Análise – The Last of Us

A Naughty Dog já tinha dado cartas por várias vezes ao longo da geração passada  mas foi na PS3 que o estúdio atingiu um dos patamares mais elevados da indústria, tendo recebido inúmeros prêmios pelo seu trabalho na série Uncharted.

Agora que está a chegar uma nova geração e as atenções começam a ficar cada vez mais voltadas para a PS4 e Xbox One, a Naughty Dog resolveu fechar com chave de ouro os seus trabalhos na PS3 com The Last of Us.

Depois de 3 jogos de Uncharted, a Naughty Dog podia ter jogado pelo seguro e continuar a história de Drake ou trazer de volta Jak and Daxter, mas o novo projecto está bem longe de qualquer um dos anteriores, embora esteja bem perto dos mesmos.

The Last of Us é o retrato de um mundo apocalítico imaginado pela Naughty Dog, um mundo onde uma doença fúngica toma controlo dos seres humanos, transformando-os num tipo de Zombie, ou como o estúdio prefere que sejam conhecidos, Infectados.

A história arranca 20 anos depois do início da pandemia, onde muito do que conhecemos foi deixado ao abandono e onde os seres humanos vivem em zonas de quarentena isoladas do mundo exterior, sendo que os que restam, lutam pela sua sobrevivência contra os salteadores ou Infectados em todo o estilo de evoluções.

No centro desta aventura está Joel, um homem marcado por uma tragédia que podemos viver nos primeiros momentos de jogo. Joel é tão frio como o mundo que o rodeia e faz tudo o que é preciso sobreviver, não existindo conceito de bem ou mal, isto até ao aparecimento de Ellie, uma rapariga que este precisa escoltar num dos seus muitos trabalhos sujos.

A história de The Last of Us é boa, está bem escrita e é credível. Ao longo dos vários momentos de jogo, Joel e Ellie começam a perceber cada vez melhor o seu colega de viagem e é interessante ver como a atitude de desconfiança entre os dois desaparece para dar lugar à amizade e o sentimento de segurança familiar.

Embora Joel seja visto como a personagem principal da aventura, na realidade Ellie é para mim o melhor ser humano do jogo. Apesar da sua idade, esta é uma criança forte e determinada que se sente atraída pelo mundo que nunca viu e pelo passado que ficou enterrado com o início da pandemia. Embora sejam duas personagens que evoluem ao longo do jogo, Ellie é claramente a mais forte e determinada e é por ela que me senti tentado a continuar o jogo.

O jogo está dividido em vários capítulos o que resulta numa campanha bastante longa e recheada de localizações diferentes, porém, a Naughty Dog podia ter feito um esforço adicional para tornar algumas secções menos previsíveis. O jogo segue um registo bastante linear com acontecimentos que são vistos a léguas. Se chegam a uma zona aberta com muito onde se podem esconder, é natural que vai existir um tiroteio e se por ventura são separados de Ellie e caem para um buraco escuro ou uma cave pouco iluminada, é mais que óbvio que os infectados irão aparecer mais tarde ou mais cedo.

Aproveitando o motor de jogo de Uncharted, The Last of Us torna a jogabilidade mais pesada e rígida para mostrar que as personagens não são tão treinadas ou versáteis como Nathan Drake. Disparar ou combater é sujo e desajeitado, a personagem tropeça ao correr em direcção a um inimigo que o tenta atacar com um bastão e o impacto das balas projecta Joel para trás.

As sequências de plataformas e exploração são muito mais “humanas” e Joel não consegue trepar ou puxar objectos que vão além do limite de um humano comum. As balas e armas são um bem escasso que precisam ser preservadas e apenas usadas em casos de necessidade, criando maior pressão e dando pouco espaço para que o jogador se arme em herói.

Os combates entre humanos e Infectados são bastante diferentes e exigem abordagens distintas. Os humanos agem normalmente em grupo e tentam flanquear a personagem, usando cobertura sempre que possível. Os Infectados por seu lado atacam frontalmente e sem se preocupar com a sua integridade física, correndo directamente contra uma arma sem pensar nas consequências lógicas. Curiosamente, as sequências com humanos são francamente melhores que as que envolvem infectados pois o ser humano consegue ser bem mais macabro e interessante que qualquer Clicker.

A dificuldade do combate aumenta com todas as variações tradicionais dos videojogos. Se agirem de forma furtiva e conseguirem eliminar o maior número de inimigos, a tarefa pode ficar mais fácil, mas quando o jogo exige terão de enfrentar os inimigos frente a frente, Se os humanos ainda temem uma arma, os infectados atacam todos ao molho com a presença dos perigosos Clickers, infectados em fase de mutação avançada que conseguem matar apenas com um golpe.

