E3 2018 – Opinião das conferências

Após uma semana de novidades, conferências e livestreams, a E3 2018 chegou finalmente ao fim e agora é altura de avaliar o que foi mostrado e decidir o que vos deixou mais entusiasmados. Vamos falar um pouco sobre as conferências e a prestação das mesmas durante este E3, muitas decidiram mudar a maneira em como apresentam os jogos, algumas para melhor e outras para pior. O foco não vai ser qual a melhor em termos de conteúdo/jogos apresentado mas sim pela maneira em como decidiram entregar esse conteúdo até nós.

 

EA

A EA continua a dedicar demasiado tempo e dinheiro nas secções de desporto que tornam-se chatas devido a durarem mais que as outras novidades. Ninguém quer realmente saber sobre novidades de FIFA, Madden ou outros jogos de desporto nestas conferências, basta um anúncio acompanhado por um trailer que o resto da informação pode ser oferecida mais tarde. Isto é o que todas companhias fazem nos restantes dias da E3 e algo que a EA também o faz, por isso não há necessidade de trazer mais do que duas pessoas e ter convidados especiais (ou apenas taças) na conferência pois ninguém quer realmente ouvir pessoas a falar mas sim ver a coisa em acção. O exemplo de NBA 19 é o melhor que posso dar, foi o único jogo de desporto o qual apenas apresentaram um trailer e tenho a dizer que fiquei bastante curioso apenas com esse trailer, enquanto que os outros jogos de desporto tiveram pessoas a conversar no palco e isso tirou-me o interesse todo que podia ter nesses jogos.

Este ano obviamente metade da conversa foi focada em Loot Boxes, Season Pass e semelhantes, uma prática que a EA tem adaptado à maioria dos seus jogos e que deixou os fãs desagradados. É óbvio que a companhia tem que abordar tal tema para garantir que os seus fãs não ignorem os seus lançamentos, mas é algo que apenas o tempo dirá se a companhia realmente aprendeu ou não. Tenho a dizer que Anthem continua a receber o mesmo tratamento de Mass Effect Andromeda, muito está a ser prometido mas pouco está a ser mostrado ao público, e aquilo que vi não me deixa minimamente interessado ou expectante de que será um bom jogo. Neste caso a culpa tanto poderá ser da Bioware como da EA mas é certo que é necessário apresentarem algo mais em futuras conferências.

Por outro lado o que foi feito com Command and Conquer: Rivals poderá não ter sido o melhor. Exibir jogos mobile ou VR no palco nunca é a melhor ideia pois o espectador tem sempre que ver a pessoa em questão a mover-se com o capacete VR na cabeça ou ver os seus dedos a tocar no ecrã, enquanto que com uma consola a pessoa que está a jogar raramente aparece na câmara. Jogos mobile nunca são empolgantes de ver e o público sabe que a maioria irá contar com algum tipo de microtransação ou sistema que irá impedir o jogador de progredir enquanto não tem energia. Mesmo que o jogo seja bom, este é o tipo de jogo que não deve ser apresentado em demasia durante as conferências.

 

Microsoft

Este ano a Microsoft decidiu adaptar o formato da Sony e apresentar trailer atrás de trailer. É um formato que funciona pois vai direito ao assunto, com algumas pausas pelo meio para entrar em mais detalhe sobre um ou dois jogos. No entanto tenho que reclamar com algo que a Microsoft voltou a fazer este ano, a insistência em categorizar tudo como “Exclusive” ou “World Premiere“. O motivo pela qual estão a fazer isto é óbvio, a falta de exclusivos dói e então necessitam de uma maneira para fazer os seus jogos destacar, repetindo vezes sem conta que são os primeiros a meter as mãos em jogos ou trailers.

A Microsoft apenas está a tentar fazer crescer o seu ego com esta tática, os fãs não querem realmente saber se vão ver o trailer pela primeira vez na conferência da Microsoft, eles querem ver o trailer, ponto. Não adianta de muito ganhar exclusividade em trailers se a companhia não tem exclusividade em jogos, mas parece que isso vai mudar, uma vez que a mesma anunciou que acabou por comprar 4 estúdios populares e a criação de um novo, tudo com o objectivo de produzir jogos (embora não tenha sido especificado se estes serão exclusivos ou não).

Esta conferência pode ter sido um ponto de viragem para a Microsoft, a mesma decidiu começar a apostar no mercado e demonstrou isso durante a sua apresentação. Por isso espero que no ano que venha que a Microsoft tenha resultados para mostrar baseado nos seus investimentos, e que pelo menos deixem de usar “Exclusive” e “World Premiere“, porque pelo menos por essa altura já deverão estar confiantes o suficiente com os seus jogos para não terem a necessidade de usar isso.

