Análise – Black Widow

Depois de ficar praticamente dois anos ausente do mundo do cinema, o Marvel Studios regressa com a estreia da tão aguardada Black Widow (2021), dirigida por Cate Shortland e produzida pelo aclamado Kevin Feige. Embora tenha sofrido vários adiamentos consecutivos ao longo do ano passado, este título chega por fim às salas de cinema e simultaneamente ao serviço de streaming do Disney Plus, mas em acesso antecipado, com um custo adicional associado. Com a chegada de Spider-Man Far From Home (2019) o estúdio em causa tinha finalizado a terceira fase do colosso plano cinematográfico, posto em prática em 2016.

Com ele veio a trágica morte de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), que este filme pretende não apenas homenagear, como dar algum pano de fundo para eventos futuros do Marvel Cinematic Universe (MCU) que vão ocorrer nos próximos anos. À vista disto, o filme tem início algures após o desfecho de Captain America: Civil War (2016), onde a protagonista, por ter violado os protocolos de Sokovia e impedido Black Panther de capturar Steve Rogers, se vê perseguida pelo General Ross (William Hurt) e a sua equipa armada.

Sob este pretexto, Natasha é obrigada a exilar-se. Ainda assim, o filme desliga-se um tanto da temática de ‘heist movie‘ para trazer ao de cima, um argumento construído em torno da origem da protagonista, e relacioná-lo com um par de personagens a serem introduzidas. Para todos os efeitos há uma ameaça presente durante uma boa parte da história, mas não estando esta ligada aos eventos de Civil War e sim com uma “nova” figura do passado da espiã. Durante esta sua fuga, reencontra-se com Yelena Belova (Florence Pugh), as quais foram separadas dos seus pais adotivos, quando ainda eram crianças, com o propósito de serem treinadas e servirem enquanto black widows.

Yelena, que ainda trabalha sob a alçada do Red Room, encontra uma substância – Red Dust – capaz de quebrar o controlo, entre esta e a organização. Deste modo, agora com total livre arbítrio, leva este item à protagonista, sem saber que estaria a envolvê-la numa operação muito maior do que aquela que esperaria. Pois, uma figura de nome Taskmaster (muito conceituado nos comics) persegue ambas as espiã, almejando a tal substância valiosa, que poderá pôr fim a todo o esquema internacional de espiãs black widows, sob comando de Dreykov (Ray Winstone).

O resto da narrativa segue-se com muita ação à mistura, tendo a própria directora admitido que foi buscar inspiração a outros contemporâneos como James Bond e Mission Impossible, sendo esta influência bastante visível na edição e corte entre cenas. Enquanto filme, parcialmente, de ação cumpre a sua função, fazendo tudo «by the book», sem que haja alguma tentativa de inovar ou subverter o género. Por outra perspectiva, é também uma história de família, recheada situações dramáticas, emocionais, e até em certas ocasiões, com um leve revestimento de humor, já habitual da fórmula do MCU.

Quando tenta prestar atenção ao desenvolvimento das personagens, Black Widow (2021) consegue prender e sobressair-se face a outros filmes da galeria da Marvel. Neste sentido, outras personagens importantes para o enredo são aqui introduzidas pela primeira vez, tal como Alexei Shostakov vulgo Red Guardian (David Harbour), antigo herói nacional da União Soviética que se encontra numa prisão de alta segurança, assim como Melina Vostokoff (Rachel Weisz), ex-black widow, que trabalha enquanto cientista para Dreykov.

Por muito que a direção de Shortland faça um esforço para equilibrar as fortes atuações deste elenco ilustre, para todos os efeitos, David Harbour rouba a cena, sempre que está em tela. Seja pela sua presença exímia, seja pelo bom sentido de humor, o facto é que foi uma escolha acertada, encaixando-se perfeitamente naquilo que era pedido para a personagem. Contrariamente, e pensando eu que a Marvel estava a quebrar aos poucos o estigma de vilões fracos, como se viu com Thanos ou Killmonger, a verdade é que o par de antagonistas tem um desenvolvimento escasso e pouco trabalhado.

