Dark Souls, juntamos um mundo aberto e aquilo que era o modelo clássico é espalhado por várias zonas do mapa.

Elden Ring é um jogo massivo. O primeiro vislumbre que temos do mapa dá a entender que existe mais do que parece à primeira vista, mas a aventura cresce a pontos que poucos estariam à espera. Aliás, a primeira área é grande o suficiente para ser quase um jogo por si, por isso é fácil que se possam “perder” a explorar o mapa, atraídos por coisas estranhas ou curiosas que acabam por observar no horizonte, com árvores gigantescas, castelos e colinas a perder de vista.

Elden Ring funciona em muitos espaços como dois jogos diferentes. Quando estamos em mundo aberto, funciona de uma forma mais atabalhoada do que quando entramos em alguma localização mais fechada. O mundo é muito mais feito para ser percorrido como uma distração e para ligar zonas em vez de precisar de ser dominado. Especialmente com o recurso ao fast travel, muitas das zonas são vistas uma vez e deixam de fazer parte do nosso percurso.

Para ajudar a atravessar o mundo temos a ajuda do Torrent, o nosso cavalo místico que além de correr bem depressa, ainda consegue dar saltos duplos e subir por correntes de ar. Combater no Torrent é um processo de habituação e com alguma prática, acaba por até se tornar vastamente forte contra certos inimigos que andam pelo mapa. Não são raras as vezes que desci do cavalo, apenas para ter uma luta mais “justa” contra os inimigos que não são assim tão justos contra nós. Alguns combates contra bosses (os vigilantes das árvores é um bom exemplo), são bem masi simples montados no nosso cavalo.

Espalhadas pelo mundo estão várias cavernas e catacumbas que servem como desafios alternativos. Estas zonas são divertidas de encontrar, mas nem sempre tão divertidas de realizar, isto porque acabam por parecer bastante iguais e ao fim de visitar umas quantas, até temos direito à repetição dos mesmos bosses. Não é tão similar como as Chalice Dungeons de Bloodborne, mas mostram a sua repetição muito depressa.

Onde Elden Ring está muito bem é quando nos faz entrar em zonas mais contidas ligadas à história ou a missões alternativas mais importantes. Estas são muito similares ao que encontram em Dark Souls, com corredores mais curtos, áreas mais fechadas e caminhos que fazem ligações a áreas já exploradas. Alguns destes locais, como é o caso do primeiro castelo, a capital ou até uma certa zona debaixo do solo que é das mais bonitas do jogo, são enormes e longos de explorar e juntando todos num só, é como ter quase dois Dark Souls pelo preço de um.

Embora existam vários bosses espalhados pelo mapa mundo, normalmente é nestas zonas mais fechadas que encontramos os verdadeiros bosses que precisam de ser derrotados. Há que dizer, Elden Ring tem alguns combates bem épicos e não é raro que um inimigo tenha duas fases onde fica ainda mais forte e agressivo. Pela primeira vez senti num jogo do género que fazer Level Up faz uma grande diferença, pois mesmo que consigam vencer um boss com engenho, muitos deles são claramente feitos para nos fazer a vida negra. Por isso mesmo é ideal explorar bem o mundo antes de avançar, pois assim surgem várias hipóteses de ganhar runas e habilidades que fazem toda a diferença.

Apesar de a melhoria da persongem estar no global ligada à evolução da personagem, Elden Ring foi o primeiro jogo que me levou a desistir de certas armas em favor de outras. Ao contrário de outros jogos Souls, existe aqui um certo incentivo a testar armas novas, equipar magias ou as novas Ashes of War que dão habilidades extra e melhorar as armas que temos. Estes sistemas em conjunto também fazem a diferença e até no meu caso, que nunca uso magia nestes jogos, aproveitei bem algumas Ashes of War e Summons que fui apanhando pelo caminho.

Já que andamos tanto em redor do combate, há que dizer com sinceridade que Elden Ring difere pouco da fórmula vencedora, havendo aqui um misto entre Dark Souls e algumas habilidades de Sekiro, com destaque para o botão para saltar e algum foco em counters, os quais já existiam, mas que agora podem ser executados de outras formas para dar mais vantagem a quem luta com armas e escudo.

Existe também uma maior variedade de inimigos e isso implica também uma maior possibilidade de fraquezas e resistências que encontramos. Alguns dos meus grandes inimigos continuam a ser os inimigos com magias e arcos que são irritantes como tudo e continuam a existir vários momentos de mortes inesperadas, conferidas pelos nossos amigos da From Software que nos gostam de ver morrer com coisas que não temos tempo para reagir. Existem emboscadas, pedras arremessadas do topo de colinas e coisas a ardar que nos atropelam. A aprendizagem continua a ser essêncial e só conhecendo o mundo é que a coisa vai lá.

