Nos últimos dois anos, a NIS America e a Falcom realizaram a tarefa colossal de actualizar e lançar finalmente no ocidente alguns dos jogos da série The Legend of Heroes que estavam confinados apenas ao oriente. Pelo caminho foram lançados The Legend of Heroes: Trails from Zero e The Legend of Heroes: Trails to Azure e The Legend Of Nayuta Boundless Trails está ainda para chegar mais próximo do final do ano.
Caso não conheçam a série, pelo menos Zero e Azure eram essenciais para o grande jogo que se segue: The Legend of Heroes: Trails into Reverie. Este é o jogo mais recente e o último que junta as pontas com as personagens da saga de Cold Steel e os heróis de Zero to Azure. Embora possa ser jogado por quem nunca jogou os anteriores, este é um episódio feito a pensar em quem experenciou todos os anteriores e quem investiu em conhecer todas as histórias contadas até agora. Uma tarefa enorme, visto que são 9 jogos interligados com cerca de 50 horas para cada um.
The Legend of Heroes: Trails into Reverie tem lugar pouco depois de The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel 4. Contando aquilo que se segue para a maioria das personagens e dando a perceber aquilo que se segue e as ameaças que ainda pairam no ar. Por isso mesmo a história é jogada em momentos diferentes, havendo três histórias que vamos jogar, com foco em Rean, Loyd e C, que é a nova personagem secreta. Cada uma destas histórias é contada à parte, mas existem vários momentos em que precisam de mudar entre personagens quando as suas jornadas se cruzam.
A juntar a isto temos o Reverie Corridor, uma zona onde todas as personagens principais do jogo podem ser encontradas e recrutadas para a equipa, criando um pequeno exército que podemos escolher para fazer parte da nossa equipa e explorar esta zona mística que nos dá acesso a outros elementos e pequenas histórias. É uma boa forma de juntar todas as personagens e também abre caminho para descobrir alguns dos mistérios ainda por explicar e as ligações que ficam abertas para os próximos jogos.
Claro que o ponto central de qualquer jogo da saga Trails é a história e aquilo que podem retirar dela. Por isso mesmo podem contar à mesma com uma narrativa vasta, muito diálogo, exposição e caso queiram fazer aquilo que o jogo espera de vocês, falar com os NPC que habitam o mundo, descobrir as suas histórias, fazer missões secundárias que levam a perceber algumas das motivações menos centrais e tudo isto faz com que esta seja uma série com um dos maiores e mais espetaculares mundos vivos que podem encontrar em qualquer jogo, a ponto de “estragar” outros jogos do género que passam a parecer vazios de personalidade.
A exploração do mundo de jogo está dividida entre fases onde temos história, precorremos um caminho cheio de monstros até ao nosso objectivo e o sistema vai sendo repetido, a parte positiva é que embora alguns elementos possam parecer desconjuntados, tudo se une à medida que vão avançado na história. Claro que depois entra o outro ponto central do jogo, o qual passa por entrar em combate.
The Legend of Heroes: Trails into Reverie é um JRPG com combates por turnos onde cada personagem tem a sua vez. Ao contrário de outros, a arena de combate está dividida por espaços de grelha que representam a área de movimentação e também a de alcance de certos ataques. Isto faz com que as lutas tenham uma boa dose de estratégia, pois existem ataques que podem acertar em mais que uma personagem ou inimigo ou a distância entre personagens que pode impedir que exista alcance suficiente para atacar. Tudo isto joga a nosso favor ou contra, o que quer dizer que tanto os bons como os maus recorrem ao mesmo sistema, aumentando o nível de estratégia em grande quantidade e qualidade.
Para aprofundar ainda mais estes elementos, existem outras coisas que fazem os combates ficarem ainda mais estartégicos. Existem as artes e crafts que usam pontos de magia ou CP de combate. Podemos dar ordens à equipa que podem melhorar a defesa, o ataque, a magia ou até a possibilidade de fazer o inimigo entrar em estado crítico, dando ainda mais chances para inflingir dano sem correr o risco de sermos atacados. Os combates mais difícieis com bosses ou muitos monstros podem parecer partidas de xadrez no bom sentido e ser altamente recompensadoras no seu final.
Cada personagem está de certa forma indicada para um tipo de estratégia. Rean é um atacante nato, enquanto Tio utiliza muito mais magia e outros podem ser um misto de ataque e suporte. O facto de ser possível equipar Quartz (pensem em materias ao estilo Final Fantasy), equipamentos e gerir as suas habilidades faz com que um lutador também possa curar em emergências ou um suporte possa ter magias ofensivas. Tudo isto é importante de gerir, pois os inimigos têm fraquezas e resistências que podem ser aproveitadas caso a equipa esteja bem preparada.
Como é costume, existem imensas actividades extra para fazer. Além do Reverie Corridor ser praticamente um grande conteúdo extra, ainda existem vários mini-jogos, pequenas missões escondidas e a possibilidade de encontrar um final secreto. Existem vários tipos de dificuldade para jogar e aqueles que arrisquem a tentar os mais altos, podem sempre baixar a dificuldade durante os combates ou de forma global no menu.
Visto ser um jogo já com alguns anos (foi lançado no Japão para a PS4 em 2020) e ainda usar o motor de jogo antigo da Falcom (foi feita uma actualização para o lançamento dos novos jogos de Kuro no Kiseki), isto significa que The Legend of Heroes: Trails into Reverie é um jogo bonito dentro do contexto de um JRPG com visual Anime, mas já se notam algumas rugas do tempo, especialmente no que toca às transições entre alguns diálogos com fades estranhos e acima de tudo, em alguns movimentos muito mais robóticos das personagens, parecendo algo abruptos na forma como param ou abanam os braços (o abanar do braço em despedida ao estilo anime é um bom exemplo). Mas no fim de contas, jogá-lo na PS5 fez com que a minha experiência fosse óptima e sempre bastante fluída, especialmente relembrando e revisitando espaços que conhecia de outras andanças.
No que respeita a banda sonora, temos mais uma vez uma excelente composição musical, com regresso de clássicos e novas músicas. Depois temos as vozes em japonês e inglês, as quais têm ambas muita qualidade. Claro que quem jogou Azure e Zero vai estranhar as vozes da equipa de Crossbell por estas versões só estarem em japonês, no entanto, caso queiram jogar em inglês como eu fiz, os actores ingleses fazem um bom trabalho na vasta maioria dos casos. Só é pena que existam tantos diálogos, mesmo até importantes, com menos oportunidades de voz.
The Legend of Heroes: Trails into Reverie não é um jogo fácil de recomendar apesar de ser um dos melhores JRPG que podem jogar este ano. Apesar disso, também é um jogo que requer uma grande entrega prévia para aproveitar tudo o que têm no seu interior. Se são fãs da série, é absolutamente recomendado. Todos os outros vão encontrar aqui um JRPG de excelência e uma das maiores demonstrações de que o Japão continua a saber fazer JRPG como deve ser.
Positivo:
- Muito conteúdo
- Boa localização
- Combate cada vez mais recompensador
- Especialmente fluído na PS5
- Boa banda sonora
- Une grande parte dos pontos de história por terminar
Negativo:
- Motor de jogo com alguma idade
- Movimentos ainda são algo estranhos
- Complicado para quem não jogou qualquer saga anterior
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