Como fiquei fã da série The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel

Sim, mais um artigo sobre a série The Legend of Heroes! Especificamente falando do The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel que, por enquanto, foram esses que eu joguei. O Mathias Marques já escreveu um artigo bastante informativo sobre a série por si mesma, mas eu agora vou falar como alguém que não tem grande experiência no campo dos JRPGs em geral, entrou de paraquedas nesta série e logo no primeiro jogo ficou rendido e no segundo, ficou a salivar por mais.

Eu digo que não tenho grande experiência em JRPGs, porque não era fã do jogos com combates por turnos. Tinha jogado um ou outro e até tinha gostado bastante do Chrono Trigger apesar de dizer que os achava muito aborrecidos. Sei lá, era mais novo e menos sábio, porque realmente não tinha a mínima noção do que me estava a passar ao lado até o Daniel Silvestre ter entrado de carrinho e me chamado todos os nomes possíveis por ter esta mentalidade.

Estavamos a ter uma conversa sobre jogos, como normalmente temos, e ele mencionou que estava à espera do novo capítulo da sua série de JRPGs favorita, o The Legend of Heroes, Trails of Cold Steel IV. Eu tinha de me rir, porque isso é o nome mais JRPG que alguma vez JRPG-ou. Foi aí que eu disse que realmente não via o apelo em jogos desse estilo, porque não me encaixava os combates por turnos. Final Fantasy e Persona, achava que não eram jogos reais, porque toda a acção parava como os pnéus dum carro a guinchar em alcatrão assim que entravamos em combate. Como podem imaginar, os olhos do Daniel basicamente pegaram fogo ao olhar para mim, como uma mãe religiosa a ouvir o filho dizer que acha o Diabo um tipo mal compreendido. Nunca mais me largou sobre as minhas palavras e fez questão de me fazer engolir as mesmas.

Quase de imediato, ele listou uma data de jogos que eu tinha de experimentar e até me emprestou um pequeno jogo, talvez já tenham ouvido falar, chamado Persona 5. Eu só para o calar de uma vez por todas lá aceitei jogar, tinha em mente que o jogo seria rápido de acabar ou que iria desistir do a meio porque seria super aborrecido. Lá comecei Persona 5, com uma atitude hiper negativa que nada iria mudar a minha mentalidade e durante os inicios do jogo essa mentalidade permaneceu.

Continuei a jogar e a jogar até que aquilo começou a cativar-me. Mas a cativar como já não era cativado por algo há demasiado tempo. História ridiculamente bem escrita, personagens que se tornaram importantes para mim que me custava quando não conseguia passar tempo com eles todos, uma música que simplesmente não parava de subir em qualidade e um combate simples mas prazeroso. Resumindo, fiquei apaixonado. Mudou toda a minha visão. Apanhou-me completamente desprevenido ao ponto que se tornou um dos melhores jogos que já joguei.

Lá dei razão ao Daniel. Toda a satisfação que ele podia sentir por me provar de errado estava barrada na cara dele. Agora que abriu as portas era só dar-me jogos que eu comia tudo sem pensar.

Agora dito isto tudo, imaginem a minha reacção quando ele um dia se vira para mim e diz “Se gostaste do Persona 5, vais adora Trails of Cold Steel. É muito melhor em termos de história e o combate é muito mais satisfatório”. Era impossível resistir, eu tinha de jogar isto. Como é possível ser melhor que Persona 5, o jogo acaba connosco a lutar contra um Deus! Eu também sou um enorme fã de Tengenn Toppa Gurren Lagann (melhor anime de sempre, imbatível para sempre, não me podem convencer do contrário) e o Daniel sabia e ainda subiu a sua parada com “ É melhor que Persona 5 e Gurren Lagann”. Esqueçam, estava vendido o peixe. Para além de vendido. Eu tinha de jogar este jogo.

Em contrapartida agora penso, o Daniel deu imenso hype a isto, não deu? Lá comecei o jogo, a tentar conter as minhas expectativas de modo a não dispararem para territórios impossíveis de concretizar. Assim que o jogo inicia, começamos logo a meio duma guerra numa base militar com soldados a desesperarem por não saberem o que se passa, nem de onde vêm os ataques. Somos apresentados de imeadiato aos nossos protagonistas. É um daqueles inícios que colocam o jogador a meio da história sem contexto e sem conhecimento de ninguém. No entanto a história apresenta os nossos protagonistas, 10 no total. Obviamente estudantes com a sua professora, visto que eles a tratam por “instrutora” durante o prólogo todo. Este prólogo acaba em grande com um canhão gigante a disparar para o que parece ser uma cidade inteira e com um dos estudantes a berrar em desespero. Bem, este jogo entra logo a pés juntos directamente ao nosso peito, nem nos deixa respirar. No entanto, funciona bastante bem e esta visão fica na nossa cabeça e dá uma muito boa ideia sobre como funciona a personalidade de cada um dos nossos protagonistas. Todos eles foram mesmo muito bem apresentados, só com quatro ou cinco linhas de diálogo entre cada um na duração deste curto prólogo e imediatamente dava para saber como pensa cada uma das personagens. Agora voltamos atrás no tempo para o verdadeiro início do jogo.

