Análise – Time and Eternity

Nos tempos que correm, e mesmo depois de Ni No Kuni ter provado que os RPG japoneses ainda podem ter relevo no mundo ocidental, continuo a notar que existe um estranho bloqueio a jogos de RPG orientais menos famosos ou com aspecto mais cliché.

Pois bem, antes de começar a analisar Time and Eternity, fui vendo algumas análises que iam sendo lançadas e a realidade parecia pouco motivadora. Ia ter de analisar um jogo que pensava que podia vir a ser bastante positivo, mas que estava a ser realmente destruído em praça pública.

Nestas coisas há ver para crer e já não seria a primeira vez que gostava de um jogo que outros sites tinham odiado (a minha memória vai ao encontro de Alpha Protocol).

Time and Eternity tem todos os elementos que podiam fazer dele um bom ou um mau jogo, e curiosamente, estes elementos conseguem realmente cumprir o seu objectivo, sendo um jogo que no geral, fica perto do meio da linha.

Neste RPG tipicamente japonês são um rapaz ao qual podem dar o nome que quiserem, este rapaz está prestes a casar com Toki, a heroína do jogo, porém, o dia do casamento não corre como seria de esperar e a nossa personagem é assassinada. Pertencendo a uma linha real com poderes, Toki liberta o seu alter-ego, Towa, a qual consegue viajar no tempo. Toki/Towa e a personagem principal retrocedem seis meses no tempo e pelo caminho o rapaz fica preso no corpo do dragão de Toki.

Apesar de parecer confuso, a história é bastante simples e fácil de perceber. Toki (cabelo rosa)e Towa (cabelo loiro) são duas personalidades totalmente distintas que habitam o mesmo corpo, mudando a cor do cabelo cada vez que uma está presente. Toki é firme e amável, enquanto Towa é determinada e corajosa, as duas donzelas decidem que a única forma de salvar o seu casamento, é ao descobrir quem planeou o ataque.

Isto leva-nos numa aventura algo curta para os padrões comuns de um RPG (cerca de 15 horas sem incluir missões secundárias), mas que oferece a possibilidade de tomar decisões e ver até três finais diferentes.

Time and Eternity está dividido em dois segmentos distintos que se complementam. Existem momentos de conversa, exploração da cidade em formato de mapa mundo e entrada em zonas que podem explorar livremente e combater. A sequência normal passa por ter uma conversa em casa de Toki com as suas amigas para decidir o que devem fazer de seguida, ou saber mais sobre os objectivos, missões secundárias ou extras que costumam envolver bastante fan-service.

O mapa mundo é percorrido através de pontos de interesse como num mapa em papel, mas ao visitar as zonas de missões, aqui já podem controlar Toki/Towa de forma típica, investigando o cenário e percorrendo cada uma destas áreas como quiserem com uma visão tridimensional.

Os combates de Time and Eternity são iniciados ao estilo dos RPG mais antigos, ou seja, após X passos, surge um inimigo aleatório que é combatido numa arena fechada. Embora não seja um RPG por turnos, o combate faz lembrar os clássicos do género. Para atacar a curto e longo alcance precisam de premir apenas um botão, deixando todos os outros para as habilidades que vão desbloqueando. Quando os inimigos atacam, realizam uma série de movimentos que precisam de perceber para poderem desviar de cada um ou defender caso seja impossível. Tudo isto decorre em tempo real e embora pareça complicado a início, não o é.

Cada vez que evoluem um nível (ou através de um certo item) Toki ou Towa cedem o seu lugar. Mesmo que ataquem de formas semelhantes, as duas raparigas são peritas em estilos de combate diferentes, enquanto Toki é melhor em ataques de longo alcance, Towa é melhor em ataques de combate corpo a corpo, o que confere maior estratégia a cada combate. É verdade que li muitos a dizer que este sistema era confuso e os ataques pareciam aleatórios, mas tenho a dizer que comigo isso passou após uma ou duas horas de jogo (e foi facilitado com muita experiência em Dark Souls).

