Antes de entrar na equipa do PróximoNível, eu já tinha alguma prática em escrever análises de jogos. No entanto, o mesmo não se aplica para filmes, algo em que não me considero o maior perito. Mas sei distinguir um bom filme de um mau, e não há melhor maneira de me estrear do que com um filme sobre um super-herói fascista.
Capitão Falcão é uma sátira à ditadura salazarista em Portugal durante a década de 60. Originalmente estava planeada uma série televisiva, chegando a ter um episódio piloto. Como não foi aprovada, decidiram mudar de formato e agora temos o filme do primeiro super-herói português.
Seguimos as aventuras de Capitão Falcão (Gonçalo Waddington) e do seu parceiro, Puto Perdiz (David Chan Cordeiro), na sua luta contra os inimigos da Nação, seguindo as ordens de António de Oliveira Salazar (José Pinto). Vão enfrentar todo o tipo de ameaças, desde comunistas, feministas, até aos temíveis Capitães de Abril.
Por muito bizarro que seja a ideia de um super-herói que defende o Estado Novo e as suas ideologias, o filme executa essa ideia de uma maneira infalível. Há quem veja isto apenas como uma propaganda ao fascismo e ao salazarismo, e de facto é mesmo, mas tudo isso faz parte da premissa do filme, o que o torna em algo único e nunca antes visto no cinema português.
O filme é fortemente inspirado nas séries televisivas de super-heróis dos anos 60, como Batman e Green Hornet, portanto podem contar com transições de cenas, planos de fundo para simular movimento enquanto estão num veículo, e um visual muito marcante. Ao contrário desses super-heróis, o Capitão Falcão consegue ser uma pessoa incrivelmente desprezível, mas não deixa de ter o seu charme, principalmente quando desata a berrar e a dizer coisas que irei citar por uns longos tempos.
Tudo isso deve-se ao argumento e à excelente interpretação do actor que proporcionam momentos hilariantes a todo o tempo. O filme está cheio de exageros e de piadas politicamente incorrectas, onde a maior vítima é certamente o comunismo, o que até faz todo o sentido tendo em conta o contexto histórico. Uma coisa é certa: se fosse comunista, eu não aceitaria um bolo de arroz durante um interrogatório tão cedo.
O resto do elenco também faz um óptimo trabalho a interpretar os seus papéis. O Puto Perdiz passa o tempo todo calado mas comunica através das suas expressões, olhar, e principalmente, quando está a lutar, e o Salazar quase convenceu-me que não passa de um idoso amável e inocente.
Não podia deixar de mencionar as sequências de pancadaria presentes no filme. Graças ao grupo Mad Stunts, podem contar com momentos de luta elaborados que tornam tudo ainda mais intenso e divertido de se ver.
Ao contrário do “típico filme português” que ainda muita gente cataloga em tudo que é feito por cá, Capitão Falcão é uma lufada de ar fresco. Não só é um filme divertido, provocador e inovador, como também abre as portas para novos filmes de géneros diferentes no cinema português. Mas para isso, é preciso ser um sucesso, portanto cumpram o vosso dever cívico e ide ver o filme!
Positivo
Negativo
- Não é o filme ideal para comunistas
- Plot twist final previsível
- Esperar pela sequela
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