The Last of Us não é um jogo fácil e consegue ser frustrante mais vezes do que seria necessário. Eu joguei a campanha em Normal e por mais que uma vez pensei que o jogo estava a ser injusto com as hipóteses oferecidas, obrigando a repetir combates longos contra uma enchente de inimigos realmente grande. Uma destas situações surge até bastante cedo no jogo, altura em que o jogador está pouco preparado para oferecer resposta.

Outra coisa curiosa em The Last of Us é a criação de objectos que podem fazer em tempo real. Uma garrafa com álcool e um trapo produzem um Cocktail Molotov, enquanto a mesma garrafa e adesivo produzem um Kit de primeiros socorros com o qual recuperam vida. O mundo de jogo está recheado (em quantidades simpáticas) de peças e objectos que podem usar para criar armas, melhorar as vossas ou aumentar as capacidades de Joel. Além disso vão descobrir depressa que um tijolo ou uma garrafa são algumas das melhores armas que existem à face da terra.

A campanha pode ser terminada em cerca de 15 horas, mas é certo que muitos vão querer repetir a aventura, pois existe muito para coleccionar e troféus para fazer, além de um New Game + que permite continuar a utilizar grande parte do que já ganharam na primeira passagem.

Além da campanha, tal como acontece com Uncharted, a Naughty Dog criou um modo competitivo/cooperativo Online para poderem depositar algum tempo extra em The Last of UsEste modo online não é bastante vasto e as opções de jogo não são muitas, sendo baseado num sistema de equipa onde escolhem uma facção e jogam num de dois modos de jogo, onde precisam de vencer a equipa adversária que pertence à facção rival.

A parte mais interessante deste modo online é a influência que cada partida tem na vossa facção. A vitória assegura a sobrevivência de mais membros e a utilização racionalizada de objectos úteis significa que a vossa tribo estará preparada para subsistir por mais tempo.

O modo online é bastante interessante e consegue de certa forma manter a pressão da campanha, pois criam a vossa identidade e fazem parte de um grupo que depende da vossa prestação. De qualquer forma, não é um online que esteja ao nível do de Uncharted, o qual é bastante mais rápido e divertido.

Quanto à vertente visual, todos sabem que a Naughty Dog é eximia a criar mundos detalhados naquele que é um dos melhores motores gráficos desta geração. Podem contar com cenários altamente pormenorizados e um trabalho fantástico na caracterização, figura física e expressões faciais de cada personagem e infectados.

O visual sofre apenas um ligeiro rombo quando jogado online, e existem inúmeros bugs e glitches em cada um dos modos de jogo, como inimigos que não conseguem ver os NPC que nos acompanham mesmo que passem à sua frente, mas é um mal menor num trabalho que posso apelidar de fantástico no geral, seja pelos modelos de personagens, trabalho de luz, ou cenários abandonados e reclamados pela natureza.

O mesmo é possível dizer da componente sonora. A banda sonora e trabalho vocal são realmente bastante bons e conseguem ser superiores a grandes clássicos do cinema. A banda sonora criada com a ajuda de Gustavo Santaololla consegue conferir um ambiente tanto pesado como descontraído, encaixando bem na maioria das situações. As vozes são realmente boas, assim como a sua interpretação, que beneficiam em parte de um argumento igualmente forte e bem escrito.

Uma nota positiva vai também para os sons criados pelos infectados, especialmente dos Clickers. São gritos e barulhos bastante característicos que permitem reconhecer cada um dos inimigos que estão na área que vamos explorar além de ajudar a criar um enorme desconforto no jogador.

Agora chega o momento da verdade onde faço a separação do crítico e do jogador. Como crítico e com uma visão geral sobre The Last of Us, este é certamente um dos melhores jogos desta geração e um trabalho que merece ser uma referência durante muitos anos. Porém, como jogador, não consigo dizer o mesmo. The Last of Us sofre de muitos dos problemas que outros jogos sofrem, como linearidade e repetição de obectivos (algo que sucedeu recentemente com Remember Me por exemplo) e não foi criticado por isso na grande maioria das análises já publicadas.

Além disso, ainda temos o final. Se para a maioria o final é um dos melhores de sempre, para mim é dos mais desapontantes que já vi e fez com que ficasse realmente irritado com The Last of Us. Estava longe do que estava à espera e não só não me identifiquei com o mesmo, como ainda me fez sentir que estive a perder o meu tempo. Como é natural, isto é apenas a minha opinião pessoal e como depende de gostos, não posso descer a nota final por este motivo, mas nada me impede de o deixar aqui bem claro.

Feitas as contas, The Last of Us é um jogo facilmente recomendável, pois é um dos grandes jogos deste ano e desta geração. Preparem-se para um jogo e história pesada bem diferente do que já jogaram, mas que ao mesmo tempo parece bastante familiar.


