Conhecem aquela sensação, de sair da sala de cinema, e ficar com a impressão de que de alguma maneira, o filme mudou alguma coisa em nós? Em Jack Reacher essa sensação não surge, nem pouco, nem mais ou menos.
Nos anos 90, apareceu uma vaga de filmes, na qual pouco importava a história, o enredo, ou se o protagonista era o Stallone, o Schwarzenegger ou o Van Danne. Na prática os filmes de acção eram copy/paste uns dos outros. Felizmente esse estilo cinematográfico foi ocupado pelos super-heróis, com efeitos especiais mais interessantes, cenas de acção mais arrojadas e com alguma profundidade no desenvolvimento das personagens. Deste turbilhão de acontecimentos, Tom Cruise foi sempre safando-se, oscilando entre filmes candidatos aos Óscares como Magnólia, Jery Maguire e Entrevista com o Vampiro, ou filmes para ver enquanto comemos pipocas, como a série de Missão impossível e os filmes realizados por Spielberg.
Jack Reacher é um passo atrás no tempo, que recua 20 anos na evolução cinematográfica dos filmes de acção, a história é genérica, as personagens esquecíveis e as cenas de acção escassas. Não há mistério, não existe suspense, as personagens estão estagnadas no mesmo registo do princípio ao fim e o climax é insuficiente.
O filme começa com um assassinato, um atirador furtivo, interpretado por Jai Courtney (que encarna Jack McClane, filho da personagem mítica de Bruce Willis, no novíssimo A Good Day to Die Hard), a eliminar seis pessoas aleatórias, que estavam a passear-se por um parque.
Depois de uma investigação que demora 5 minutos, numa edição com uma dúzia de planos, o suspeito é capturado. Um ex-militar chamado Barr, interpretado por Joseph Sikora, que serviu os Estados Unidos no Médio Oriente, como Atirador de Longo Alcance. A investigação seria um sucesso, caso não tivessem capturado o suspeito errado, Barr foi vítima de um esquema que o incriminou. Para encontrar os culpados é procurado: Tom Cruise… aliás Jack Reacher, que faz as coisas genéricas dos protagonistas dos filmes de acção. Jack anda por aí, apenas aparece quando quer, é um ex-militar, com experiencia e força acima da média, com poderes dedutivos e uma memória soberba…. E chama-se Jack! Como Jack Ryan, Jack Bauer ou Jack Harper.
A primeira metade do filme desenrola-se com as personagens interpretadas por Tom Cruise e Rosamund Pike a desvendar o que o público já sabe, que há uma empresa com negócios duvidosos envolvida, e a explicar verbalmente que Jack Reacher é um rufia. A primeira cena de acção, digna desse nome, acontece bem depois do intervalo, com uma perseguição de carros, na qual, tentando ignorar a edição sonora das derrapagens e dos ruídos dos motores, os carros não vão assim muito depressa.
O climax é, mais uma vez, genérico e insipido. Tom Cruise faz justiça com as próprias mãos, porque prefere esmurrar os malfeitores, no lugar de meter-lhes uma bala na cabeça.
Jack Reacher podia ter sido melhor, mas não foi, não tem o ritmo frenético de um Transformers, nem os momentos épicos de um Die Hard, o enredo da história é simplista, e quando complica, deixa buracos na história, que até uma criança de cinco anos, com espirito mais crítico, consegue identificar.
A realização de Christopher McQuarrie tem momentos bons, com planos interessantes e jogos de reflexos que identificam algum empenho e vontade. Mas a trama é tão idiota, que não havia muito por onde pegar. A direcção de fotografia é ok, e a edição sonora vai desenrascando o que não surge na imagem.
Do elenco principal há ainda a assinalar as prestações de Richard Jenkins (o pai genérico, que aconselha a personagem de Rosamund Pike a não envolver-se no caso), David Oyelowo e Robert Duvall.
Por fim, revelo um pedaço de humanidade, será que elaborar análises objectivas de filmes está a transformar-me num crítico frustrado e insuportável? Incapaz de desfrutar um filme, pelo que é? Entretenimento. É possível. Mas se Cloud Atlas tinha a desculpa de ser inovador e original, Jack Reacher tem filmes do mesmo gênero para comparação. Por isso, Jack Reacher recebe a nota que merece.
Pontos Positivos
- Rosamund Pike, uma actriz elegante, que comunica pelo olhar como poucos actores
- Robert Duvall, parece ser o único actor a divertir-se com a personagem
- Edição Sonora
- Perspectiva da mira, na cena dos assassinatos
- A carreira promissora de Alexia Fast
Pontos Negativos
- Personagem amorfa de Tom Cruise
- O ibjecto de desejo da empresa “malvada”
- O arco das personagens não existe
- O que é genérico, nem sempre é bom
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