Shin Megami Tensei Nocturne é uma preciosa memória de tempos que não voltam

Durante muitos anos, os RPG eram claramente o maior destaque e oferta que podiam encontrar na maioria das plataformas. Em especial, durante vários anos, muito mais em consola, os JRPG eram uma referência incontornável.

Apesar de ter sido convertido no seu próprio estilo, os RPG por turnos ao estilo japonês foram criados com base em limitações de hardware, mas a sua implementação e evolução criou o seu próprio género distinto e vincado. Por isso mesmo tivemos várias gerações onde estes eram alguns dos grandes reis e senhores.

Apesar de tudo parecer estar a correr bem, os JRPG passaram por uma crise que surgiu praticamente do nada entre o final da era das 128 Bits e a seguinte que nos trouxe a PS3 e Xbox 360. Jogos como Call of Duty passaram a ser a grande moda e o estilo ocidental ficou ainda mais vincado nos gostos de muitos jogadores que estavam agora a começar a jogar.

De um momento para o outro as produtoras de videojogos passaram a acreditar que o mercado já não queria saber de RPGs à moda antiga e que o estilo japonês estava morto. Como? A verdade é que ninguém sabe, nem nós, nem mesmo as pessoas que tomaram estas decisões.

Por isso mesmo, a era das 128 bits foi o crepusculo dourado de uma era que fez uma viragem em conceitos já construídos. Foi a última estação para alguns dos melhores JRPG que foram lançados e onde o género estava a explorar novos horizontes.

Agora que a Atlus resolveu trazer de volta Shin Megami Tensei Nocturne (Shin Megami Tensei Lucifer’s Call), é interessante olhar para trás e perceber o quão importante e ao mesmo tempo desconcertante este jogo consegue ser no panorama geral dos videojogos. Para isso não precisamos sequer de ir muito longe, bastando quase olhar para a superfície.

Estamos a falar de uma geração onde temos JRPG como Final Fantasy X, Dragon Quest VIII, Persona 3, Persona 4, Shadow Hearts Covenant, entre muitos outros, mas Shin Megami Tensei 3 Nocturne é o expoente máximo do quão incomodativo o género estaria a ficar para certas “mentes brilhantes” da indústria que estavam à espera de ter muito dinheiro e o mais rapidamente possível.

Um jogo como Shin Megami Tensei 3 Nocturne é exactamente o oposto do que a indústria queria. Este é um jogo negro, lento, calculado, dificíl e mais virado para um nicho de mercado. É uma aposta de grande gabarito, um Triple AAA daquilo que todos temiam. Jogos como Shin Megami Tensei 3 Nocturne e similares não podiam ganhar espaço no mercado, afinal, não são para todos os jogadores e não são o dinheiro rápido.

Com a mudança de geração, surge a PS3 e Xbox 360 com os seus jogos castanhos e cinzentos cheios de tiros e guerra. Do outro lado temos a Nintendo com a Wii e todos os seus jogos feitos a pensar no consumidor casual. Não existe aqui espaço nem tempo para nichos e conceitos que necessitam de ser pensados. Não há tempo para histórias, “o futuro é online” e o “singleplayer está morto”. Frases tão erradas como o conceito de que os jogadores já não queriam saber de JRPG.

Por isso mesmo, Shin Megami Tensei 3 Nocturne é uma relíquia de tempos que nunca mais vão voltar. Era um jogo incómodo para uma indústria que queria que jogos como ele e os seus “amigos” fossem esquecidos e enterrados. Uma ameaça não declarada a uma mudança que se queria silênciosa e quase invisível.

É por esse mesmo motivo que o regresso de Shin Megami Tensei 3 Nocturne na versão versão Remaster é um dos jogos que mais quero jogar este ano. O simples facto de haver espaço para que este jogo regresse é sinal de que algumas coisas são “imortais” por mais que tentem dizer que já estão às portas da morte.

Jogos como Shin Megami Tensei 3 Nocturne ainda devem incomodar muita gente, assim como todos os outros JRPG que estão constantemente a ser lançados e nos trazem campanhas de dezenas de horas sem ser preciso estar ligado constamente à net e interagir com outras pessoas. Afinal, se não é um live service ou não tem season pass, então mais vale nem existir.

Shin Megami Tensei 3 Nocture HD Remaster vai ser lançado na Nintendo Switch, PC e PS4 a 25 de Maio.

Daniel Silvestre
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