Vejam também a nossa análise em vídeo a The Last of Us!

Positivo:

  • Ambiente e mundo credível
  • Campanha longa
  • Argumento bem escrito
  • Bons diálogos
  • Evolução de personagens
  • Ellie

Negativo:

  • Bugs e glitches
  • Linear
  • Previsível
  • Final da história
Daniel Silvestre
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34 Responses

  1. mart88 diz:

    Para mim o que me fez mais confusão foi só terem usado meia duzia de ideias para resolver os puzzles do jogo (escada, gerador, placa de madeira, caixote do lixo e pouco mais) a IA podia ter um bocado de mais trabalho, mas é talvez dos melhores jogos desta geração e um dos melhores a contar uma historia (embora previsível para quem gosta de filme, livros e séries de zombis).
    Tanto o Joe como Ellie são das personagens mais reais que já vi e os ambientes muito bem desenhados, dando nota 5 a parte do inverno e o principio do capítulo final (quem passou deve saber do que falo)

    • Daniel Silvestre diz:

      Sim eu sei do que falas 🙂

      É verdade, a variedade de puzzles e escolhas de caminho podiam ser bem maiores.

      Cumprimentos!

  2. LFO diz:

    Bem estou ancioso por jogá-lo, apesar de já…koiso x), irei comprá-lo apenas para o ano, já que neste apenas só tenciono comprar apenas mais 2 jogos, X/X-2 e Batman (para além dos 2 que já tenho encomendados, Ni No Kuni e KH 1.5 Remix).

    Este tipo de jogos em que temos de levar a rapariga indefesa de ponto A para ponto B, faz-me lembrar Enslaved (outra grande experiência desta geração). Am I right???

    Estava à espera que falasses de outras personagens, tipo a Tess, que fui das que mais me chamou à atenção, mulher de armas 😀

    “As vozes são realmente boas, assim como a sua interpretação”
    Excepto a versão Portuguesa xD vi o trailer e fiquei horrorizado :/ Salva-se a voz da Ellie( Joana Ribeiro) pareceu-me a melhor.

    Daniel que MP preferis-te: Este ou o do Ascension??? Apesar de ter Ascension desde o dia de lançamento, só joguei o MP uma vez, e pode dizer que curti milhões, toda aquela mecânica de combater numa arena, com objectivos a cumprir, e com teamfights fez-me lembrar League, o que só por si já foi bom.

    Para a próxima geração só temos é a esperar coisas fenomenais por parte da ND e tb da Santa Monica, pois ainda não anunciaram os seus próximos projectos. Eu queria muito um Uncharted 4 e um God of War IV, mas se forem novos IPs tb não me importo, desde que a qualidade se mantenha claro.

    PS: Keep up the good work 😉

    • mart88 diz:

      Tanto a Ellie e a Tess e outras personagens que aparecem são indefesas como noutros jogos tendo um papel mais activo (exemplo de comparação com a Elizabeth do Bioshock) podendo deixar os jogadores admirados com algumas da situações. Um ponto chave é talvez a abertura do jogo que merece ser vista

    • Daniel Silvestre diz:

      Como eu gosto de Enslaved. É bom saber que não sou o único 🙂

      Tentei evitar falar muito das personagens secundária para não criar spoilers ou revelar algo antes do tempo. Aliás, falo sempre pouco da história para spoilar ao mínimo 😉

      Quanto ao MP, prefiro este sem dúvida, o do GOW não só era pouco diversificado como não oferece grandes consequências como este.

      Cumprimentos e obrigado!

      • João Barata diz:

        Enslaved! Dos melhores jogos que joguei nesta geração. Adorei a experiencia, apesar do combate ser um pouco repetitivo, er bastante divertido. Já tenho o the last of us, mas ainda não tive oportunidade de jogar, por causa dos exames. Mais uns tempos e vou por as minhas mãos nesta pérola.

  3. Drakath diz:

    Primeiramente quero dar os parabéns ao Daniel pela análise. Muito bem feita, sem spoilers e o mesmo vale para a videoanálise.

    Quanto ao jogo infelizmente ainda não o tenho, mas pelo que joguei da demo agradou-me imenso. É do mais realista que há, com atenção aos mais pequenos pormenores.

    A banda sonora para mim é das melhores que já ouvi, e ainda bem que escolheram Gustavo Santaololla para esse trabalho.

    Fico contente por saber que tem uma campanha ainda com umas boas horas de jogo, e uma história que me deu a entender ser muito boa (ao contrário da série Uncharted, que para mim apesar de serem bons jogos pecavam um pouco na quesito história)!

