Análise – Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna

Quando vi pela primeira vez Digimon Adventure a passar na televisão nunca pensei que cerca de 20 anos mais tarde estaria a chorar no filme de despedida das personagens. Para dizer melhor, não estava a pensar no meu futuro de todo, e nem estavam as personagens.

O objectivo do primeiro anime sempre foi simples. Obviamente que tínhamos uma aventura que estava a decorrer juntamente com a sua história, afinal de contas a série tem aventura no seu nome, mas uma parte central sempre foi o crescimento das personagens enquanto tinham o seu parceiro digital a seu lado que as ajudava a ultrapassar os seus problemas.

Chegando ao final da primeira temporada os problemas estavam resolvidos, e as personagens haviam ultrapassado a maioria dos seus problemas, e assim vimos a despedida entre as crianças escolhidas e os seus Digimon. Um final bom e alegre que dizia que esta não era uma separação permanente. E mais tarde novamente demos de caras com estas personagens em Digimon 02.

A presença dos velhos protagonistas em Digimon 02 foi mais no sentido de guiar as novas crianças escolhidas e os seus Digimon no caminho correcto. Com esse trabalho feito chegou então a altura de uma despedida definitiva para este elenco. Cerca de 15 anos mais tarde foi então anunciado que estas velhas caras iriam regressar para uma onda de filmes sob o nome de Digimon Tri.

A recepção destes filmes foi mista muito devido à sua história que foi incoerente e não resultou em nada, focando-se mais em oferecer nostalgia aos fãs. Concordo que a história podia estar melhor elaborada, mas por outro lado apenas fiquei contente em ver estas velhas caras de volta e não me importei na direcção que a série tomou, pedindo até por mais.

Foi então anunciado um novo filme para comemorar o 20º aniversário de série, Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna, e tal como o nome indica, este seria o último filme da série original e a despedida destas personagens.

Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna foca-se em algo simples. Um elemento que esteve presente desde o início da aventura destas personagens e que alastrou-se pelas consequentes sequelas. A ligação entre as crianças escolhidas e os seus Digimon.

Ao longo da série as personagens tem vindo a crescer com a ajuda dos seus Digimon, enfrentando vários desafios juntamente com os seus problemas. Apesar de na série original as crianças escolhidas terem ultrapassado os seus problemas, estas foram crescendo e em Digimon Tri acabaram por encontrar-se novamente na mesma situação.

É verdade que enquanto crianças e adolescentes as pessoas acabam por encontrar um monte de dificuldades, e por vezes voltam e voltam a questionar-se não só sobre o futuro mas também sobre o presente. No final, Digimon Tri terminou e com a chegada de Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna as crianças escolhidas finalmente tornaram-se em adultos.

A história tem início com as personagens a impedir que um Digimon que deambulou do mundo Digital para o mundo real, cause caos. Após este pequeno caso estar tratado tanto Tai (Taichi) como Matt (Yamato) acabam por regressar imediatamente às suas responsabilidades. A maioria do grupo agora é adulto e então cada um está ocupado com algo importante, não possuindo muito tempo livre para as velhas aventuras com os seus parceiros digitais.

Tanto Tai como Matt são os únicos que apesar de terem crescido e continuado com as suas vidas, ainda estão um pouco incertos sobre a profissão que querem seguir. É nesta altura que várias crianças crianças escolhidas por todo o mundo começam a perder a consciência, com os seus Digimon a desaparecer, e o grupo é abordado por Menoa Belluci e Imura Kyotaro que os informam de um misterioso Digimon chamado Eosmon.

É durante o primeiro confronto com Eosmon que algo acontece e temos início ao processo final que irá concluir a ligação entre as crianças escolhidas e os seus Digimon. Chegando a uma altura onde estas ultrapassaram todas as suas dificuldades e cresceram com a ajuda dos seus Digimon, estes já não são mais necessários. Indicando assim o fim o fim da amizade onde ambos os lados são obrigados a dizer adeus.

Apesar de este ser o último filme do elenco inicial, metade não chega a ter quase nenhum tempo de antena, com as personagens em foco a serem Tai e Matt. Por um lado é fácil de entender o porquê, já que várias vezes imensos filmes sofrem do problema de colocarem todas as suas personagens no ecrã só porque sim, sem estas a adicionarem nada de útil para o mesmo. No entanto tendo em conta que esta é a última vez que as vamos ver parte de mim queria um pouco mais.

Tanto Tai como Matt continuam a agir tal como sempre o fizeram, incluindo os momentos em que ambos arguam um pouco um com o outro enquanto preocupam-se com a inevitável separação com os seus parceiros de longa vida. Por sua vez, Agumon e Gabumon também continuam iguais, suportando os seus companheiros e ajudando-os uma última vez a crescer enquanto pessoas.

