Análise – Cloud Atlas

Realizado e escrito por Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski, Cloud Atlas chega aos cinemas com a pressão de ser a aposta mais ambiciosa dos irmãos Wachowski desde o sucesso de Matrix. Na realidade Cloud Atlas é possivelmente um dos filmes mais inovadores dos últimos 20 anos no lote de Pulp Fiction, The Foutain, Memento ou Inception. Não se trata de uma revolução nos efeitos especiais ou técnica de realização, mas sim do sagrado e milenar modelo narrativo.

Uma história concebida para o cinema pode ser construída em três designs: Modelo Clássico, modelo mais comum, cujo protagonista percorre o caminho até à consagração (Star Wars, Harry Potter, Shrek, Condenados de Shawsnak); Modelo Minimalista, poderá somar vários protagonistas, mas a característica fundamental remete para uma evolução pessoal, o arco das personagens é interior e permite localizar a existência no mundo que rodeia, na prática há uma redução das características do modelo clássico (exemplo do 21 Gramas, Inadaptado ou o filme português Alice); Modelo Anti-Estrutura, que na teoria inverte o modelo clássico, desconstruindo a narrativa. Poderá ser uma sátira (Monty Python and the Holy Grail) ou simplesmente a ausência de lógica, por violação do espaço, do tempo e das personagens. (exemplos, A Laranja Mecânica, Gato Preto Gato Branco ou o francês Irreversível).

Agora, o que torna o filme Cloud Atlas tão arrojado? Numa preceptiva meramente académica, são os três estilos presentes na mesma história. Reúne o estilo clássico, há uma história que é transversal a todas as multi-histórias que estão a ser narradas, que permite ao espectador entender o caminho da narrativa sem isolar as multi-histórias. É um filme minimalista e anti-estrutura porque as personagens evoluem interiormente e as decisões afectam outras personagens fora do tempo e espaço.

Cloud Atlas é uma iniciativa bastante ambiciosa e arriscada, a margem de insucesso é elevada, nomeadamente pela ausência de filmes construídos nesta linha, na prática o resultado poderia ser um filme inteligível, quer pelo facto do público não estar familiarizado com este método de narrar uma história, quer pelo facto dos autores estarem a apresentar um modelo que pode nem sequer encaixar na Sétima Arte.

Durante o filme fica por vezes a sensação que Tykwer e os irmãos Wachowski consideram-se o suprassumo do cinema moderno e sentem-se no direito de despejar qualquer coisa, porque se o público não atingir a mensagem é porque não é suficientemente eloquente… mas por outro lado há a certeza que estão a dar o melhor para que tudo funcione.

O grande trunfo de Cloud Atlas enquanto obra cinematográfica trata-se da simplicidade com que dominam a premissa. Na teoria a premissa é o elemento que deve estar sempre numa história, aquela pergunta que nos permite perceber de imediato se o filme é bom ou mau, que é: de que se trata o filme? Cloud Atlas tem sempre a premissa presente: connecção. Existe conecção nas histórias, na relação entre personagens fora do tempo e espaço, nos saltos entre as mullti-histórias, na edição de som, na edição de imagem. Tudo está conectado, inclusive nos temas lançados no filme, como amor, revolução, música, amizade, ganância, física e poder.

Cloud Atlas é um filme único, seria impossível explicar, é impossível distinguir quando começa ou como acaba, e quem não perceber a intenção do filme não deve sentir-se embaraçado, porque se falhou a passagem de alguma informação ou mensagem a responsabilidade é dos autores do filme e eventualmente cada espectador poderá ter uma experiencia individual do filme.

No elenco podemos encontrar actoes de elite: Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Susan Sarandon e Hugh Grant, que desempenham várias personagens com um notável o trabalho de maquilhagem, preparam-se para surpresas nos créditos. Visualmente Cloud Atlas é muito bom, com sucessivas alterações entre histórias na time-line, mas cujo cenário é completamente diferente, ora podemos estar num barco á vela, como imediatamente a seguir as personagens estão a fugir numa mota anti-gravidade numa cidade futurista. A banda sonora é coerente, e o leque dos efeitos sonoros adequam-se sempre ao que está a acontecer.

Cloud Atlas não é um filme recomendado, seguramente haverá espectadores que não vão gostar, provavelmente outros não irão entender a mensagem ora por problematizarem demais ora porque não vão interpretar a intenção dos autores como pretensiosa e desrespeitosa. Cloud Atlas não é bom nem mau, precisa de ser avaliado por si. É impossível comparar com outros filmes, porém no futuro, filmes serão comparados a Cloud Atlas.

Pontos Positivos

  • Elenco
  • Criatividade
  • Inovação
  • Originalidade
  • Maquilhagem
  • Direcção de Actores

Negativo

  • Nem todas as multi-histórias são relevantes
  • Personagens pouco desenvolvidas
  • Plot inconsistente.

 

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