    O modo online pelos vídeos que vi não me pareceu ser nada de especial mas deve proporcionar mais umas horas de jogo para quem já completou a campanha.
    Fico desiludido só por ver que o jogo é previsível, mas no geral pelo que posso ver vai ser dos melhores jogos deste ano e quem saiba até desta geração.

    Quando acabar os meus exames este jogo vem de certeza cá para casa, e mais uma vez boa análise.

    • Daniel Silvestre diz:

      Well tnks!

      A campanha é bastante longa e acaba quando começa a parecer demasiado longa.

      A previsibilidade depende da experiência do jogador. Quem raramente joga jogos pode não sentir o mesmo.

      Cumprimentos!

    • Nirvanes diz:

      Cool também conheces os trabalhos do Gustavo Santaolalla? =) O Kanudo deu-me a banda sonora pela PSN é linda! Sou grande fã dele na trilogia de filmes do Inarritu!

      E também concordo contigo quanto ao Uncharted… muito bom tecnicamente mas de resto meh. História incluida. Este era mesmo aquilo que queria da Naughty Dog.

      • Drakath diz:

        Vou ser sincero, muito pouco sabia dele antes deste jogo. Mas depois de ouvir a banda sonora comecei a pesquisar mais sobre ele e adoro a música que faz! Acho que não podiam ter escolhido ninguém melhor para o trabalho!

        • Nirvanes diz:

          Mais vale tarde do que nunca! Eu já gostava dele antes, quando soube disto achei o mesmo… não havia mesmo alguém mais indicado para o trabalho!

  4. André O Maior diz:

    Parabéns pela análise.
    Este é o meu estilo de jogo, ou seja, é obrigatorio para mim 🙂

  5. Ruben Correia diz:

    É muito bom mesmo este jogo dos melhores que a ps3 pode oferecer, é verdade que é um bocado previsível no que toca a puzzles mas em certas partes a dificuldade compensa, falando nos clicadores em sobrevivente 😀

  6. Marco Correia diz:

    boa analise………….MAS…………QUANDO………CHEGA………..O………….MEU……..JOGO!!!!! xD

  7. marceloo447 diz:

    Parabéns Daniel, para mim a tua melhor análise!

    Adorei este jogo do princípio ao fim, as personagens são riquíssimas e as suas ações e a sua forma de ser causa um impacto no jogador tremendo (pelo menos a mim causaram). Acho que o que faz este jogo ser tão grandioso são as personagens e atmosfera.
    A história está muito boa e há momentos que são simplesmente mágicos como o início da parte da Primavera.

  8. Nirvanes diz:

    Excelente análise e excelente jogo! Que pena não ter ganho aqui… estou a participar noutro passatempo com um vídeo, se ganhar será a minha próxima prioridade jogar Last of Us 🙂

    • onshowon diz:

      nirvanes o tempo é muito relativo, depende muito da forma como jogas. eu tenho optado por evitar ao máximo os tiroteios e tenho preferido matar tudo pela calada, isto aliado ao facto de que tenho explorado todos os cantos dos cenários em busca peças e materiais materiais para armas (entre outras coisas) aumentou consideravelmente o numero de horas do jogo. Vou em cerca de 22/23horas e estou agora a chegar ao fim do jogo, comparando com o uncharted 3 que terminei a semana passada em 8horas de jogo é uma grande diferença.

      Já agora, como é que te podemos ajudar a ganhar esse concurso?

      • Nirvanes diz:

        Ainda bem, isso é óptimo. Eu vou jogar em dificuldade média, não quer um GRAAANDE desafio… eu gosto mais da viagem em si. Mas também não quero jogar tudo à pressa vou querer explorar um pouco. Por isso entre 15h e 20h deixa-me muito contente. Era mesmo uma longevidade dessas que eu queria para este jogo!

        Nada porque é o pessoal da redacção que decide, mas se quiseres mostrar a pessoas que possam estar interessadas ou tenham jogado o jogo ou partilhar com amigos sei lá, não pode fazer mal nenhum 🙂 Thanks

  9. RaBloodWings diz:

    Boa analise!
    Mas tem um error.
    Um jogo ser linear nao e algo necessariamente negativo, alias, o Half Life 2 e um jogo espetacular e e linear!

  10. Silver4000 diz:

    Oh bem… estou a ver que para poder comentar preciso de jogar primeiro desta vez…

  11. Darks diz:

    Excelente análise, Daniel!

    Estou muito ansioso para ter esta pérola nas minhas mãos. Na minha opinião, o GOTY será este jogo,ou Bioshock Infinite ou então Watch Dogs.

    Mais um excelente trabalho da Naughty Dog, a levar a PS3 ao máximo e a encerrar em grande o seu trabalho nesta geração.

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