Tenho de ser honesto, após um inicio bombástico a narrativa pára por completo e entra no que eu gosto de chamar “Modo Exposição”, que é uma altura onde o jogo dispensa bastante tempo para integrar o jogador no universo criado pela Nihom Falcom. E eles fazem bem, porque o universo que eles criaram é absurdamente profundo.

Não dá para explicar por palavras o quanto eles criaram para a imersão ser genuína, desde uma moeda com o seu próprio nome, a sua própria tecnologia (desde a maneira como os rádios e carros funcionam até à maneira como se luta nas guerras), com o seu nome designado e toda a envolvente dela que também tem termos técnicos próprios, um continente inteiro com países, cidades e locais com o seu próprio nome, e um império com uma hierarquia complexa, tudo o que possam imaginar para uma sociedade real funcionar foi criada e é explicada em detalhe nesta altura do jogo. Para vos dar uma ideia do quão profunda é toda a história deste mundo, o primeiro Trails of Cold Steel dá-se ao luxo de oferecer ao jogador uma biblioteca com vários livros sobre qualquer tema da história. Uma biblioteca que se vai actualizando com novos livros! Desde a história da guerra, de cada um dos locais, do comércio e quais são as áreas de maior interesse económico, a indústria deste universo, as técnicas de agricultura, tanto tema que até nos sentimos minúsculos neste mundo virtual.

Este segmento é tão profundo que até me senti sobrecarregado com tanto para ler e aprender. Digo isto no melhor dos sentidos! Para além disso, todos os locais que visitamos são incrivelmente distintos, facilmente identificados só com um olhar. Quando se visita Bareahard, o estado da nobreza deste mundo, nota-se imediatamente a diferença cultural que lá existe por ser da nobreza comparado com todos os outros locais. Até mesmo Heimdallr, a capital do império, dá a sensação de ser um local infinitamente largo! Fiquei perplexo com a quantidade de profundidade que os produtores conseguiram criar e da maneira como tudo se liga e faz imenso sentido. Em ponto algum eu li ou descobri algo que me quebrasse a imersão ou que não fizesse sentido dentro das regras que o jogo estableceu previamente.

É também durante este segmento que conhecemos melhor o resto dos protagonistas, os nossos colegas de turma na academia militar. Sim, somos militares. No decorrer do jogo, posso-vos dizer que vão sentir na pele tanto a dor como a felicidade que eles sentem. Eles tornam-se toda uma família para nós, só queremos passar tempo com eles e conhecer tudo sobre eles. Queremos saber de onde vêm e porque é que escolheram um rumo de vida de soldado, se querem servir a nobreza ou se querem proteger a terra de onde vêm. Ninguém tem o mesmo motivo e é isso que ainda lhes dá mais personalidade, fazendo com que toda a gente pareça um protagonista tão essencial quanto nós, independente das nossas escolhas no jogo. Cada um está puramente a viver a sua vida e nós somos convidados a participar nas actividades deles, se quisermos.

O que disse não se aplica exclusivamente aos nossos protagonistas. Todas as personagens. Vou repetir, todas as personagens estão incrívelmente bem escritas. Desde a mais pequena criança que só está disponível numa área curta do jogo tem algo pertinente para dizer. Quanto mais falamos com as personagens à nossa volta, mais conhecemos. Toda a gente tem os seus problemas, as suas opiniões sobre os ocorrimentos do jogo e do império, toda a gente tem ideiais para tudo, dicas para nos dar, items que nos podem dar, digam algo e eles provavelmente fazem ou dizem. Lembro-me quando reparei desde o início do jogo de um NPC que estava sempre num parque com quem eu metia sempre conversa. A certo ponto, este NPC estava a partilhar os seus problemas e detalhes da sua vida, a dar sugestões de onde ir nossa aldeia onde eu nem tinha reparado que era possível de ir e a agradecer por estar sempre lá para o ouvir a reclamar disto ou daquilo. Começou a fazer parte da minha rotina no jogo ir falar com o velhote do parque e a pensar para mim mesmo em momentos aleatórios “Como estará o senhor do parque hoje?”. Apenas mais uma personagem num mar de personagens carinhosamente criadas e intrinsecamente bem escritas.

Como disse anteriormente, este segmento todo é onde o jogador determina se quer continuar ou não, visto que ainda duram dois capítulos inteiros de paz e sossego na vida de estudante das nossas personagens antes do drama todo rebentar. No entanto, quando o drama rebenta ele rebenta! Rebenta com um valente BOOM.