 

Bethesda

Quando a Bethesda anunciou que iria ter a sua primeira conferência da E3 ninguém sabia como reagir, mas a produtora mostrou estar à altura e desde então tem continuado com as suas apresentações da E3, de vez em quando experimentando algo novo pelo meio. Infelizmente os convidados especiais não tiveram o público da Ubisoft que já está habituado a este tipo de concertos inéditos e convidados bastante especiais, se pelo menos a mulher entusiasmada do ano passado estivesse novamente presente…

Este ano a Bethesda decidiu dedicar-se ainda mais aos videojogos, apresentando várias sequelas, conteúdo adicional e novos jogos para os fãs. É claro que pelo meio uma nova versão de Skyrim tinha de ser anunciado (acreditem que é real), mas pelo menos demonstra que a companhia está ciente do que tem feito no passado e está pronta para entregar o que os fãs esperam. Infelizmente não ouvi nada sobre novos motores de jogo ou semelhantes, e alguns dos novos jogos anunciados muito provavelmente ainda nem chegaram à fase de desenvolvimento, o que apenas deixa imensos preocupados com o tempo de espera e o resultado final.

A conferência da Bethesda foi uma das que melhor balanço teve. Oferecendo momentos “maus”, bons trailers, grandes anúncios, Todd Howard e a dedicação de alguns minutos para explicar alguns dos seus novos jogos. Enquanto houver jogos interessantes para revelar, o formato que Bethesda tem funciona bastante bem.

 

Square Enix/Sony/Nintendo

Por alguma razão a maioria das companhias decidiu mudar a maneira como apresentava as conferências neste ano, e a Square Enix provavelmente teve uma das piores ideias, digo provavelmente porque também não tinham muito “novo” para revelar. A maioria dos jogos já tinha sido anunciado anteriormente e devido a isso a Square Enix não tinha grandes razões para fazer uma conferência como normalmente faz, muito provavelmente porque já aprendeu que não deve anunciar jogos muito antes do seu tempo.

Defendo que se uma companhia não tem nada para apresentar então que devia ficar de fora do evento, e acho que a Square Enix podia ter feito isso este ano. Não houve grandes novidades e as poucas surpresas bem que podiam ter sido feitas fora da E3 porque acabam por ser enterradas por coisas mais importantes para os fãs. Acredito que possa haver algo mais para mostrar (para além de três trailers sobre Kingdom Hearts III), mas a Square Enix deve estar a guardar esses trailers para as próximas conferências deste ano, maioritariamente a Tokyo Game Show.

Curiosamente fez-me lembrar as Nintendo Direct que costumam ter formato, e tal como a Square Enix, este ano a Nintendo não teve muito para revelar em termos de apresentação, focando-se mais numa das sua novidades. Não digo que tenha sido a melhor jogada pois o showcase trailer tinha alguns jogos interessantes que não foram tocados e a Nintendo podia ter abordado esses jogos (alguns deles exclusivos) um pouco já que não tinham muitos first party para revelar. O que foi feito com o novo Smash é o que costuma ser feito na Nintendo Treehouse e isso reforça ainda mais a ideia de que a Nintendo não devia de ter dedicado tanto tempo a um só jogo com tantos outros a chamar por atenção.

E tal como haviam anunciado anteriormente, a Sony fez algo semelhante este ano, focando-se mais em certos jogos e dedicando uns trailers a outros. É verdade que da maioria dos jogos que já haviam sido anunciados ainda não havia novidades sobre jogabilidade, mas o formato desta conferência não foi mesmo o melhor. Secções de jogabilidade em conferências não é algo novo, e a Sony já o fez no passado, e por isso ainda é complicado entender o motivo de terem mudado o formato este ano, a minha única ideia será devido ao facto de a Microsoft provavelmente ter obtido a maioria dos trailers que as companhias estariam interessadas em mostras.

Diria que talvez o pior nesta conferência da Sony é de as secções de jogabilidade para além de Spider-Man não terem muito o ar de serem verdadeiras. Death Stranding não teve jogabildiade para além das cenas onde Norman Reedus estava a caminhar, e essas não tinham um bom aspecto. Ghost of Tsushima parecia demasiado bonito e cheio de detalhe para um jogo open world. The Last of Us teve vários momentos que não cabiam bem em cenas de jogabilidade devido à forma como as personagens estavam a mover-se, e por aí fora com outras coisas que tenham sido mostradas. Isto é algo que a Sony não costuma fazer mas devem estar a sentir uma certa pressão pelo facto de os fãs exigirem jogabilidade de Death Stranding que os levou a criar este tipo de conferência para mostrarem algo, mas tal como a regra diz, se tem um aspecto demasiado bom então é porque não é.

