Análise – Chaos;Child

  • Plataformas: PlayStation 4, PlayStation Vita
  • Versão de Análise: PlayStation Vita
  • Informação Adicional: Imagens retiradas durante as sessões de jogo.

Por esta altura já muitos devem conhecer o projecto “Science Adventure Series” devido a Steins;Gate, mas poucos realmente decidiram aventurar-se pelos vários jogos disponíveis na série, ficando-se apenas pelas adaptações a anime. Infelizmente no caso de Chaos;Child a sua adaptação a anime não foi a melhor de todas, especialmente devido ao pequeno número de episódios e à forma como a história está estruturada. No entanto esta análise é referente ao material original, ou seja, à visual novel que saiu em território Europeu durante o ano de 2017, focando-se apenas no jogo e não nas suas várias adaptações.

Chaos;Child partilha o mesmo cenário que Chaos;Head, tendo lugar na cidade de Shibuya seis anos após os eventos do jogo anterior. Takuru Miyashiro repara que uma recente onda de mortes macabras é semelhante ao evento “New Generation” que teve lugar há seis anos atrás e decide investigar uma possível ligação entre ambos, acabando por se envolver nos vários acontecimentos que se seguem. Apesar de Chaos;Head estar relacionado a este, não implica que seja uma sequela directa, não havendo nenhuma ligação entre ambos os jogos para além de pequenas referências a personagens ou eventos.

Visto que partilha dos mesmos criadores, é óbvio que Chaos;Child também conta com os mesmos temas negros e humanos de Steins;Gate. O calão científico é algo que não está presente em comparação ao jogo mais popular da Science Adventure Series, mas por outro lado Chaos;Child foca-se mais no aspecto psicológico das personagens, observando as suas mentalidades e reacções perante as várias situações extremas que normalmente não estariam presentes na sua vida. No centro deste aspecto psicológico está o protagonista e a mecânica conhecida como “Delusion Trigger”.

Ao longo da história o jogador vai encontrar vários momentos onde tem a possibilidade de escolher uma delusão positiva/negativa ou apenas ignorar a escolha em questão. Estes “Delusion Trigger” são situações que acontecem na cabeça de Takuru, com as delusões positivas a serem na sua maioria eventos que um jovem na puberdade teria na cabeça, e as delusões negativas sendo eventos mais sérios que parecem retirados de um filme de horror.

Tendo lugar na cabeça de Takuru, estas “Delusion Trigger” não estão realmente a acontecer, e durante a primeira vez que o jogador está a aventurar-se pela história estas não vão afectar o percurso da mesma, apenas entram em acção após o jogador completar a “Common Route”. Com a conclusão da história principal as “Heroine Routes” são desbloqueadas, e é aí que as “Delusion Trigger” entram em jogo, sendo importantes para desbloquear a nova história que o jogador irá seguir, embora as escolhas correctas que o jogador necessita de realizar para abrir esses novos caminhos não sejam evidentes. 

Esses caminhos são obrigatórios para desbloquear o “True Ending” e são bastante importantes pois apresentam muito mais para além de um história alternativa. A história principal de Chaos;Child deixa muito por explicar em relação a algumas personagens e a sua participação na história, inclusive o desenvolvimento das mesmas, e estes cenários alternativos exploram o que está em falta, contribuindo em grande parte para a história geral do jogo. As “Heroine Routes” acabam por durar bem mais do que um par de horas, oferecendo experiências totalmente diferentes uma da outra enquanto respondem a várias questões anteriormente colocadas pelo jogador.

Após todos os cenários alternativos estarem concluídos chega a vez de o verdadeiro final tomar o palco. O “True Ending” acaba por se desviar um pouco da história inicial, focando-se antes noutro assunto, e ao mesmo tempo tenta resolver as pontas soltas mas não chega a fazer o suficiente para responder a algumas questões, deixando assuntos por terminar e sem a promessa de algum dia o fazer. O percurso do jogo é bom e interessante, incluíndo as várias histórias alternativas, mas a verdadeira conclusão da história fica aquém do esperado, deixando o jogador a desejar por algo melhor ou uma extensão do mesmo que abordasse alguns tópicos necessários.

Falando sobre o protagonista e o seu estado mental, é interessante ver a maneira em como o tema é abordado. Normalmente as histórias contam com um protagonista que aguenta com tudo o que lhe é atirado sem se deixar afectar em demasia excepto naquele momento emocional que muitos acabam por elogiar, mas em Chaos;Child Takuru é apenas um simples jovem estudante que começa a ver coisas horrendas a acontecer à sua volta. Existem várias situações em que Takuru actua de uma forma que não irá deixar os jogadores contentes, mas a abordagem tomada com o protagonista permite explorar o seu estado mental com a forma em como reage aos acontecimentos, e ao mesmo tempo apresenta um lado humano para a personagem, fazendo com que a história siga caminhos inesperados.

Quanto a outras personagens centrais para a história principal, o seu objectivo acaba por ser mais de suporte para o protagonista, quer emocional quer para fazer com que a investigação avance em frente. As personalidades apresentadas tinham tudo para correr mal caso fossem mal usadas, mas a história sabe como pegar nelas e fazer com que as mesmas dêem o seu melhor, não caindo em demasiado no cliché nas quais as mesmas se baseiam. Num exemplo, Kurusu interpreta o papel onde actua como irmã para Takuru, preocupando-se com o seu estado físico e mental tendo em conta os recentes eventos e passado das personagens. A sua insistência na história podia ser excessiva e irritante mas não é essa a impressão que a mesma dá, com a personagem a ser usada de uma boa forma em todas as vezes em que aparece, dando uma justificação para as suas acções e sabendo como agir em certas situações.

Cada personagem acaba por ter um papel específico nesta história, sendo que a experiência de cada uma é um pouco diferente da do protagonista, e isto inclui as suas reacções e respostas aos eventos que acontecem. Seria interessante ver o tema de humanidade e mentalidade ser explorado ao extremo tal como é feito com o protagonista, mas por outro lado o papel de Takuru é único tendo em conta a sua personalidade solitária e complexo de superioridade, sendo o sujeito mais adequado para este caso.

Em aspectos técnicos, a banda sonora está presente em grande, tal como já temos vindo a ser habituados pela Science Adventure Series. A arte é diferente do que é utilizado em Steins;Gate e Steins;Gate 0, mas isso não quer dizer que esteja má, o design das personagens está bom e em termos de cenário ou ilustrações o jogo consegue alcançar o ambiente desejado. Em relação à tradução do jogo, este teve um número maior de erros em comparação a Steins;Gate 0 que já possuía um número bastante insignificante, não sendo assim algo demasiado preocupante ou que estrague a experiência do jogador.

Resumindo, Chaos;Child é mais uma boa entrada para a série, o jogador não necessita de ter conhecimento sobre os jogos anteriores e este oferece a experiência completa com vários momentos dramáticos e intensos. O mistério do que anda a acontecer é algo que vai agarrar o jogador durante o seu percurso e os vários cenários alternativos recompensam as horas gastas nos mesmos. A única reclamação seria o final da história que deixa a desejar e outras questões por explicar, mas a jornada continua a ser o seu ponto forte, em especial a maneira como o protagonista interage com os acontecimentos do jogo.

Positivo:

  • Bom uso das personagens secundárias
  • Cenários alternativos acrescentam à história geral do jogo
  • Banda sonora
  • Protagonista é feito de uma forma interessante…

Negativo:

  • …que poderá não agradar a alguns jogadores
  • História fica com algumas situações por resolver

Mathias Marques
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