Quando os vilões são establecidos e descobrimos que afinal nem tudo no nosso pacífico e unido império é o que parece, a história pega imenso voo e nada a pára. Começa a acontecer tanta, tanta coisa, pessoas começam a ser atacadas, as terras dos nossos camaradas são postas em risco e quando damos por nós estamos a correr para as ir resolver. Quem se atreve a invadir a cidade do meu colega? Quem teve a lata de raptar a família da minha amiga? Eles vão ver.

É exactamente ao pensar isto a meio do primeiro jogo, que caí na realidade. Estou a sentir este jogo como se fosse eu na realidade, como se tivessem acabado de faltar ao respeito à minha família e eu tivesse que ir defender a honra deles. Uma sensação incrível e que vos apanha desprevenidos! Estava completamente rendido à história e assustado com o que estava para vir. Sim, porque o Trails of Cold Steel sabe exactamente onde te atacar e como te afectar. Afinal de contas, foi o jogo nos deu os teus pontos fracos todos, nós só seguimos em frente sem nos apercebermos que estavamos a comer à colherada tudo o que os produtores nos davam.

O  The Legend of Heroes não é uma série fácil. A não ser que tenham escolhido a dificuldade mais fácil ao ínicio, o jogo não perdoa nem segura a nossa mão com o combate. O que ao ínicio se pensa que até nem é assim tão complicado de se apanhar o jeito com todas as coisas em que pensar, rapidamente se torna numa linha de raciocínio complexa em que temos de ponderar onde posicionar os nossos camaradas, quem ataca primeiro e com o quê, quem sacrificar ao posicionar mais perto do inimigo para o distrair enquanto os outros atacam à distância, quando utilizar o S-Craft (o ataque mais forte das nossas personagens) e estar atento à barra de turnos de lado para poder evitar qualquer tipo de bónus que o inimigo possa receber ao utilizar a S-Craft e retirar o turno ao inimigo.

Parece um exagero absurdo, mas na verdade, acaba por se tornar assim mesmo a linha de raciocínio durante os combates. Isto quando não acabamos por improvisar a meio de combate, já que o inimigo está a dar mais luta do que pensávamos! Tudo isto causa uma sensação única em que nos sentimos uns estrategistas natos quando vencemos graças a uma táctica pensada só por nós no calor do momento. Todas as vitórias sabem melhor à medida que o jogo avança, visto que a dificuldade aumenta com cada combate. Regra geral, combate por turnos é um “gameplay loop” simples de se seguir e aprender, uma equipa de protagonistas contra um ou mais vilões a trocar animações de combate um contra o outro até a batalha acabar, com feitiços/items de suporte e de ataque e algumas jogadas especiais para finalizar o combate em grande. O Trails of Cold Steel é isso e mais um valente par de botas, porque há toda uma lista de fraquezas a decorar e bónus que tanto nós como os inimigos podem vir a receber a meio da batalha que são decisivos na decisão do vencedor. Não é exagero nenhum frasear as coisas deste modo, porque este jogo não sente vergonha alguma em distribuir socos ao jogador por não estar a jogar atentamente e a dar o todo nas batalhas.

Claro que para quem simplesmente quiser apreciar uma boa narrativa, o jogo dispõe duma dificuldade muito mais benvolente, mas perde logo essa atitude quando se escolhe algo com algum desafio.

Agora juntem isso tudo a uma banda sonora que só pode ser descrita como incrível. Triste nos momentos mais deprimentes, sombria nos momentos mais ansiosos e absolutamente bombástica nos momentos mais marcantes. Cada música de vitória ou de momentos mais apertados ou até mesmo as músicas ambientes das cidades que deviam passar maioritariamente despercebidas são dignas de destaque. Só ouvindo mesmo, porque palavras não lhe fazem justiça. Se calhar só ao dizer que merecem um beijo na mão à chef de cozinha!

Eu por enquanto só joguei os dois primeiros jogos do The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel, mas vou jogar todos os outros que me faltam ainda, incluindo os Trails in the Sky, as prequelas desta série. Já joguei muitos jogos na minha vida e apesar de não ter muita experiência com JRPGs, posso dizer com muita certeza que não há um jogo nenhum como estes jogos desta série. Únicos de uma maneira que só quem jogou sabe o porquê. Dito isto, como última palavra gostava de vos motivar a pegar nesta série, mesmo que por norma não joguem JRPGs garanto-vos que vai valer a pena. Fiquei absolutamente rendido, sem sequer me aperceber que assim o estava até ultrapassar mais de metade do primeiro jogo, e honestamente que mais se pode pedir dum jogo ou de qualquer tipo de arte, senão absorção total e desprevenida? Façam um favor a vocês mesmo e joguem esta série, porque não há como desapontar. Tal como o Mathias disse, comecem pelo Trails of Cold Steel que para além de serem os mais recentes são também os que têm os gráficos mais agradáveis à vista.

Se quiserem, leiam as nossas análises aos jogos da série Legend of Heroes: Trails of Cold Steel nos links que se seguem:

Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel (PSVita)
Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel (PS4)
Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel II (PS4)
Análise – The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel III (PS4)

Francisco Silvestre
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