 

Ubisoft

A Ubisoft tem vindo a aprender ao pouco como fazer as suas conferências e a abertura deste ano reflecte isso. Existe uma cena com dança? Então certamente um novo Just Dance está a ser anunciado, nem seria necessário os bailarinos pois já estamos à espera do anúncio uma vez que é uma série anual, mas a Ubisoft gosta de fazer uma festa por de volta do jogo e foi direita ao assunto com a cena introdutória enquanto que o jogo estava no ecrã. Quem vê as conferências da Ubisoft já sabia o que estava a acontecer a partir do momento em que o panda foi mostrado, e aprecio o facto de não terem dedicado tempo a falarem sobre o jogo ou até dizerem que iria haver um novo, os espectadores percebem e os fãs já sabem o que vão ter com o novo jogo.

Algo que a Ubisoft continua fazer mal, mas que muitos continuam a ver devido a isso, são os famosos trailers que recebem o nome de “gamer talk” por parte do público. Duvido que a Ubisoft não conheça a forma mais natural em como as pessoas comunicam enquanto jogam, e não me estou a referir a pessoas a gritar, asneiras ou até microfones a funcionar mal, nem todas as experiências online são assim. Digo que a maneira como os actores falam nestes trailers acaba por ser um pouco verdade pelo menos na maneira como planeiam o que fazer, mas a jogar na realidade existe sempre algo que corre mal ou pessoal a falar sobre outras coisas. Por outro lado, este pessoal foi pago para agir de uma forma e então esses actores estão a fazer o seu trabalho, a culpa é mesmo do script.

Será que a Ubisoft deve mudar a forma como estes trailers são feitos? Pelo menos deviam mudar um pouco a conversa, pois o objectivo destes trailers é mostrar como os jogos tem a cooperação em foco, e de certa forma esse aspecto acaba por ser o tema de conversa por parte dos jogadores. Existe sempre várias formas de anunciar um jogo e a Ubisoft este ano decidiu apostar em umas quantas, a habitual cena de dança, o anúncio do novo Trials ou do DLC para Mario + Rabbids. Desde que não tome demasiado tempo e que o público esteja entretido, uma conferência pode ter o que bem lhe apetecer.

 

Limited Run Games/PC Gaming Show/Devolver Digital

As pequenas conferências que muitos costumam não ligar muito. Admito que não vi a Limited Run Games muito porque o foco principal do mesmo era vários anúncios de formatos físicos de alguns jogos digitais, mas apesar de não ter interesse em ver a conferência apoio o facto de estarem a dar amor a jogos que eram exclusivos digitais. Mas aí fica o problema, o pessoal não sabe quais jogos vão receber este tratamento e então quem é a audiência que a companhia quer chamar à atenção com as suas conferências? Serão todos os jogadores que esperam ter o seu jogo favorito em formato físico ou será que teremos de ver os jogos anunciados este ano para ter uma ideia do publico alvo? É necessário um pouco mais de comunicação para chamar à atenção do público alvo, mas pelo menos se para o ano for anunciado que a Limited Run Games vai regressar isso apenas quer dizer uma coisa, mais jogos físicos. E o pessoal irá estar atento a isso.

Falando em público alvo, a PC Gaming Show é um que não é para mim. Dei uma oportunidade no primeiro e até que gostei do formato de talk show que foi apresentado, mas como não estou virado para pc gaming não tenho mesmo nada a dizer sobre as secções em que estão a destacar novas componentes para computador, não tendo interesse nem vontade em dar o meu tempo à conferência em si. No entanto tenho de destacar o momento em que foi anunciado que Yakuza 0 e Yakuza: Kiwami iriam chegar até ao PC, bem suspeitava que o mesmo iria acontecer este ano e fico mais do que contente ao ver que esta série irá chegar até mais pessoas, pois todos realmente devem de experimentar pelo menos um dos jogos de Yakuza. Não me importo que a Sony tenha perdido um exclusivo porque isto demonstra o quanto a série Yakuza cresceu no Ocidente desde a altura em que os primeiros jogos foram lançados por cá e de os fãs terem pedido vezes sem conta para a Sega trazer as restante entradas da série, sem nunca desistirem.

Quando a Devolver Digital apresentou a sua primeira “conferência” ninguém sabia o que esperar e muitas pessoas não estavam interessadas, muito especial pelos temas que já falei sobre a Limited Run Games e PC Gaming Show. Mas após os fãs e curiosos decidirem espreitar sobre o que se tratava, as apresentações da E3 da Devolver Digital tornaram-se nas mais populares ao ponto de agora terem uma história que termina em cliffhangers e muito mais. No meio de conferências más, dias atarefados onde é necessário estar a par das mais recentes novidades e livestreams, porque não acolher algo que se separa de todas as outras? Como disse no meu comentário sobre a Ubisoft: “Desde que não tome demasiado tempo e que o público esteja entretido, uma conferência pode ter o que bem lhe apetecer.”.

Mathias Marques
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