Na entrada para o novo milénio, Hollywood decidiu simular, à viva força, o impacto de um cometa na crosta terrestre. Com o esgotamento do tema, surgiu a paranoia das pandemias virais, e o aperfeiçoamento da temática dos zombies, mortos-vivos com a capacidade para matar e propagar a condição híbrida.
Efectivamente, os zombies estão na moda, The Walking Dead é uma das séries televisivas mais populares em todo o mundo, os videojogos estão lotados com zombies (The Last of Us e Resident Evil) e o cinema já cria romances entre humanos e mortos-vivos (Warm Bodies). Posto isto, é uma missão heroica refrescar o conceito e proporcionar uma experiência diferente. World War Z perfilava-se como um candidato ao aperfeiçoamento da temática, Brad Pitt era o rosto da resistência dos seres-humanos e o trailer indiciava o planeta Terra como palco de batalha.
WWZ conta a história de Gerry Lane (interpretado por Brad Pitt), o genérico agente especial, retirado do ofício para dedicar-se a tempo inteiro à família. A reforma tinha tudo para ser perfeita, não fosse a propagação repentina de um vírus mortal, que aniquila os vivos e transforma-os em máquinas mortais, com apetite pela carne e transumísseis do vírus. A troco da segurança da família, Lane aceita voltar ao activo e descobrir a origem da pandemia.
Apesar de a história resumir-se a “Brad Pitt contra os zombies”, o elenco conta ainda com Mireille Enos, Daniella Kertesz, James Badge Dale, Ludi Boeken e Matthew Fox. Cada interpretação menos memorável do que a outra. Para agonizar a realidade de WWZ, os actores escolhidos para interpretarem os zombies, absorvem a postura genérica do morto-vivo cinematográfico (explorada até à exaustão).
O credenciado Marc Forster (Monster’s Ball, Stranger Than Fiction e Quantum of Solace) assumiu a realização, e propôs-se a contar uma história que ligava vários palcos de acção, capaz de traduzir o impacto social de uma pandemia desta magnitude, relatar visualmente o pânico e a dificuldade das massas, e a responsabilidade militar mediante uma catástrofe repentina.
A realização de Marc Forster não é mais do que desconcertante. O realizador não arrisca um milímetro nos movimentos de camara, contudo, elabora um trabalho notável na coordenação de centenas de figurantes. Forster está dotado de uma noção fantástica do comportamento humano, o que se reproduz nas cenas geradas por computador. A desgraça de Marc Forster reside na direcção de actores, o realizador nunca se entendeu no set com Brad Pitt e os zombies (quando aparecem em grande plano) roçam o cómico. Os efeitos visuais são interessantes e a direcção de fotografia consegue transmitir a sensação de temperatura.
WWZ falha de forma redonda nos requisitos mínimos de um filme com zombies. Não cumpre, sequer, a premissa prometida. Um das situações que pode ser explorada, numa história com zombies, é a possibilidade de colocar um personagem com a necessidade de aniquilar alguém por quem está emocionalmente ligado. Esta decisão não é só um dilema forte, mas um momento com profundidade emocional, uma decisão que transcende a simples necessidade de: matar ou morrer. WWZ não explora a dimensão emocional dos personagens e se trocassem os zombies por cavalos-marinhos com raios raios-laser amarrados à cabeça, o impacto da acção seria idêntico.
É impossível ignorar a sensação de traição, o filme prometia uma Guerra Mundial, com um protagonista capaz de tudo para proteger a família, mas Lane passa três quartos do filme longe da família (abrindo um plot alheio à trama e extremamente aborrecido). Para desilusão geral, a narrativa decide encolher o mundo para a conclusão final, sendo o clímax menos empolgante e perigoso do que todas as cenas anteriores.
Fica a certeza de que Brad Pitt é um excelente actor – tem o mérito de seguir em frente com o personagem e transmitir a sensação de arrependimento por ter concordado desempenhar o filme – e a surpresa pelo anúncio de uma sequela (talvez a receita mundial, de 112 milhões de dólares na semana de estreia, tenha ajudado a tomar esta decisão).
Curiosamente, o filme chegou a prometer bastante, inclusive, uma potencial redenção. O genérico é auspicioso, o enredo prometia copiar o estilo de Aliens 2, e levantou-se uma potencial origem mitológica dos mortos-vivos… mas naõ. Marc Forster decidiu não ir a jogo, apesar de ter dois ases na mão. Se calhar, aproveito eu a ideia.
Positivo
- Cenas de acção com muitos zombies
- Direcção de fotografia
- Efeitos Visuais
Negativo
- Desistência de Brad Pitt em relação ao filme
- Sub-Plots
- Final pouco climático
- Diálogos
- Personagens secundárias
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