Tal como os outros jogos da série, Elden Ring mantém o seu estilo de online directo e indirecto, com comunicação por mensagens que podem ser deixadas no chão ou através de ligação a outros jogadores para jogar cooperativamente ou competitivamente. A nível de coop, se não tiverem um grupo de amigos para jogar em equipa, estou à merce do sistema de emparelhamento que nem sempre funciona bem, ao contrário do sistema de PVP e invasões que costuma funcionar muito melhor. Aliás, consegui mais depressa chamar Phantoms para o meu jogo dentro de uma pool de sinais do que um jogador para Coop. Porém, quando funciona, temos vários momentos de acção épica onde normalmente limpamos um boss facilmente por ter um jogador mais forte ou perdemos em questão de segundos porque alguém é morto logo ao início.

Claro que tudo aquilo que se pode dizer sobre Elden Ring faria desta análise uma demanda épica para criar um manual para o jogo. Como isto é uma análise, cabe apenas dizer que este é daqueles jogos que pode durar 40 ou 50 horas ou mais de 100 para quem quer fazer tudo ou jogar o mordaz PVP. A parte boa é que o SSD funciona lindamente para ajudar a encurtar os tempos de loading após cada morte.

Apesar de imponente e verdadeiramente glorioso em atmosfera e direcção artística, Elden Ring não é do melhor que já se viu na nova geração. A versão de PS5 em que joguei corria bastante bem, mas não só existe um grande problema de pop-ups, como em muitos casos a imagem em distância parece esborratada. Aproximar a câmara de elementos dos cenários também mostra algumas texturas feias e coisas granuladas. É notório que o mundo aberto obrigou a criar alguns sacrificios que tiveram de ser compensados pelo todo. Por isso mesmo temos algumas paisagens deslumbrantes e um design de inimigos e estruturas de tirar o fôlego.

A sonoridade é muito forte em todos os aspectos, tendo um rol de músicas muito boas tanto para ambiente como para combate contra bosses. O mundo em si está recheado de sons que recriam muito bem os elementos de fantasia e soam tal e qual seria de esperar. Só é pena que zonas mais longas (o primeiro castelo é um exemplo disso), recorram constantemente à mesma música, o que pode ajudar a fartar. No que respeita às vozes, temos as já clássicas falas básicas ao estilo From Software que variam entre o muito bom e o estranho, embora nunca a tocar o desconfortável ou irritante.

Pois bem, estamos a chegar ao momento da verdade e tal como aconteceu ao jogar Elden Ring, também a minha posição em relação ao jogo foi flutuando à medida que escrevia esta análise. No geral, tapando os olhos a alguns problemas menores e questões técnicas, Elden Ring é verdadeiramente colossal e um jogo fantástico, no entanto existe aqui muita coisa que temos de olhar com olhos de ver e concluir que reutiliza vários elementos ao ponto de se tornar repetitivo, tem problemas visuais, não está verdadeiramente equilibrado, o online não funciona sempre bem em Coop e o mundo aberto é muitas vezes mais filler do que inovador.

Depois temos o factor diversão. Por muito que tenha tido momentos de frustração com outros Souls, mantive sempre a vontade de voltar e levar a aventura até ao fim, desse por onde desse. Em Elden Ring senti muitas vezes vontade de parar apenas por estar cansado ou já não me estar a divertir e isso é muito mau sinal, especialmente depois de analisar tantos jogos de qualidade este ano que não me largaram durante largas sessões onde me senti estar a ser recompensado e a ter uma experiência divertida. De qualquer forma, Elden Ring manteve sempre a chama acessa para voltar a ele, embora não tivesse a mesma vontade de o fazer como tive em anos anteriores.

A parte boa no final de contas, é que Elden Ring é o jogo mais completo, variado e acessível que a From Software já criou dentro deste género, por isso, caso queiram tentar a vossa sorte pela primeira vez, mesmo que desistam ao final de duas dezenas de horas, já compensou o vosso investimento. Se são fãs do género, já o jogaram e já o devem ter terminado e adorado. Eu também o adorei, mas não consigo deixar de olhar para ele e sentir que os mundos mais fechados acabam por favorecer muito mais este género.

Positivo:

  • Mundo aberto visualmente esmagador
  • Zonas principais mais fechadas com teor clássico
  • Versatilidade de armas e magias
  • Ashes of War e Summons são boas adições
  • PVP com muitas possibilidades

Negativo:

  • Mundo aberto com muito filler
  • Masmorras com áreas e bosses repetitivos
  • Problemas de colisão e pop-in
  • Consegue ser opressivo a ponto de cansar
  • Coop nem sempre funciona

Daniel Silvestre
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