Os protagonistas de Digimon 02 também marcam um regresso neste filme, após terem inexplicavelmente desaparecido durante Digimon Tri, embora continuamos sem saber o que lhes aconteceu durante esta ausência. O papel que Davis (Daisuke) e o resto do grupo tem é a habitual função que as personagens secundárias possuem em filmes anime, lidar com coisas secundárias fora do ecrã.

Davis e o resto tem algum tempo de antena, ainda mais que algumas personagens do elenco original, mas é óbvio que elas não são o foco principal desta aventura, pois a história destas personagens ainda está para continuar.

Focando-nos nas novas personagens deste filme, Menoa e Imura, ambas estão basicamente a readaptar os papéis que Maki Himekawa e Daigo Nishijima tinham em Digimon Tri; uma fonte adicional de informação sobre a corrente situação que está a acontecer com os Digimon.

A presença de Menoa e Imura tanto acaba como não por ser necessária neste filme. A adição de ambos e a sua presença não muda muito o enredo, sendo que a história podia acontecer de qualquer forma, mas no entanto estas personagens tem algo para contar e que acrescentam ao filme. Em termos de duração de um filme deram tudo o que tinham a dar. Se isso as tornam em personagens memoráveis ou não é discutível. Pelo menos tanto Menoa como Imura tiveram uma conclusão melhor que Maki e Daigo.

Falando de Digimon Tri, o impacto que este teve sobre o filme é quase inexistente para além de um cameo de Mei. Colocando tanto a personagem como toda a onda de filmes ao mesmo nível que o primeiro filme de Digimon 02 que focava-se na personagem Willis (Wallace) que também acaba por receber um pequeno cameo neste filme.

Basicamente, excluindo o tratamento que Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna oferece a Digimon Tri. Podem contar com algumas referências e momentos que os fãs mais atentos irão recordar terem visto no anime original. O filme sabe como induzir a nostalgia com novo conteúdo e fazer com que o espectador aprecia aquilo que está a ver sem recorrer demasiado à sua memória de eventos anteriores.

Isto é feito com a banda sonora já conhecida nos momentos certos, conversas que fazem lembrar velhos momentos ou até um excelente “throwback” a uma cena em particular que irá agradar a todos os fãs. Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna é o exemplo perfeito em como é possível oferecer uma pequena dose de nostalgia mas sem necessitar de agarrar-se a isso para agradar aos fãs.

A história acaba por não focar-se muito nos momentos “depressivos”, com as personagens sempre a estabelecer aquilo que querem e devem fazer sem importarem-se com o destino que as espera. Seria de esperar por este filme ser uma despedida que o mesmo fosse passar mais tempo a relembrar velhos momentos, ou então criar mais emoções entre as personagens. Mas o filme conhece os seus fãs e ao invés de desperdiçar o tempo com nostalgia barata decide então entregar aquilo que os fãs desejam ver, uma última aventura.

Após vários anos a acompanhar estas personagens e velas crescer, nem é estranho ver a sua vida adulta e com preocupações tal como as nossas. Os dias de aventura à longo que terminaram e chegou agora a altura de entrar no mundano da vida adulta, após um último empurrão feito por quem nos acompanhou ao longo de todo este tempo.

Por fim o que tenho a dizer é que a mensagem do filme tanto no início como no fim muito provavelmente não é aquilo que muitos estavam à espera, mas que é algo que me agradou pois é igual à maneira em como penso e à ideia que tive enquanto fui crescendo. Digimon nunca foi algo para despedidas eternas, e mesmo que este possa ser a última vez que vamos ver estas personagens certamente que a sua história continua (não fosse o final de Digimon 02 ser um indicativo disso). Mas colocando tudo isso de lado, Digimon Adventure: Last Evolution Kizuna é um bom filme mesmo para quem não conhece a série e uma óptima despedida para os velhos fãs que na sua maioria começaram a seguir Digimon enquanto crianças e são agora adultos. Digimon não termina aqui e haverá sempre um novo grupo de crianças escolhidas para nos acompanhar numa nova aventura.

Positivo:

  • Uma óptima despedida das personagens originais
  • Consegue invocar momentos de nostalgia mas sem encostar-se demasiado a essa emoção
  • Mensagem do filme

Negativo:

  • Quero continuar as minhas aventuras com este grupo
  • Algumas personagens podiam ter um pouco mais tempo de antena
  • Digimon Tri. acaba por não ter qualquer tipo de impacto na série

Mathias Marques
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