Análise – Hamilton

Desde já admito que não sou o maior fã de musicais ou coisas do género, no entanto, soube que um musical chamado Hamilton, havia chegado ao Disney Plus, o qual recebeu bastantes elogios da crítica e dos apreciadores. Assim, decidi atirar-me de cabeça e dar uma chance, aproveitando ainda para expandir o meu currículo cinematográfico.

Hamilton é um musical da Broadway, portanto é uma experiência de palco, que (re)conta alguns dos eventos da história de um dos Founding Fathers dos Estados Unidos da América, sob a forma de vários números musicais. Não obstante, após o surto da pandemia, vários dos locais onde Hamilton era exibido foram forçados a fechar, no entanto, a Disney decidiu adquirir os direitos para exibi-lo no seu serviço de streaming, de maneira a permitir a que todos o possam assistir em segurança.

Apesar de no seu conceito original estar a essência de um espetáculo da Broadway, esta versão adaptada para o streaming conta com alguns pormenores de direção, semelhantes a um filme. Daí que Hamilton seja um misto de um musical de palco com elementos cinematográficos. Independentemente disso, Hamilton foi produzido e protagonizado por Lin-Manuel Miranda, também conhecido por ter escrito e composto várias músicas para a Walt Disney Animation.

Quanto à história, esta apesar de ser muito badalada na cultura americana, é por vezes desconhecida em outras partes do mundo. Daí que além de ter um carácter de entretenimento, tem ainda um teor histórico, sendo este último reforçado pela decisão de transformar a narrativa numa espécie de biografia do protagonista. Neste sentido, sem entrar em muitos spoilers (para quem não conhece esta parte da história, não ter as surpresas desvendadas), Alexander Hamilton era um jovem órfão talentoso, cuja ambição o levou a New York (1776), onde conhece Burr (Leslie Odom), Laurens (Anthony Ramos) , Lafayette (Daveed Diggs) e Mulligan (Okieriete Onaodowan).

Este grupo conspirava vários objetivos revolucionários, com o propósito de desencadear o que viria a ser a Revolução Americana. Contudo, esta decisão estava longe de ser fácil, devido à oposição do King George III (Jonathan Groff). Nesta jornada Hamilton irá conhecer George Washington (Christopher Jackson), a sua futura mulher, Eliza (Phillipa Soo), entre outras figuras que marcaram esta fase histórica americana.

De forma a contar esta “aula de História” de maneira apelativa, o musical aposta nos números musicais para revelar o que vai na mente das personagens e quais os seus motivos e ambições. Por falar nisso, a produção desta obra fez um excelente trabalho em captar a essência da personalidade de cada um dos intervenientes e encaixá-las nas inúmeras músicas coreografadas, que estão também muito bem executadas. Das várias músicas destaco o número de “My Shot“, “You’ll Be Back” e de “Satisfied“.

Outro aspecto que importa abordar é o seu tempo de duração. Para quem não está habituado, como eu, a assistir às longas peças da Broadway, Hamilton pode ser bastante maçador e demorado, tendo um total de quase três horas. Nas quais senti um certo aborrecimento em algumas partes, e noutras algum entusiasmo por querer continuar a ver. Ainda assim pode ser um aspecto, que ditará o quão cada pessoa, poderá ou não, se entreter com esta obra.

Apesar de seguir uma linha contínua, com alguns saltos temporais pelo meio, Hamilton é uma peça dividida em dois actos. Neste aspecto, o primeiro acto demora a arrancar, e é onde maior parte dos problemas do musical se encontram, entre eles a constante troca de géneros musicais. Pois apesar de na teoria ser um ponto positivo, na medida em que vários estilos musicais são utilizados para transformar a experiência em algo mais dinâmico, na prática, grande parte encaixa-se mal no seguimento do número anterior. Não dando ao espectador uma transição natural, parecendo quase como se a obra estivesse com pressa de acelerar sucessivamente entre cada número.

Todavia, o segundo acto resolve este problema, sendo a melhor parte, e aquela que me fez mudar, para melhor, a minha opinião com esta obra. É sem dúvida, neste segundo acto onde reside o melhor conteúdo e onde se vê claramente para onde foi grande parte do investimento, para deixar o espectador impactado com o desfecho da história. Mesmo assim, não resolve totalmente o primeiro acto conturbado.

Uma das coisas que mais apreciei em Hamilton, foi a audácia de mostrar ambas as facetas do protagonista, isto é, mesmo sendo uma figura muito acarinhada dos EUA, a peça expõe também o seu lado mais polémico e “humano” da personagem, não sendo apresentado como alguém divino e perfeito. O que acaba por reforçar o carácter realístico, que a vertente histórica tem o dever de transmitir ao público, a tal multi-complexidade de Alexander Hamilton.

Abreviadamente, Hamilton é tanto uma boa peça de Broadway, como uma boa adaptação cinematográfica. Apesar de determinados aspectos não transitarem naturalmente para aquilo que é esperado de um filme, Hamilton cumpre a sua função. Certamente, os apreciadores de musicais irão ficar pasmados com a qualidade da produção do filme, e outros que sejam verdadeiros pseudo-historiadores poderão ficar contentes com várias escolhas acertadas feitas por Lin-Manuel Miranda e sua equipa. Quanto ao meu caso, que nem sou tão entendedor desta época história, nem grande fã do género musical, saí satisfeito.

Positivo:

  • História;
  • Elenco;
  • Rigor dos acontecimentos históricos;
  • Números musicais bem coreografados e encenados;
  • Equilíbrio entre peça musical e obra cinematográfica;

Negativo:

  • Primeiro acto;
  • Transição entre números musicais;
  • Duração pode ser um entrave para muitos;

João Luzio
Share

You may also like...

error

Sigam-nos para todas as novidades!

YouTube
Instagram