Após o grande sucesso crítico e até mesmo comercial de Ex Machina, um dos melhores filmes dos últimos anos (no mínimo dentro da ficção científica), Alex Garland regressa ao papel de realizador em Annihilation. Devido a problemas com a distribuidora Paramount, o filme foi relegado a um lançamento internacional no Netflix, o que podia ter acontecido por este ser um fracasso como outros que foram para lá diretamente.
Felizmente, foi apenas por não ser tão acessível ao público geral como a Paramount desejava. É mais um sucesso de Garland e fico com pena de não ter tido a oportunidade de o ver no cinema.
Baseado no primeiro livro de uma trilogia de Jeff VanderMeer, Annihilation começou a ser escrito antes do lançamento dos livros seguintes. Apesar de alguma ambiguidade pairar sobre certos elementos da narrativa, tem um final bem definido e conclusivo, pelo que dá para perceber que não há intenções de adaptar as sequelas.
É um thriller de ficção científica com alguns excelentes nomes no elenco. Natalie Portman desempenha o papel principal, Lena, uma de várias cientistas que se aventuram por uma zona misteriosa chamada Shimmer onde desapareceram inúmeras pessoas em expedições anteriores. Esta área é afetada por um fenómeno desconhecido sobre o qual o grupo pretende aprender.
O resto da equipa é interpretado por Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Tuva Novotny, enquanto que Oscar Isaac e Benedict Wong ficam com os papeis secundários de Kane, o marido de Lena, e Lomax, outro cientista.
Natalie Portman faz um bom trabalho no papel mais complexo do filme e Jennifer Jason Leigh e Tessa Thompson também se encontram em destaque, a última numa interpretação bastante comedida que tanto é adequada como diferencia a sua personagem das outras. A narrativa explora temas como auto-destruição, mudança e transformação.
O filme anda para a frente e para trás no tempo ao longo da sua duração, com um interrogatório ocorrido após a missão a ser exibido logo desde o seu começo. Estas cenas criam expectativas para o que vem a seguir sem nunca revelarem demasiado, enquanto diversos flashbacks vão acrescentando profundidade a Lena e Kane.
No entanto, o foco da narrativa é a expedição e os acontecimentos que a antecedem. É durante esta que ocorrem os melhores momentos, incluindo uma sequência intensa que podia fazer parte de um filme de terror e um final espetacular, com 20 minutos inesperados e impressionantes. Pelo meio encontram-se um ou outro diálogo que não soam completamente naturais, mas que não incomodam em demasia.
É também dentro do Shimmer que se encontram os visuais mais interessantes do filme. Vários cenários são compostos por natureza e edifícios vazios, rodeados e cobertos por plantas e vestígios de acontecimentos passados. Alguns elementos que lá se encontram são muito bem feitos e contribuem para a invulgaridade destes locais, incluindo um corpo deformado de uma maneira muito singular e certas plantas.
A iluminação e alguns leves efeitos visuais podem tornar o ambiente criado um pouco estranho ou quebrar a imersão nos primeiros minutos, mas acabam por deslumbrar e diferenciar de maneira eficaz aquele espaço. O trabalho de som é excelente, nomeadamente nos efeitos sonoros utilizados em certas cenas e na banda sonora dos compositores Ben Salisbury e Geoff Barrow (dos Portishead), que conta também com duas ou três músicas licenciadas.
Annihilation merece ser visto e é um dos destaques da ficção científica de ultimamente. Alguns momentos podem ser demasiado estranhos para alguns espetadores, mas o filme equilibra bem a acessibilidade com os seus aspetos mais experimentais, nunca chegando a ter, por exemplo, a lentidão de Stalker (1979), com o qual já foi comparado. Uma abordagem mais próxima desse excelente filme também deveria resultar, mas, apesar de certos pontos em comum no guião, Annihilation tem um estilo bastante diferente.
Um filme a não perder para fãs do género, com um final que deve ficar na memória da audiência, goste-se ou não.
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