Foi em Maio do ano passado que a Sega anunciou aquele que veio a ser Sonic Frontiers. Um personagem que já passou a faixa dos 30 anos e conquistou várias gerações diferentes de fãs pelo caminho. Na reta inicial de 2020 alcançou um novo patamar, a meu ver o mais importante desde a sua estreia em 1991. Uma vez que transitou do rótulo de personagem do mundo dos videojogos para alcançar o estatuto de pertença no universo gigantesco da cultura pop.
Pode-se até levantar a questão que desde há muito que já faz parte, seja através de séries animadas, memes pela internet ou referências em outras obras, mas a realidade é que estes dois filmes (particularmente o primeiro) serviram de carimbo definitivo para quem colocava isso causa. Consequentemente as duas longas metragens contribuíram assim de porta de entrada, para os novos fãs que ali surgiram.
Novos públicos, provenientes do cinema, são também potenciais consumidores no que toca aos jogos, daí que a Sega teve de fazer um esforço acrescido. Pois para muitos Sonic Frontiers significará a sua primeira experiência a jogar na pele do ouriço azul. Qual melhor oportunidade do que esta para uma franquia se reinventar? Daí que a escolha original da exploração em mundo aberto tenha assentado bem, uma ideia que no papel poucos se iriam opor. Embora na prática a conversa seja outra…
Independentemente do que se tem dito desde que a IGN internacional revelou em primeira mão a jogabilidade (e consequentes clips que têm saído desde então), a minha opinião quanto a Sonic Frontiers mudou drasticamente. Segundo informações que circularam aquando da disponibilização de uma demo, aberta ao público, para experimentar na Gamescon, que a versão que vimos de há três meses é visivelmente diferente da que se viu nesse evento e no mais recente trailer divulgado.
Talvez não seja o jogo ideal para os fãs hardcore, aqueles apegados à era clássica (que voltarei a eles mais adiante), muito menos aos que querem ‘mais do mesmo’, mas também não aparenta ser esse o público a quem a Sega quer alcançar primeiramente. São os fãs recém chegados, o público casual (serão sempre maiores em número) e os curiosos que passaram a conhecer, realmente, Sonic há bem pouco tempo. Dito isto, não significa que o jogo não vá beber um pouco ao seu passado, porque vai, remetendo ao senso de aventura e com uma narrativa composta, presente nos jogos de Sonic Adventure.
Já os níveis do Cyberspace também têm sido outro ponto de controvérsia, somando-se a recém descoberta que uma mão cheia dos níveis da tal demo evidenciam uma reciclagem quanto ao level design de outros jogos. Pessoalmente não me incomoda assim tanto esta decisão. Acredito que se caso nem tivesse ouvido tal coisa, nunca repararia nas parecenças, mesmo tendo jogado várias vezes o Sonic Unleashed e outros visados na demo. São níveis demasiado curtos, quase tanto como alguns do Sonic Colors. No fundo experiências bite-size servindo somente de meio para um fim enquanto progressão entre e para os mapas exploráveis, estendendo o número de horas de jogo.
Pegando até novamente na lógica de que a Sega quer um jogo para apelar e puxar novos jogadores, claramente não serão eles a notar isto. Colocando estes pontos de lado é importante reforçar que estilos e experiências diferentes estão e sempre estiveram no ADN da franquia. O velocista mais rápido dos jogos nunca foi de ter um único gameplay homogéneo por muito tempo. Basta só lembrar na quantidade de spin-offs e versões alternativas entre consolas que saíram nos últimos dez anos. O que me leva agora ao papel importante que Sonic Frontiers tem efetivamente nas suas mãos.
Como mencionei acima os fãs que cresceram com o personagem na primeira metade dos anos 90s são aqueles a quem a Sega tem feito de tudo para agradar. Por cada Sonic Colors há um Sonic 4 Episode 1, por cada Sonic Forces há Sonic Mania, entre outros casos. É como se por cada vez que a empresa quisesse inovar dando um passo em frente, tivesse de dar dois para trás, quase como uma constante necessidade de apaparicar e relembrar os fãs de que o estilo 2D que se achava engavetado, afinal está vivo e de boa saúde.
Qualidade dos jogos mencionados à parte, há também o fator celebração que é bem-vindo claro. Mas já não se tinha o Generations antes do Mania? Ainda há pouco tempo saiu Sonic Origins, o que vai de encontro àquilo que referi no parágrafo anterior. Este impasse de avançar em frente tendo sempre de olhar para trás, foi o que originou (entre outras coisas que já mencionei) a aversão à mudança que este novo título e outros sofreram.
Tanto quanto sei Sonic Frontiers pode mesmo vir a ser uma má aposta sendo lançado muito aquém de um “bom jogo” (ficando esta definição ao critério pessoal de cada um), mas o crucial daquilo que quero transmitir a partir deste artigo de opinião, é que não se deveria criticar a Sega por tentar mudar e inovar, mesmo com o risco associado de falhar em grande, a pairar antes do seu lançamento.
Mais, o facto de ter o peso acrescido de ser o primeiro contacto, a primeira impressão que inúmeros consumidores, vindouros de outras áreas ou géneros de jogos totalmente diferenciados, irão ter com o mesmo. A própria Sega, acredito eu, tem noção disso. Pois quer se goste ou não desta renovação da franquia, o essencial é que Sonic Frontiers será o começo de uma nova era à vista, para todos aqueles que são fãs daquilo que foi, é e vai ser a personagem nos anos que se avizinham.
Sonic Frontiers tem data de estreia marcada para 8 de Novembro deste ano para todas as plataformas.