Desde o anúncio, no último Nintendo Direct, acerca do casting de vozes para o filme de Super Mario Bros., que a internet foi tomada de assalto por uma onda de memes e das mais variadas reações. Este filme de animação estava em pré-produção há um bom par de anos, e mesmo nas sombras, sempre foi alvo dos olhares mais atentos dos fãs e curiosos, que aguardavam ansiosamente, pela mais pequena novidade. E assim foi na passada semana.
Há vários pontos interessantes de se observar nesta conjuntura. Primeiro, o estúdio por detrás de Super Mario Bros 2022 (vamos chamar-lhe assim doravante, visto não haver um subtítulo oficial) é a infame Illumination, também conhecida por ser o estúdio que produz longa-metragens de animação estupidamente fracas (dar ênfase nesta palavra), mas que faturam na casa dos milhões de dólares.
Ora, lembrando do princípio básico que o consumidor vota com a sua carteira e sendo os filmes um sucesso estrondoso de bilheteira, por um horizonte de tempo consecutivo, é sinal que as pessoas, na teoria, querem este tipo de produto. Assim, a Illumination, na ótica de mercado, não tem porque mudar, pois o raciocínio ao longo desta última década, parece ter sido o de ‘não mexer muito numa fórmula vencedora‘.
Seguindo o mesmo padrão de casos, e embora Shigeru Miyamoto esteja envolvido no processo criativo, nada aponta que tal situação vá mudar daqui em diante. Por outro lado, verdade seja dita, muito dificilmente, será um resultado pior que “”adaptação”” live-action de 1993, pois para uma personagem tão icónica que é Super Mario, é mais do que justo que seja estregue um resultado, minimamente, bom.
Claro, até ao momento temos apenas informações muito ténues. Mas logo à partida terem chamado atores famosos para dar vozes às personagens, é outro sinal, do possível naufrágio que se avizinha. Esta prática não é novidade na indústria. É preciso recuar a 1992, quando Robin Williams foi escolhido para o papel de Genie, cuja decisão despoletou toda uma tendência no meio, que viria a dar frutos não tão bons, como em Shark Tale (2004).
Se bem que é ela por ela. Fazendo-me agora de advogado do diabo, há bons exemplos, como Matthew Broderick (Simba) em The Lion King (1994); Tom Hanks (Woody) em Toy Story (1995) ou da magnífica contribuição de Mark Hamill (Joker) em Batman: The Animated Series.
Mesmo assim, no geral, é uma prática que na indústria de animação é vista com maus olhos. Pois quando acontece (possivelmente) é porque a equipa de produção quer compensar por outro lado de menor qualidade e/ou chamar atenção do público pelas figuras envolvidas, ao invés de realmente promover o filme por aquilo que ele realmente é.
Chega a ser mais uma jogada de puro marketing do que outra coisa qualquer. Mas convém relembrar de que se trata de Super Mario, à partida a personagem mais conhecida, mundialmente, da indústria dos videojogos. Por isso, chamar as tais caras conhecidas do meio norte americano, não parece tão justificável quanto isso.
Vamos então aos atores escolhidos. Primeiro temos o “he’s so cool” Chris Pratt que tem invadido todo o tipo de produções americanas de grande orçamento nos últimos tempos (Guardians Of The Galaxy; Jurassic World). A sua escolha como Mario, poderá ser um forte indicador de algo: O tom cómico do filme.
Pratt é conhecido pelo seu sentido de humor. É raro vê-lo em papéis mais sérios, pois geralmente, é o alívio cómico onde se encontra, ou o herói atrapalhado. Portanto isso pode ser um grande indício (e claro também por se tratar de um filme juvenil) que irá haver aqui muito espaço para piadas.
A seguir temos Anya Taylor-Joy. Confesso que não fiquei incomodado com esta escolha, tenho fortes motivos para acreditar que conseguirá entregar uma Peach fiel. Possivelmente a sua escolha deve-se ao facto de estar em ascensão contínua atualmente, desde a sua aparição em Glass (2016) que foi consolidada em The Queen’s Gambit (2020).
Temos Charlie Day como Luigi. Mais uma vez vem reforçar o meu argumentar que vai ser mesmo uma obra a puxar pro lado juvenil da coisa, sendo este outro ator conhecido pelas suas participações em dezenas de comédias. E como à partida irá fazer de co-protagonismo com Pratt, bate tudo certo, com a minha teoria, para termos uma dose reforçada de humor, a dobrar, no filme.
Bowser está nas mãos, ou melhor voz, de Jack Black. Bem, fiquei realmente surpreendido com esta escolha. De início gostei. Mas com o tempo, há medida que a revelação do cast foi assentando em mim, esta tornou-se a escolha que mais me deixa com o pé atrás. Bowser nunca foi conhecido por ser um vilão que se levasse muito a sério, nem sequer que os outros o levassem como tal, mas é estranho, imaginar a voz desta personagem, com a marca de Jack Black.
Depois temos Seth Rogen… Sim, Seth Rogen. O Seth Rogen como Donkey Kong. Quem diria, parece de longe outra escolha bastante aleatória, e completamente surreal, no meio de tantas outras escolhas já questionáveis. Ainda temos a participação, acredito eu mais pequena face aos anteriores, de Keegan-Michael Key como Toad; Sebastian Maniscalco como Spike; Fred Armisen enquanto Cranky Kong.
A cereja no topo do bolo é invocarem o nome de Charles Martinet no final, e não o colocarem, como era esperado, como voz de algumas destas personagens principais (no mínimo Mario). É tirar o papel de uma vida, a uma pessoa. Uma com bastante talento para dar e vender, que o provou década após década, mas não, preferiram optar pela lógica economicista.
Proveniente do típico grupo de executivos, que apenas se move pelo dinheiro que o nome de celebridades famosas num poster de um filme de animação pode faturar na bilheteira. Claro, evidentemente não é algo que me surpreenda também, são estas as cartas com que a indústria joga há muito tempo, sendo neste caso em concreto, uma atitude bastante lamentável.
Por outro lado, fazendo-me, novamente, de advogado do diabo, é preciso levar em consideração que é suposto ser um filme, com o público mais pequeno em mente. Logo fazer-se um filme com as mesmas falas ou as típicas frases soltas de efeito de Mario (como acontece nos jogos) não iria captar o público, nem tão pouco daria para construir um diálogo deviamente articulado e congruente com as possibilidades de uma história com interações entre múltiplas personagens.
Portanto a minha posição, neste aspeto, não é tanto em ser contra a presença de falas por parte das personagens e grandes diálogos, pois é algo inevitável, mas sim contra a escolha dos atores que foram selecionados para tal efeito. Assim de cabeça, em termos de casos bem sucedidos, lembro-me de Wall-E (2008) que é um filme com pouquíssimos diálogos, mas que conseguiu agradar o público mais novo, mas aí, é a Pixar que estamos a falar, é um caso à parte. Dificilmente, a Illumination seria capaz de replicar tamanho feito com as personagens do universo de Super Mario…
Seja como for, no final das contas há que acreditar nesta colaboração entre Nintendo e Illumination. Durante todos estes anos, a Nintendo sempre foi bastante protecionista com os direitos de utilização das suas personagens, ainda para mais por parte de terceiros. Há que acreditar que a produção está em boas mãos, por muito que as recentes novidades levantem mais dúvidas e incertezas, do que respostas e confiança.