Já lá vai o tempo em que M. Night Shyamalan era considerado um director com potencial e em ascensão em Hollywood. The Sixth Sense (1999) foi o filme mais marcante da sua carreira, que lhe conseguiu colocar os holofotes da indústria sobre si. No entanto, o proeminente director nunca conseguiu replicar a proeza, sendo que a cada filme que saia, a fasquia de qualidade caí cada vez mais (veja-se o caso de Lady In The Water (2006) e The Last Airbender (2010)). Foi com Split (2016) e Glass (2019) que parecia, por fim, que a situação se ia corrigir.
Por consequência, a sua nova produção acabou por atrair as atenções, de quem desejava um regresso em forma de Shyamalan. Mas na prática, o dito novo filme de Shyamalan, é realmente um regresso. Com um senão, pois é um regresso à era onde este director, começou a fazer maus filmes. Mas já me estou adiantar. Old, distribuído nos cinemas pela Universal Pictures, é um filme inspirado numa graphic novel de nome Sandcastle, criada por Frederick Peeters e Peirre Oscar Lévy. Que para todos os efeitos é apenas inspiração (e não adaptação), uma vez que em grande parte, existem mais elementos que separam as obras, do que as aproximam.
Tal como é praxe habitual de Shyamalan, está em foco no filme, um conceito rodeado de mistérios e plot-twists. Aqui, a premissa é construído em torno de uma praia pacata, que quem a visita, passa por um súbito processo de envelhecimento. A partir disto a narrativa constrói-se com base nas pessoas, que a vão visitar, e as situações, que vão ocorrendo neste local. No núcleo central de personagens está o casal, Guy (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps), que após a decisão de se divorciarem, decidem passar um último momento juntos, com os seus filhos, Trent (Alex Wolff) e Maddox (Thomasin McKenzie).
Ao chegar ao destino de viagem, um resort luxuoso, acabam por se emparelhar com outros hospedes: Como o casal Charles (Rufus Sewell), um médico que sofre de uma doença psicológica, e Chrystal (Abbey Lee), com a filha Kara (Eliza Scanlen) e a sua mãe Agnes (Kathleen Chalfant). Junta-se ainda ao grupo de personagens, Mid-Sized Sedan (Aaron Pierre), um rapper famoso e outro casal, composto por Patricia (Nikki Amuka-Bird) uma psicóloga, e o seu marido, Jarin (Ken Leung), um enfermeiro. Toda esta panóplia de personagens acaba por se cruzar, de facto, quando por sugestão de um manager do resort, visitam uma praia mais discreta e sossegada.
E tal como referi quanto à premissa, as próprias personagens vão começar aperceber-se disto sob a forma de fenômenos misteriosos. Como a experiência de Old é relativamente pequena, tudo acaba por acontecer num ritmo relativamente rápido, daí que a exploração do passado e motivações das personagens, acabe por ficar reservado ao núcleo principal, servindo os restantes como ferramentas narrativas para mover a história adiante.
O que vai tornar este ponto mais gritante, é não apenas serem indivíduos pouco cativantes, sem grande carisma ou que transmitam empatia com o espectador, como também os próprios atores que as interpretam deixam muito a desejar. Sendo que a escolha do elenco priorizou atores menos conhecidos do publico geral, embora Gael García Bernal, até seja um bom ator, mas que aqui a sua personagem foi muito mal aproveitada.
Depois se juntarmos a isto um problema estrutural da direção de Shyamalan, que é a questão dos seus ‘famosos’ diálogos, temos a receita para um filme muito abaixo da média. Que para todos os efeitos, não surpreende, acaba por ser o típico filme que Shyamalan tem feito nos últimos tempos (há exceção daqueles dois filmes que mencionei no início, que são pontos fora da curva), ou seja, quer produções muito insuficientes, ou simplesmente más.
Ainda assim, a aura de mistério construída em torno do que está acontecer às personagens naquela praia, deixa qualquer um minimamente interessado, pelo menos, a querer saber o que se está passar. O director é perito em criar uma boa ideia no papel e ir aos poucos dando pistas, contudo, na prática, a sua execução está longe de ser a melhor.
E não me refiro ao facto do carácter interpretativo e subjetivo da obra, do que certos elementos podem ou não significar, mas sim de uma maneira mais literal: de pegar num conceito incomum e saber aplicá-lo em tela. Onde aqui é mal finalizado e perde várias oportunidades para entregar uma edição e cinematografia potencialmente interessante.
Mesmo assim, por ser algo que pode terminar em qualquer lugar, a direção dá lugar ao suspense, menosprezando os habituais elementos de terror/horror. Daí que, seja qual fosse a grande revelação, esta iria surpreender de uma forma ou de outra. Portanto a reviravolta tão aguardada, é bem conseguida na medida do possível, se levarmos em conta o que estava a ser deixado em aberto desde o início do filme, o dito foreshadowing. Também não posso ir mais longe quanto à história, pois acabaria por inevitavelmente revelar alguma coisa deixada de fora nos trailers.
Mas refiro que há espaço para algumas mortes, cenas inusitadas e certas situações inesperadas quanto ao destino das personagens e o que lhes espera naquela praia. Os restantes elementos técnicos não trazem nada de novo, acabam por estar dentro do normal, ou em certos casos, completamente ausentes de uma tonalidade própria. Refiro-me à banda sonora, que caso tivesse sido alvo de um trabalho aprimorado, com certeza contribuiria para elevar a atmosfera do filme, como não aconteceu, apenas posso lamentar este facto.
Embora Old se foque em torno da passagem do tempo, ironicamente, é o próprio Shyamalan que aprendeu muito pouco com ele na sua carreira. Com os mesmos clichês e artimanhas cinematográficas de outrora, Old acaba por ser um filme com muito potencial no papel, sim, mas que fora dele é um desastre, pouco polido e refinado, que saiu antes da hora.
Para quem é fã do director em causa, bem sei que provavelmente vão apreciar o que está aqui, pois no final das contas é o típico filme que Shyamalan habituou o seu público (e fãs, por incrível que pareça eles existem) após década de 2000. Para todas as restantes pessoas podem deixar este filme de lado, mas caso queiram mesmo dar uma chance, bem, já sabem para o que vão.
Positivo:
- Premissa interessante;
- Clima de suspense;
- Plot-twist final oportuno…
Negativo:
- …mas cujas nuances são pouco exploradas;
- Péssima execução;
- Shyamalan continua a não saber escrever diálogos;
- Cinematografia abaixo do padrão;
- Personagens não são convincentes;
- E não têm um desenvolvimento adequado;
 
 





 
  
  
 