Não só, é dado pouco tempo de antena (pois grande parte da sua extensão é deixada somente para o terceiro ato da história) como também pouco é feito para que haja envolvimento com o espectador. E isto acaba por sobressair mais do que aquilo que deveria, pois havia aqui um grande potencial a ser explorado. Parece-me que, jogaram pelo seguro, ao encaminhar a construção destas personagens para um truque narrativo propositado, apenas para o ‘twist‘ cliché que, se avizinhava assim que Taskmaster surge pela primeira vez. Em especial, esta última personagem, que tem um grande peso dentro das próprias histórias da Marvel. Sendo de lamentar, que tenha sido desperdiçado da forma que foi, mas não irei entrar em mais detalhes para não estragar a experiência.

Seja como for, e regressando novamente ao elenco, devo dizer que, por si só, cada ator é bastante competente, mas em conjunto, e nos vários momentos que deixam as personagens interagir entre si, foram, no geral, dos melhores momentos do filme. Ainda nos aspectos positivos, devo admitir que os efeitos especiais não desiludem, mas não surpreendem, um pouco como as cenas de ação, como referi antes. No entanto, não deixa de ser agradável ver este tipo de sequências em execução, depois de tanto tempo com sem a aura da Marvel nas salas de cinema (sendo esta a forma que recomendo a verem o filme).

Não esquecendo também, que a Shortland tinha em mãos um projecto emaranhado, isto porque, apesar dos fãs desejarem uma homenagem condizente para a primeira vingadora do MCU, a dura verdade é que chegou fora de tempo. Não me refiro aos atrasos provocados pela pandemia, pois como é natural, isso é justificável. Mas sim, porque caso este filme tivesse sido lançado antes de Avengers: Endgame (2019), a morte da personagem teria outro peso, outra expressividade, que nestas circunstâncias não tem.

Um filme de origem/prequela que dá a conhecer o passado de uma dada personagem, geralmente, é feito com o intuito de criar empatia e ligação com o público, para que, caso seja levantado um certo pico emocional/dramático, este tenha o impacto certo. Aqui, é notório, que a experiência encaminha-se para justificar a presença de Yelena, a longo prazo no MCU, e isso fica ainda mais óbvio com base na cena pós créditos, que por sinal, é muito satisfatória e apropriada com o universo das séries do Disney Plus.

Em todo o caso, o filme irá, com certeza, ser mais proveitoso para quem gostou da narrativa de Captain America: The Winter Soldier (2014), visto que vai buscar os mesmos elementos de espionagem e ação (curiosamente, tem também um antagonista mascarado a perseguir, em boa parte da história, os protagonistas). Destaco, em particular, a última fatia do filme que consegue entregar toda uma sequência de cenas, carregadas de adrenalina e lutas bem coreografas, do início ao fim. Até porque os efeitos especiais, e aproveito para falar do tão presente CGI neste tipo de filmes, que aqui é suficiente e está bem enquadrado na tela, sem causar estranheza.

Black Widow (2021) consegue cumprir tudo aquilo que se propôs a entregar: muita ação e dando as últimas peças do passado da protagonista. Destacando-se o brilho extra, presente na impactante prestação do elenco, tal como a personagem de Florence Pugh, para quem o futuro no MCU parece ser bastante prospero daqui em diante. Embora, esteja longe de ser a melhor atuação da carreira Scarlett Johansson, também ela sabe jogar com o pendor da nostalgia do público, ao sabermos que esta é a sua última aparição. Por isso, e como um todo, não deixa de ser mais um filme recomendado da Marvel, em especial, quem é fã da personagem.

Positivo:

  • Elenco;
  • Última homenagem a Natasha;
  • Interação entre as personagens principais;
  • Cenas de ação;
  • Prestação de David Harbour;
  • Clímax;
  • Porta de entrada para Yelena no MCU;

Negativo:

  • Perde o impacto que poderia ter tido, se tivesse sido lançado antes de Avengers: Endgame;
  • Fraco aproveitamento dos antagonistas;
  • Taskmaster fica muito aquém do esperado;

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