Análise – Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom

Vindo de uma união de sonho entre a Level-5 e os Estúdios Ghibli, Ni No Kuni foi uma das melhores experiências RPG épicas da geração passada. Uma sequela seria mais do que esperado, mas desta vez, a Level-5 resolveu percorrer o caminho a sós, juntando apenas algumas das pessoas que trabalharam no original.

Para acompanhar as mudanças na equipa, também o novo jogo sofreu algumas alterações e modificações para uma nova geração. Algumas novidades são bem vindas, outras vão desapontar os fãs do primeiro, mas no global, Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é mais um lançamento bem conseguido.

A história de Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom não está ligada à do primeiro, sendo que agora temos um tema diferente. Logo a início assistimos a um golpe real, onde o futuro rei é deposto pelo conselheiro do seu pai. Desta forma, Evan é obrigado a fugir e com a ajuda dos seus aliados e criar o seu novo reino numa zona distante.

Tal como qualquer bom JRPG, Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é um jogo carregado de história e o desenrolar dos acontecimentos, estão bastante bem feitos e encadeados, havendo espaço para exposição e tutoriais em ordem bastante organizada. Só tenho pena que um jogo deste calibre em 2018, tenha menos diálogos falados do que o próprio Monster Hunter World. Na maioria das vezes, conversas importantes são tidas apenas em texto, o que é uma pena, especialmente com a boa qualidade das vozes.

A história é certamente boa e bem contada, mas não posso dizer o mesmo para certos acontecimentos e personagens. Roland não é certamente das personagens que mais me atraiu e alguns dos adjuvantes saltam depressa de “vou te matar”, para “és a minha pessoa favorita no mundo!”. Talvez algumas decisões pareçam apressadas ou entregues sem grande nexo, mas a apresentação de novas personagens e as suas origens podiam ter mais espaço para crescer.

No que toca a jogabilidade, Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom usa o mesmo sistema do anterior, com localizações completas para explorar nas cidades e dungeons, e um mapa mundo onde as personagens aparecem num formato chibi. Aqui, quando os inimigos entram em contacto connosco, abrem uma arena de combate onde podemos ver todos os mostros que temos de derrotar. Os mapas estão recheados de pontos de recolha de itens e baús com objectos que podem ser equipados para melhorar as estatísticas das personagens.

Uma das maiores mudanças de Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é claramente o combate, que passou de um misto de turnos e estratégia, para acção em tempo real. Podem controlar uma de três personagens, usando ataques fracos, fortes, magias e até recurso aos higgledies, entidades elementais que conseguem ajudar de diversas formas, como com ataques, magias de cura, etc. O combate é simples se apenas se preocuparem com o básico, mas existe toda uma panóplia de habilidades que podem aprender e até um sistema de armas que permite que mudem em tempo real, ou deixem o jogo decidir qual a arma ideal entre aquelas que podem realizar habilidades no momento. O combate é rápido e dinâmico e consegue ser bem mais estratégico do que parece à primeira vista.

Além dos combates normais, existe ainda o modo de luta com exércitos, um modelo mais estratégico que envolve controlar esquadrões de guerra com forças e fraquezas. Este é um modo simples e que não rouba muito destaque dos elementos principais, mas ainda temos de fazer algumas vezes ao longo da campanha. É uma espécie de actividade extra que ajuda a dar mais uma camada a Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom e que não compromete de forma alguma.

Falando em camadas, a seguinte é a construção do novo reino de Evan, que me fez lembrar dos belos tempos de Dark Chronicle da PS2. Embora aqui a gestão seja feita de uma forma mais simples, a exploração do mapa para a colocação das estruturas e afins, é um dos passatempos mais divertidos do jogo e a forma ideal de ganhar uma série de extras para ajudar na campanha. Como a cidade cresce com base nos aliados que vamos recrutando, o reino acaba por se transformar em algo mais pessoal.

Apesar de não ter uma história muito comprida (entre trinta a quarenta horas), Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom ainda acumula muitas mais através de todas as missões secundárias e actividades extra que podem fazer. É fácil deambular pelo mapa à procura de coisas para apanhar, fazer missões alternativas ou gastar algum tempo a ler os novos posts de uma ferramenta parecida com o Facebook, que mostra algumas das novidades do mundo, vistas pelos olhos das personagens.

Tal como o primeiro jogo, Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é um verdadeiro portento visual, parecendo mesmo que estamos a ver um Anime. A minha experiência foi na PS4 Pro em 4K e posso dizer que só fez com que tudo parecesse ainda mais bonito. Seja pelos cenários ou pelos detalhes das personagens, o trabalho foi muito bem feito no geral. A banda sonora, por seu lado, também está bastante boa, mantendo o mesmo compositor do original. As vozes podem ser ouvidas em inglês e japonês, havendo a opção para mudar no menu principal.

Apesar de ser um jogo que adorei, não consigo fechar os olhos a alguns dos pontos menos positivos desta aventura. O primeiro é claramente (como já referi), a quantidade de diálogos importantes que não são falados, além de momentos que podiam beneficiar de cinemáticas e ficam-se também pelos textos. Tendo em conta que o primeiro Ni No Kuni tinha vários momentos destes, é estranho ver tão poucos aqui. Outro são as legendas ultra velozes que saltam para o ecrã em momentos de exploração ou combate que mal dão tempo para ler e por fim, o design e concepção de algumas personagens não está assim tão forte, o que me leva a pensar se não terá a ver com a ausência do estúdio Ghibli nesta sequela.

Com este lançamento, 2018 acaba por ficar um ano ainda melhor, especialmente no que toca a RPG. Pode não ser tão bom ou memorável como o primeiro jogo, mas é certo que nenhum fã do género vai ficar desapontado com este jogo. Ni No Kuni 2: Revenant Kingdom é uma aventura que vale a pena ser jogada e que vai certamente ser um dos grandes jogos do ano.

Positivo:

  • Visual deslumbrante
  • Combate bem conseguido
  • Vozes encantadoras
  • Construção do reino
  • Muito para explorar e fazer

Negativo:

  • Pouca utilização de cinemáticas
  • Momentos importantes sem vozes
  • Personagens e história com lacunas
  • Legendas dinâmicas que passam a correr

Daniel Silvestre
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