Apesar de não ter uma quantidade massiva de missões secundárias que durem muito tempo a concluir, Time and Eternity oferece uma série de coisas para fazer, onde até nem faltam momentos para interagir com Toki e Towa em diversos cenários que aumentam a compreensão ou amor de cada uma das duas.

O mais problemático do combate e exploração é mesmo a extrema repetição de inimigos e cenários. Na realidade, quase todos os cenários parecem cópias dos anteriores, embora com maior extensão e céus com cores diferentes e inimigos que se repetem de zona para zona, mas que sofrem da mesma mudança de cor para indicar que são de um elemento específico ou que são mais fortes. Isto leva a que os próprios combates sejam igualmente repetitivos com este inimigos re-utilizados que utilizam sempre os mesmos ataques. Por isso recomendo que façam alguns intervalos entre combate e missões para não se tornar aborrecido demasiado depressa.

Outro problema que me deparei e já não é o primeiro jogo onde acontece, é a carga de diálogos que é tida durante os combate. Com toda a acção a decorrer, barulho dos ataques e a música, é difícil conseguir tirar os olhos do combate para ler as legendas ou ouvir o que as personagens estão a dizer. Outro problema semelhante é a ausência de um botão de Pause para os diálogos, que continuam a correr mesmo que subitamente algum familiar entre a falar pela divisão a dentro.

Já que falamos nos diálogos, confesso que não fiquei desagradado com as personagens e momentos altamente perversos, mas por vezes Time and Eternity consegue ser repetitivo, enfadonho ou até mesmo demasiado infantil, como uma criança que não sabe como se deve comportar consoante o ambiente que o rodeia, o que é uma pena, pois a maioria dos diálogos e acontecimentos estão ao nível das expectativas dos fãs de anime e RPG no geral.

No que toca ao visual, é claro que a Imagepoch tentou criar o primeiro Anime de acção jogável, mas isto traz consigo coisas boas e más. Quando tudo está parado, parece que estamos a ver uma imagem retirada de um Anime, o problema são os movimentos repetitivos e pouco fluídos das personagens. As animações são poucas e feitas vezes sem conta e a maioria dos cenários não tem muito detalhe. Quanto ao desenho das personagens em si, o resultado é bom e está ao nível das grandes produções da actualidade em Anime.

A banda sonora é boa, embora sofra por ser utilizada imensas vezes nos mesmos sítios sendo repetida até à exaustão. Quanto às vozes, fiquei positivamente surpreendido pela versão inglesa, embora seja notório que os actores de voz demoraram a apanhar o espírito do jogo e a perceber que as personagens não eram tão idiotas como parecem a início (principalmente o personagem principal que fica no corpo do Dragão). As vozes japonesas também marcam presença e têm bastante qualidade como é costume.

Apesar de todos os erros e problemas, gostei mais de Time and Eternity do que as primeiras impressões faziam crer. Não me aborreci realmente durante as minhas sessões de jogo e a minha veia de fã de RPG sentiu imediatamente o “guilty pleasure” que surge em alguns jogos mais fracos que ficam longe da perfeição, mas que conseguem manter o interesse.

Basicamente, se gostam de Anime e RPG, não se preocupam com personagens estereotipas, fan-service forçado e algumas situações mais infantis, então Time and Eternity é um jogo que não perdem muito em experimentar. Pode ser um razoável em nota, mas está mais próximo do Bom do que do Fraco.

Positivo:

  • Arte faz com que pareça um Anime em movimento
  • Combate interessante que funciona
  • Toki e Towa são personagens carismáticas
  • Boa composição musical
  • Podem jogar com vozes em inglês ou japonês

Negativo:

  • Animações arrastadas e pouco variadas
  • Cenários e inimigos repetidos em demasia
  • História curta para um RPG
  • Muitos diálogos e fan-service forçados
  • A primeira hora de jogo é dolorosa
Daniel Silvestre
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